1 de março de 2021

O agro precisa participar do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS)

O Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS) foi fundado em 2007 e, desde então, vem discutindo questões importantíssimas relacionadas à produção sustentável. O Grupo reúne produtores, indústrias de insumos, agroindústrias, setor de serviços, associações e sindicatos, organizações não governamentais, pesquisadores e empresas de varejo. Apesar dos avanços, as discussões começaram a “empacar” nos últimos anos. Esse período coincide com o alinhamento das ONGs em torno da CFA (Collaboration for Forests and Agriculture). As decisões não avançam e o setor ambientalista insiste na discussão do desmatamento zero, por efeito de lei. Os demais setores na mesa não discordam da agenda das ONGs, mas sim dos métodos propostos para se atingir o desmatamento zero. Há possibilidades que não passam pela rediscussão do Código Florestal. Um dos exemplos é o mercado de crédito de carbono. A solução seria mais eficiente e resolveria questões sociais ao mesmo tempo que se busca atingir a meta do desmatamento zero. O produtor tem uma área que poderia ser desmatada, por lei. Diante da possibilidade de manter a floresta em pé recebendo por créditos de carbono, poderia analisar o benefício/custo e vender os créditos preservando uma área ainda maior do que exigido por lei.

Ainda assim, o setor insiste em retomar discussões sobre o tema dentro de um fórum que não é adequado. O Código Florestal foi definido no congresso, em amplo debate que gerou uma legislação abrangente e rigorosa – a mais completa do mundo. Quanto mais tempo demorarmos para implementá-lo em sua íntegra, maior será o tempo para resolver as questões ambientais. Nos últimos meses, o GTPS dedicou tempo a discussões para tentar acomodar os interesses das ONGs. E elas não cedem. Mesmo depois de discussões longas e recorrentes, o tema sempre volta como se nunca tivesse passado por debate dentro do grupo. E esse é apenas um dos exemplos. Com isso, temas importantíssimos acabam sendo direcionados a outros fóruns que não reúnem tantos especialistas ou empresas do ramo, como o GTPS. É o caso do recente estudo sobre controle dos fornecedores indiretos. As próprias ONGs direcionaram a outro grupo em detrimento da mesa formada por especialistas e empresas que operam dia a dia com a compra de animais. Tem sentido? O presidente atual do GTPS, o produtor Caio Penido, tem insistido publicamente em um novo pacto ambiental dentro do grupo. Em reuniões, as ONGs dizem concordar com o pacto, que já foi assinado por outros setores, mas não há sequenciamento do tema. Sempre há um adiamento para decidir sobre questões simples. Uma delas é reforçar o compromisso com a legislação definida no congresso. Ora, é inacreditável que organizações com capital estrangeiro nem se constranjam em negar o comprometimento com a lei, definida pelo congresso em um país democrático. Os parágrafos acima podem sugerir um desestímulo com o grupo. Pode soar como uma crítica direcionada a evitá-lo. Mas é o contrário.

Justamente por ter participado entusiasticamente, vejo o GTPS como a grande oportunidade para discutir o tema. Mesas como essa são essenciais. E no caso da pecuária, ela está pronta. Portanto, seria produtivo que mais empresas do agro aderissem ao GTPS, participassem. O GTPS precisa de massa crítica, de mais gente disposta à produção intelectual, possibilitando grandes avanços nas discussões. É importante, é o futuro. Apesar do convite objeto deste texto, eu preciso anunciar o desligamento de minha empresa do grupo. Não se trata de uma contradição, mas sim do desfecho uma situação que não foi possível administrar internamente, justamente pela falta de participação mais ativa dos demais setores. Em 2020, por um enorme descuido de alguns participantes, foi criada uma situação constrangedora que logo em sequência acabou sendo somada a um posicionamento inadequado de um outro grupo, chamado Observatório do Clima. Esse grupo conta com a participação da maioria das ONGs que também fazem parte do GTPS. Diante dos acontecimentos, resolvi pedir que o grupo se comprometesse com dez condutas que julgo essenciais para a discussão de sustentabilidade. Aceitá-las era condição para que a Athenagro continuasse na mesa. Não foi a minha pretensão forçar que um grupo tão heterogêneo se adaptasse às minhas demandas.

Por outro lado, entendi que deveria usufruir da minha liberdade para decidir se continuaria ou não participando de uma iniciativa cuja conduta não condiz com as minhas expectativas. Pode parecer capricho, mas não é. Essa situação atrasa a discussão sobre temas relevantes e impede um protagonismo maior do GTPS em tais temas. Em junho de 2020, a discussão sobre as áreas de pastagens, levantadas aqui na Athenagro, trazia questões procedentes. Apontava inconsistências em relação aos números do IBGE e outras bases. Os argumentos foram apresentados com respeito e com embasamento em dados oficiais históricos. Ainda assim, parte do setor ambientalista preferiu tratar a argumentação como questão de “opinião”, além de se dedicar a desmoralização e constrangimentos. A atitude de intimidar os que questionam emburrece a discussão e dificulta a capacidade de se desenhar boas soluções. Os assuntos em discussão são sérios. Não podem ser conduzidos com essa leviandade pois acabam movimentando opinião pública e, consequentemente, embasando decisões políticas equivocadas. O resultado para a cadeia produtiva é financeiro, com impactos inevitáveis à sociedade mais carente. Por isso é fundamental que mais empresas e profissionais participem do GTPS. O fórum é adequado, está atuando há tempos. Mesmo que ainda existam pontos a serem melhorados, é melhor apostar no grupo do que iniciar outro do zero. A presença das ONGs no debate é fundamental. Enriquece a discussão e coloca o setor todo em alerta para que nunca cometa erros inadvertidos. A vigilância do setor ambientalista é importantíssima para que a produção sempre se aprimore na relação com ambiente, sociedade e mercado consumidor. As ONGs erram em não aceitar opiniões divergentes, em desqualificá-las. Participam e concordam com o debate, desde que todos sigam suas conclusões e recomendações. É uma questão de postura, de falta de amadurecimento. Não fazem por mal, mas sim pelo preconceito histórico de que estão lidando sempre com empresas e profissionais mal-intencionados. A única forma de solucionar é aumentar a participação, aumentar a massa crítica. Por isso, fica o convite para que conheçam e façam adesão ao GTPS.

Maurício Palma Nogueira é diretor da Athenagro.

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