29 de fevereiro de 2016

Mapeamento das ameaças fitossanitárias é um avanço na defesa vegetal

Por Claudio Spadotto, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e gerente geral da Embrapa Gestão Territorial.

Pelo menos 35 novas pragas foram detectadas nas nossas lavouras nos últimos 10 anos e recentemente três novas pragas agrícolas foram detectadas no País. Uma dela é a Helicoverpa punctigera, tão agressiva quanto a H. armigera. Identificada no Ceará em 2015, a H. punctigera pode levar a perdas enormes nas culturas de algodão, milho e soja. Outra é a mosca-da-haste da soja (Melanagromyza sp.), identificada no Rio Grande do Sul em julho do ano passado. É uma praga importante na Austrália, onde causa perdas de até 30% na produção de grãos, e já está amplamente disseminada pela Ásia. Essa mosca também está presente no Paraguai e Argentina. Outra praga identificada em 2015, no Mato Grosso, é a planta invasora Amaranthus palmeri, bem conhecida nas lavouras de algodão e soja nos Estados Unidos. Sabe-se que a falta de controle pode levar a perdas de 80-90% nas culturas infestadas.

Novas pragas com potencial de causar grandes danos à agricultura brasileira estão na iminência de chegar ao País e o Ministério da Agricultura tem adotado medidas para reforçar o controle para prevenir a entrada e o estabelecimento de pragas quarentenárias. Ações de fiscalização e controle em portos, aeroportos e postos de fronteira na inspeção de produtos agrícolas que caracterizem risco compõem os Planos de Contingência, com procedimentos operacionais para aplicar medidas preventivas e emergenciais para erradicação de focos e contenção da praga.

O entendimento e a conscientização sobre as ameaças que as pragas quarentenárias representam são primordiais. Precisamos saber quais pragas estão por vir e por onde podem ingressar e se estabelecer nos nossos campos. A caracterização e o detalhamento das possíveis vias de acesso de pragas, concomitantemente com a localização das lavouras ameaçadas, são subsídios aos programas governamentais de defesa vegetal, ainda mais num país com território amplo e diversificado, com extensas fronteiras e com intensas relações comerciais, como o Brasil.

Temos que racionalizar e otimizar as ações de vigilância fitossanitária, considerando a distribuição e a dinâmica da agricultura no território e ao longo do tempo. A gestão dos riscos fitossanitários em base territorial é imprescindível, pois aprimora a nossa capacidade de antever e agir pró-ativamente. A incorporação da inteligência territorial para fornecer dados e informações consistentes, que auxiliem o controle do ingresso, do estabelecimento e da disseminação de pragas, doenças e plantas daninhas, traz a possibilidade de visões inusitadas e abordagens inovadoras na defesa sanitária vegetal.

Um exemplo de como fazer isso vem de um trabalho realizado pela Embrapa que mostrou que, na região dos Cerrados, deveríamos priorizar 141 municípios para o monitoramento de Helicoverpa armigera.

Outro exemplo é um estudo, também da Embrapa, com Chilo partellus, que é praga quarentenária ausente no Brasil. Essa mariposa apresenta potencial para atacar vários cultivos, entre eles milho, arroz e cana-de-açúcar. Os resultados mostraram que áreas em Roraima (arroz), São Paulo (cana), Paraná e Mato Grosso do Sul (milho e cana) devem ser priorizadas nas ações de vigilância fitossanitária.

Outra praga quarentenária ausente no Brasil, mas que já está presente em países vizinhos (Colômbia, Equador e Peru) é a Prodiplosis longifila. Essa mosca tem causado sérios danos em áreas com produção de abacate, alcachofra, algodão, batata, feijão, laranja, limão, tangerina e tomate em outros países. O estudo da Embrapa permitiu a identificação de oito municípios prioritários para ações de vigilância fitossanitárias para essa praga.

Assim, as análises geoespaciais podem apoiar a prevenção da entrada e do estabelecimento de pragas quarentenárias no Brasil, assim como subsidiar o planejamento das medidas de contenção e controle, utilizando dados georreferenciados e ferramentas de Sistemas de Informações Geográficas (SIG).

Sobre o CCAS

O Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) é uma organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril de 2011, com domicilio, sede e foro no município de São Paulo-SP, com o objetivo precípuo de discutir temas relacionados à sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de maneira clara, sobre o assunto.

O CCAS é uma entidade privada, de natureza associativa, sem fins econômicos, pautando suas ações na imparcialidade, ética e transparência, sempre valorizando o conhecimento científico.

Os associados do CCAS são profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área pública quanto privada, que comungam o objetivo comum de pugnar pela sustentabilidade da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam por suas atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos concretos, lastreados em verdades científicas, para comprovar a sustentabilidade das atividades agrícolas.

A agricultura, apesar da sua importância fundamental para o país e para cada cidadão, tem sua reputação e imagem em construção, alternando percepções positivas e negativas, não condizentes com a realidade. É preciso que professores, pesquisadores e especialistas no tema apresentem e discutam suas teses, estudos e opiniões, para melhor informação da sociedade. É importante que todo o conhecimento acumulado nas Universidades e Instituições de Pesquisa seja colocado à disposição da população, para que a realidade da agricultura, em especial seu caráter de sustentabilidade, transpareça. Mais informações no website: http://agriculturasustentavel.org.br/. Acompanhe também o CCAS no Facebook: http://www.facebook.com/agriculturasustentavel

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