Minha jornada com o agro começou em 1979, quando minha família chegou a Paracatu (MG), através do Programa de Desenvolvimento do Cerrado (PRODECER). Naquela época, o Brasil enfrentava o desafio da insegurança alimentar e éramos dependentes da importação de alimentos básicos, enquanto nossa economia sofria com a inflação e o país vivia um período de incertezas. O Cerrado, visto como uma terra de solo difícil e pouco produtivo, tornou-se um símbolo de transformação, se consolidando como uma das regiões agrícolas mais férteis e produtivas do mundo, graças à pesquisa, inovação e determinação de muitos pioneiros.
Durante esse período, tive o privilégio de conhecer o Dr. Alisson Paolinelli, um dos maiores nomes da agricultura tropical e líder visionário, que ajudou a impulsionar essa revolução no país. Seu trabalho inspirou uma geração de profissionais e consolidou a base para que o Brasil se tornasse uma potência global na produção de alimentos. O impacto do PRODECER foi imenso, levando o país a se tornar referência na segurança alimentar e colocando o Cerrado no mapa como uma região estratégica na produção de alimentos.
Aprendi muito sobre agricultura e meio ambiente observando meu pai, um engenheiro agrônomo que sempre destacou a importância de se respeitar os ciclos naturais e manejar a terra de forma sustentável. Essa relação com a natureza sempre foi clara para mim: o produtor rural depende profundamente da saúde do solo, do equilíbrio dos ecossistemas e do ciclo da água para garantir produtividade e eficiência. Esse respeito pela terra é uma realidade que muitos fora do setor não conseguem ver, ou pior, escolhem ignorar.
Hoje, o agro brasileiro é um dos motores econômicos do país, representando cerca de 27% do PIB e alimentando 10% da população mundial, de acordo com dados da FAO. Práticas inovadoras, como a Agricultura Tropical Regenerativa, estão sendo adotadas para aumentar a produtividade, ao mesmo tempo que restauram o solo e protegem os ecossistemas. No entanto, apesar de todos esses avanços, ainda enfrentamos críticas severas de movimentos que, muitas vezes, servem a interesses estrangeiros. Esses movimentos consideram o crescimento do agro brasileiro uma ameaça à produção agrícola subsidiada dos países desenvolvidos, que protegem seus mercados à custa da competitividade global.
É claro que, como em qualquer setor, existem bons e maus agricultores. Generalizar e culpar todo o setor por práticas isoladas é injusto e desonesto. A verdadeira questão é que a maioria dos produtores trabalha de maneira ética e sustentável, entendendo que a preservação do meio ambiente não é apenas uma responsabilidade, mas condição para sua própria sobrevivência.
E aqui entra a importância crucial da comunicação estratégica. Em um mundo onde as redes sociais amplificam discursos e muitas vezes distorcem os fatos, é fundamental que contemos nossa própria história, de maneira clara, verdadeira e direta, especialmente para as novas gerações. Precisamos que os jovens entendam que o agro vai muito além de produzir alimentos; ele está presente no dia a dia deles — nas roupas que vestem, no alimento que consomem e nos empregos que sustentam suas famílias.
Mais do que apenas informar, é necessário engajar os jovens, trazer essa nova geração para perto, mostrando que o agro é um setor moderno, inovador e fundamental para o futuro sustentável do nosso planeta. Precisamos falar a linguagem deles, utilizar os meios de comunicação que eles dominam, e construir uma narrativa que seja inspiradora e que conecte suas preocupações com a realidade do agro brasileiro. Mostrar que os produtores não são vilões, mas sim guardiões da terra, que dependem do equilíbrio ambiental para continuar prosperando.
A construção dessa ponte entre o agro e os jovens é essencial para o futuro. É preciso coragem para enfrentar os desafios e combater as distorções que cercam o setor, mas também é vital criar um espaço onde o diálogo honesto e a troca de ideias sejam possíveis. Se conseguirmos trazer os jovens para essa conversa, estaremos garantindo que eles sejam mais do que meros espectadores, mas participantes ativos na construção de soluções que beneficiem tanto as pessoas quanto o planeta. O agro brasileiro é mais do que um setor econômico; é uma história de resiliência, inovação e de um compromisso contínuo com a terra e com o futuro. PRECISAMOS – e isto cabe a nós – comunicar essa verdade de forma autêntica e inclusiva, especialmente para aqueles que moldarão o mundo de amanhã.
Daniel Takaki é ambientalista, empreendedor e idealizador e diretor da InovAction.