O sistema de produção de bovinos de corte no Brasil é caracterizado por abater animais pesados, jovens e moderadamente acabados (Monsalve e Millen, 2025). No entanto, anteriormente à fase de terminação, os animais são submetidos à fase da recria, majoritariamente realizada em pasto. Pelo fato da recria normalmente ser realizada no período de um ano, a variação climática ao longo desse período influencia as características físicas (Roth, 2011), químicas (Euclides et al., 1996) e no acúmulo (Euclides, 2000; Tonato et al., 2010) da forragem, o que por sua vez, afeta a magnitude do desempenho dos animais nas diferentes estações do ano.
Devido o capim ser o “ingrediente” com maior proporção na “dieta” (suplemento + pasto), é natural que a magnitude do desempenho de bovinos em recria seja ditado por esse importante ingrediente, desta forma, explicando pelo menos parcialmente a variação do desempenho obtido nos diferentes períodos do ano.
Tonato et al., (2010) desenvolveram equações para estimar o acúmulo de forragem em pastagens tropicais e observaram que temperatura e luminosidade afetam positivamente a predição dessa variável resposta. Como dito anteriormente, durante a fase da recria há grande variação climática (quatro estações do ano), sendo assim, temperatura (mínima, máxima e média) e quantidade de horas/luz/dia irão diferir entre as estações do ano, afetando diretamente a quantidade de forragem acumulada, e consequentemente, disponível para o consumo.
É digno de nota que bovinos Nelore submetidos a programas nutricionais (feno de Tifton + suplemento mineral) com restrição de consumo do volumoso (1,4% do peso vivo; durante 32 dias) obtiveram menor ganho de peso diário (GPD; [0,360 e 0,640 kg/d]) quando comparados a animais submetidos ao mesmo programa nutricional e período, porém com acesso ad libitum ao volumoso (Pereira et al., 2020).
Manejo de pasto também é uma variável que afeta o comportamento alimentar e o desempenho de bovinos durante a fase da recria. Sarmento (2003) demonstrou que bovinos submetidos a quatro diferentes alturas (10, 20, 30 e 40 cm) de pasto no sistema de pastejo contínuo obtiveram aumento linear no tamanho do bocado (gramas de matéria seca [MS] por bocado) e diminuição linear na taxa de bocado (bocados por minuto).
Nesse mesmo estudo, animais submetidos aos tratamentos altura de pasto 20, 30 e 40 cm permaneceram menos tempo (horas) pastejando quando comparados aos animais submetidos ao pastejo contínuo em pastos com 10 cm de altura. No mesmo estudo, Andrade (2003) avaliou o desempenho dos animais submetidos a esses tratamentos e observou aumento linear no GPD conforme a altura do pasto foi aumentada.
Como dito anteriormente, o consumo de matéria seca (CMS) influencia o GPD. No entanto, quando falamos de forragem, não é apenas sua disponibilidade que ditará a magnitude do CMS, mas também sua composição química. Sendo assim, levando em consideração estes dois aspectos (quantidade e qualidade), diversos experimentos foram realizados com o objetivo de melhor compreender os benefícios do uso de diferentes níveis de suplementação ao longo do ano em relação ao desempenho de bovinos de corte recriados em pasto.
Em estudos realizados na Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), unidade de Colina (SP), foram demonstrados que animais suplementados durante o período das águas com suplemento mineral (SM) ou suplemento proteico (SP) a nível de 0,1% peso vivo (PV) obtiveram em média GPD de 0,513 e 0,654 gramas, respectivamente (Sampaio 2010; Roth 2011; Moretti 2014). Esses autores também avaliaram o GPD de bovinos no mesmo período suplementados com SM ou suplemento proteico energético (SPE) a nível de 0,3% PV. A média dos três trabalhos demonstra que bovinos suplementados com SM obtiveram GPD de 0,469 gramas enquanto animais suplementados com SPE obtiveram GPD de 0,753. Roth (2011) avaliou o GPD de bovinos recriados durante o outono suplementados com SM, SP ou SPE e observou GPD médio de 0,372; 0,548 e 0,685 gramas, respectivamente.
Nesse mesmo centro de pesquisa foram realizados estudos avaliando o efeito do nível suplementação de bovinos de corte em recria durante o período da seca. Segundo Sampaio et al., (2009); Siqueira et al., (2009); Roth et al., (2009) e Moretti et al., (2015), animais suplementados durante a seca a nível de 0,1; 0,3 e 0,5% PV obtiveram GPD médio de 0,340; 0,440 e 540 gramas, respectivamente.
Como descrito ao longo deste artigo, o desempenho de bovinos de corte durante a recria é afetado por diversos fatores. Para perseguir a meta de GPD é necessário que o programa nutricional esteja coerente com período do ano, disponibilidade e qualidade da forragem, como também com o objetivo produtivo.
Victor Fonseca, zootecnista, coordenador técnico de bovinos de corte da MCassab Nutrição Animal.