O Antecipe é um sistema inédito de produção de grãos, em que é possível semear mecanicamente a cultura do milho nas entrelinhas da soja antes da colheita desta leguminosa. Para que isso se tornasse possível, 13 anos de pesquisa foram dedicados para geração de conhecimento para permitir que o produtor saiba como e o momento certo de utilizar a tecnologia, além do desenvolvimento de uma semeadora-adubadora que possa trabalhar neste novo modelo sem provocar danos às plantas de soja, garantindo que a produtividade não seja comprometida por competição ou mesmo pelo corte durante a colheita e o amassamento das plantas de milho provocado pelos pneus da colhedora durante a colheita da soja, também não comprometendo a produtividade do milho.
O que ocorre no sistema Antecipe com a cultura da soja? A tecnologia foi desenvolvida para não dificultar as operações na fazenda. Se o produtor resolver adotar o Antecipe em parte de sua área, até mesmo porque não é preciso antecipar toda a lavoura, não será necessário ajuste no espaçamento entre linhas. Isso só foi possível porque a semeadora-adubadora para o Antecipe foi desenvolvida para trabalhar nos mesmos espaçamentos que qualquer semeadora existente no mercado. Assim, se a soja é semeada no espaçamento de 50 cm entrelinhas, por exemplo, no momento da entrada da máquina para o Antecipe, o espaçamento do milho também continuará com 50 cm. Porém, para isso, alguns cuidados devem ser considerados:
Visto isso, é importante que os produtores possam entender que o sistema não visa a substituição tradicional do cultivo do milho safrinha. O Antecipe é uma tecnologia que objetiva reduzir o risco naquelas áreas da propriedade em que a semeadura tem sido realizada ao final da janela preconizada para cada região, definido pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) publicado pelo MAPA. Por isso, o planejamento da cultura da soja para o uso do Antecipe passa a ser fundamental para o sucesso da tecnologia.
Com a soja implantada e planejada para a semeadura do milho nas entrelinhas, o agricultor realizará a operação da mesma forma como a semeadura “tradicional”. Na semeadura do milho o produtor deve levar em consideração o espaçamento das entrelinhas da soja, pois ajustes no trator devem ser levados em conta, como as medidas dos pneus dianteiros e traseiros que devem realizar deslocamento sem danos à soja.
É importante ressaltar que o fato da semeadura do milho ocorrer antecipadamente na entrelinha da soja não irá alterar o manejo dado às culturas em relação aos tratos culturais como a adubação. Todos os cuidados e recomendações são iguais ao milho semeado após a colheita da soja.
Com o milho implantado e as plantas desenvolvendo chega o momento da colheita da oleaginosa e esta é realizada normalmente. Essa operação cortará as plantas de milho, mas como o ponto de crescimento dessa planta ainda está abaixo do solo, o crescimento e o desenvolvimento não são comprometidos, levando o milho a produzir melhor do que o milho semeado tardiamente, ou seja, fora do período recomendado pelo ZARC. A adubação nitrogenada de cobertura no milho deverá ser realizada o quanto antes, considerando as recomendações já consolidadas pela pesquisa, porém, podendo ser feita em época de maior aproveitamento pelas plantas.
Seguindo as recomendações já consolidadas para o cultivo da soja e do milho safrinha, o Antecipe poderá:
Como o Antecipe é um sistema que depende de conhecimento técnico para sua implementação, a Embrapa desenvolveu um aplicativo que auxiliará o agricultor na tomada de decisão, orientando o momento mais adequado para se iniciar o planejamento para a semeadura do milho nas entrelinhas da soja. Desta maneira, o produtor poderá acompanhar, na área definida para a utilização do Antecipe, como está o desenvolvimento da soja, recebendo notificações no dispositivo. Além disso, com o aplicativo, o produtor também poderá armazenar informações sobre os tratos culturais da soja e do milho, mantendo o histórico das áreas de produção, o que facilitará o planejamento das safras posteriores, melhorando a gestão da propriedade e diminuindo os riscos que levam a reduções de produtividades.
Décio Karam é membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), Ph.D, pesquisador de Manejo de Plantas Daninhas da Embrapa Milho e Sorgo
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