As tarifas que o Presidente Donald Trump está prestes a implementar terão um forte impacto no comércio global, mas nós brasileiros temos que calcular muito bem os volumes exportados para os Estados Unidos, assim como os que temos importado, para poder entender o impacto imediato que pode ser prejudicial ou não para o Brasil antes do atual governo – que já tem pouca credibilidade – criar eventual confronto com a maior potência econômica do mundo.
A meu ver, ainda é prematuro fazer uma avaliação séria sobre este tema, mas do ponto de vista do comércio internacional muitas coisas já podem ser ventiladas. Por exemplo, com esta decisão do Presidente americano, a “cláusula da nação mais favorecida” foi eliminada. Para os leitores que desconhecem esta cláusula, vale informar que qualquer exportação de um produto para um país – a menos que haja um acordo bilateral preferencial – todos países pagam a mesma tarifa alfandegária.
A máquina administrativa americana está calculando a tarifa aplicada aos produtos importados de terceiros países (e.g. – China, estados-membros da UE e até Brasil, etc) com uma metodologia um pouco simplista quase que incompreensível. A decisão de impor uma tarifa-base de importação de 10%, com taxas ainda bem mais altas para alguns países, ignora os mecanismos do comércio internacional especialmente no que se refere à boa governança. Acredito que o atual governo americano não esteja preocupado com este assunto levando em consideração decisões anteriores no que se refere à retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris e também, de certa forma, da Organização Mundial da Saúde.
Seria difícil acusar os Estados Unidos de terem tarifas altas como podemos fazer em relação a barreiras não tarifárias que são muito mais rigorosas para importação. O seu mercado é altamente regulado e os nossos exportadores de carne bovina são testemunhas deste fato. O MAPA ficou negociando decênios a abertura daquele mercado sem grandes resultados! Essa questão já foi resolvida, após muito esforço do incansável setor privado (ABIEC), graças à nossa força de adaptação para atender as exigências daquele e de outros países e blocos, igualmente, regulados.
Vale assinalar que para os nossos produtos do Agro, talvez esta crise venha a apresentar uma grande oportunidade comercial em função dos efeitos colaterais em relação aos nossos concorrentes e, principalmente, o impacto sobre o consumidor americano.
Economistas já ventilam o risco de inflação, que pode prejudicar a economia e, por consequência, causar um impacto global e uma possível crise econômica – o que não é bom para os Estados Unidos e nem para o resto do mundo.
Tarifas adicionais podem tornar o mercado americano menos competitivo e, portanto, menos atraente para alguns de seus principais países fornecedores de inúmeros produtos. Isso pode levar a um efeito dominó de longo prazo, alterando os fluxos comerciais, aumentando os volumes destinados a mercados alternativos e pressionando ainda mais esses mercados.
No caso do Brasil, a resposta a essa nova política comercial americana precisa ser estratégica. O governo Lula, que já enfrenta dificuldades em manter credibilidade internacional, deve agir com prudência. O histórico de reações impulsivas ou mal calculadas do Presidente brasileiro pode prejudicar setores cruciais da nossa economia. Antes de adotar medidas retaliatórias, é essencial um estudo aprofundado dos impactos sobre nossas exportações. Diferentemente da China e da União Europeia, que tem força política e econômica para desafiar os Estados Unidos, o Brasil deve priorizar negociações diplomáticas e acordos bilaterais que minimizem danos e ampliem oportunidades comerciais.
Precisamos observar os efeitos decorrentes dessa medida, pois o Brasil antes de preparar medidas retaliatórias ou eventuais processos na OMC, deve fazer muito bem as contas junto com os principais interessados seja do Agro seja de outros setores da nossa economia.
O fato inovador de Donald Trump é que, desta vez, ele não ataca somente a China ou outro país importante e sim todos os parceiros do mundo. Até que ponto o curral eleitoral republicano irá apoiar esta decisão em nome do “America First”?
Em um mundo dividido politicamente em vários temas, eu tenho tendência a acreditar em novas oportunidades. Neste sentido, o Brasil deve buscar utilizar os seus bons quadros, principalmente do Itamaraty, sem carteirinha de Partido, para negociar e fortalecer colaborações com países que compartilham nossos valores comerciais. As oportunidades a serem exploradas são inúmeras para nós do Agro, que a primeira vista, não seremos atingidos pelas medidas anunciadas pelo presidente Trump e temos ainda como ter acesso de uma parte do mercado mundial que é ainda dos Estados Unidos. Portanto, devemos pressionar o governo brasileiro, com bases em experiências nefastas das recentes declarações inoportunas do atual Presidente do Brasil, para que o nosso país possa tirar benefício desta crise caso tenhamos a capacidade inclusive de segurar os ânimos dos que defendem contra-atacar, a qualquer custo, as medidas do governo americano.
Termino citando Sun Tzu, autor da A arte da guerra: “No meio do caos surgem sempre oportunidades”. Temos que fazer de tudo para não perder mais uma!
Jogi Humberto Oshiai, CBO da Melo Advogados e Diretor da Oshiai Consultoria e Assessoria Ltda, diretamente de Bruxelas, capital da União Europeia.