A saúde animal ocupa um papel importante no desenvolvimento do agronegócio e da economia brasileira. Muito além do cuidado com os rebanhos, ela é essencial para assegurar produtividade no campo, segurança alimentar, sustentabilidade ambiental e competitividade nos mercados internacionais. Dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan) reforçam essa relevância. Em 2024, 47% do faturamento do setor de saúde animal esteve diretamente ligado à pecuária, demonstrando que o investimento em prevenção e bem-estar é parte essencial da engrenagem produtiva que move o campo brasileiro. Cuidar da saúde dos rebanhos significa tornar os sistemas de produção mais eficientes, garantir alimentos de maior qualidade e atender aos rigorosos padrões sanitários exigidos pelos mercados globais.
O Brasil se destaca como um dos maiores produtores e exportadores mundiais de carne bovina, suína e de frango. Esse protagonismo só é possível acompanhado de uma sólida estrutura sanitária, que exige investimentos contínuos em prevenção de doenças, vacinação, monitoramento e inovação em produtos veterinários. Produtos veterinários como antiparasitários, antimicrobianos, biológicos e suplementos desempenham papel essencial na manutenção da saúde dos rebanhos, influenciando diretamente o desempenho zootécnico dos animais e a competitividade da produção. Ao mesmo tempo, garantem a rastreabilidade e a segurança dos alimentos de origem animal que chegam à mesa do consumidor.
Mas é na conexão entre saúde animal e sustentabilidade que o tema ganha dimensão global. Animais saudáveis produzem mais com menos recursos, o que significa menor uso de insumos, menor emissão de gases de efeito estufa por quilo de carne ou litro de leite produzido, além de evitar a ampliação de áreas de pastagem. Isso torna a atividade mais eficiente e ambientalmente responsável, contribuindo diretamente para a preservação dos biomas e para o cumprimento das metas climáticas. A pauta ganha ainda mais relevância com a proximidade da COP30, que será sediada em Belém neste ano. A conferência colocará o país no centro do debate climático global, e a saúde animal surge como uma das engrenagens essenciais dessa transição para uma economia de baixo carbono.
Relatórios da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) já destacaram que a melhoria da saúde dos rebanhos pode reduzir emissões em até 35% até 2050, ao mesmo tempo em que colabora com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, estabelecidos pela ONU em 2015, como a erradicação da fome e a promoção da segurança alimentar. Estudos recentes indicam que a redução de doenças no gado poderia significar uma diminuição de 800 milhões de toneladas de CO₂, equivalente às emissões anuais de mais de 100 milhões de pessoas. Em suínos, por exemplo, o controle da síndrome reprodutiva e respiratória pode reduzir emissões em até 22,5%, segundo estudo publicado na revista One Health Outlook.
No entanto, ainda existem barreiras importantes para ampliar o acesso às tecnologias de saúde animal, especialmente em países em desenvolvimento. Entre os obstáculos estão o baixo volume de financiamento climático destinado à pecuária, a falta de incentivos de mercado do governo e a limitação de políticas públicas que reconheçam plenamente o papel estratégico da saúde animal nas estratégias de redução dos impactos ambientais e das emissões relacionadas à atividade pecuária.
Discutir a saúde animal, portanto, é discutir o presente e o futuro da produção de alimentos. Trata-se de uma agenda transversal que envolve produtores, indústrias, profissionais de saúde, órgãos reguladores e a sociedade como um todo. A manutenção de rebanhos saudáveis garante não apenas a rentabilidade no campo, mas também a confiança do consumidor, o acesso a mercados internacionais e a capacidade do país de se posicionar como líder global em produção sustentável. Em um mundo cada vez mais preocupado com os impactos ambientais e sociais da cadeia alimentar, o fortalecimento da saúde animal se mostra como um vetor indispensável para o desenvolvimento equilibrado da agropecuária e da economia brasileira.
Luiz Monteiro é diretor técnico do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal – Sindan.