9 de março de 2021

Mais um ataque covarde contra o agronegócio

No último dia 4, tivemos mais uma demonstração do sensacionalismo midiático em relação ao agronegócio. Matéria veiculada por um dos principais telejornais brasileiros foi parcial ao apresentar o relatório de um grupo, engajado abertamente em uma agenda de cunho político, para tratar de temas relacionados à pesquisa e conhecimento científico. Deviam ter buscado opiniões de pesquisadores, de responsáveis por estudos relacionados a pastagens e pecuária. Mas optou pelo mais fácil, pelo que vende, mesmo que não represente a realidade.

Desde 2018, temos tratado o tema com um pouco mais de rigor aqui na Athenagro. Não é fácil, pois qualquer tentativa de esclarecimentos é respondida com agressividade, intimidação e ataque à reputação profissional. É duro lidar com uma máquina comunicativa em defesa de seus interesses. Pesquisadores sérios acabam sendo ludibriados pelas difamações e se negam a responder questões simples de profissionais que buscam esclarecimentos. Gostaria de saber se eles assinariam, como pesquisadores, as afirmações iniciais da matéria que se refere a São Félix do Xingu, como “o município brasileiro, de 130 mil habitantes, é um dos maiores poluidores do Planeta”.

Recentemente, o assunto foi abordado em um texto enviado ao Summit Agro, Estadão. No artigo de fevereiro, um dos trechos dizia que “O cálculo de balanço das emissões desconsidera as remoções e, portanto, não poderia ser chamado de balanço, mas sim de emissões brutas. Os responsáveis pelos relatórios ignoram todo o portfólio de conhecimento do sistema atmosfera, solo, planta e animais. É como se os bovinos não dependessem da produção vegetal para se alimentar” e pode ser acessado clicando em O Impacto do carbono na Pecuária.

Críticas levantadas por outros profissionais motivaram o envio de outro texto para a mesma coluna, em publicação de março. No artigo Tema carbono demanda maior inclusão científica está o  seguinte parágrafo: “As grandes confusões que provocam constrangimentos entre pesquisadores e profissionais da área ocorrem não pelo conhecimento prático gerado pela ciência, mas sim pelo uso midiático das informações. É essa a maior ameaça que a produção científica sofre atualmente. Negacionistas sempre existiram e o mundo sempre evoluiu, apesar deles. No entanto, a divulgação ostensiva da produção científica como blefe para defender determinada posição ideológica é novidade. É o embrião da adjetivação do debate ou da censura àqueles que ousam questionar os métodos usados para se chegar a determinadas conclusões.”

O tema é importante e demanda atenção do setor. Decisões políticas, mal embasadas, podem implicar em prejuízos graves à toda cadeia produtiva. Ainda nas falas de um dos entrevistados, percebe-se a insistência em tratar um problema de polícia, de aplicação da lei, como se fosse de responsabilidade da indústria e dos produtores modernos. Tais temas já foram tratados em outros textos, assim como soluções apontadas para resolver a questão do desmatamento.

Em Desmatamento: alvo errado, resultado inesperado, escrevi “O que há de novo nesse debate é que toda a responsabilidade em conter operações ilegais está recaindo justamente sobre quem opera na legalidade. Enquanto a ilegalidade é operada por agentes marginais às cadeias produtivas, são exatamente aqueles que insistem em implementar as práticas recomendadas que acabam sendo alvejados” e “Pressionar a pecuária exportadora é garantir maior espaço para a informalidade que viabiliza a ilegalidade.  Como sempre dizem no mercado, não há vácuo nos negócios. Se a produção organizada se fortalece, o espaço para a ilegalidade fica mais restrito.”

O texto Como enfrentar o desmatamento ilegal?   reforçou a postura das entidades ambientalistas diante do tema com os trechos “As organizações ambientais precisam ser mais conscientes e focadas na elaboração de decisões. Acompanhando suas reações com medidas e propostas apresentadas pelos atuais responsáveis, a impressão que fica é que aceitam debater, desde que suas propostas sejam integralmente acatadas e implementadas. Além de não aceitarem discutir alternativas, tendem a boicotá-las através de campanhas falaciosas”.   ” É preciso tirar essa discussão do debate político, carregado de dogmas e certezas, e levá-la para onde as ações possam fazer efeito. É preciso decidir se o problema será resolvido com método ou se ficará no discurso, aguardando o próximo ciclo de aumento na curva de desmatamento ilegal que virá junto com a próxima crise, nesse ou em outro governo. Vamos faturar politicamente com o desmatamento ilegal ou vamos combatê-lo?”

Por fim, vale lembrar o convite feito em Desmatamento ilegal: o agronegócio precisa assumir a liderança:  “Não existe pesquisador ou ambientalista que consiga relacionar, de forma honesta e embasada, a relação entre o desenvolvimento do agro e o desmatamento ilegal.  Solicitar boicotes aos produtos brasileiros reduzirá a evolução dos últimos anos com prováveis consequências ambientais. Ambientalistas não conseguem entender esta realidade. Ou fingem não entender. O diagnóstico, a quantificação dos impactos e a conscientização estão prontas. Agora é hora de continuar colocando em prática. E essa é praia do agro. Está na hora do setor assumir o protagonismo de forma definitiva, mantendo na mesa apenas aqueles que estão comprometidos com as soluções e não com autopromoção ou bandeiras políticas.”

O tema precisa ser levado à sociedade de maneira correta. Não há mais remota possibilidade de que decisões corretas sejam criadas a partir de diagnósticos errados.  É dessa forma que pretendemos tratar um assunto de tamanha importância?

Atenciosamente

Maurício Palma Nogueira é engenheiro agrônomo, presidente da Athenagro e coordenador do Rally da Pecuária.

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