Em 1701 o fazendeiro Jethro Tull criou a semeadora, máquina que automatizou o plantio de sementes nas lavouras. A invenção deu início a uma era de modernização na agricultura que permitiu a produção de alimentos em larga escala. A colheitadeira, projetada em 1834 pelo americano Hiram Moore, foi a precursora da mecanização, impulsionada depois pelo trator, em 1892, criação do americano John Froelich; e, finalmente, o arado mecânico, em 1936, idealizado pelo ferreiro americano John Deere.
Oitenta anos depois do arado de Deere, a próxima revolução no agronegócio tem nome: Internet das Coisas.
A grande disrupção tecnológica nas fazendas não está mais nas máquinas, mas na inteligência que está embarcada nelas. Esta é minha visão há mais de uma década, mas parece que esta conclusão está ficando mais clara para o público geral a partir de agora, como foi possível notar neste ano na Agrishow, uma das três maiores feiras de tecnologia agrícola do mundo e a maior e mais importante na América Latina.
Um estudo da Market Insight Reports prevê que o mercado de IoT na agricultura foi de US$ 4,4 bilhões em 2015 e terá um crescimento anual de 28,30% até 2024. Os Estados Unidos estão na frente, com 75% de participação de mercado e a possibilidade de alcançar US$ 20,1 bilhões em 2024.
O Brasil tem condições de ser protagonista desta revolução? Não tenho dúvidas de que, sim, temos todas as condições de liderar essa nova etapa da agricultura.
Fiquei positivamente impressionado com a velocidade que o agritech vem evoluindo e como os grandes fabricantes de máquinas estão se movimentando para desenvolver produtos conectados que serão cada vez mais indispensáveis para gestão das lavouras. Ao mesmo tempo, desenvolvedores de softwares se apressam em lançar inovações que serão o combustível das máquinas para colher dados e transformá-los em algoritmos que se tornam, dia após dia, adubos férteis para fazendas inteligentes.
A riqueza do agronegócio está agora na nuvem.
O aumento da oferta de conectividade no campo é uma excelente notícia. Com as estradas digitais pavimentadas, o agronegócio brasileiro poderá alcançar níveis de competitividade para superar os Estados Unidos e alcançar a sonhada posição de maior exportador de alimentos do mundo. O desenvolvimento da indústria nacional de softwares para o campo irá aproveitar da alta velocidade agora cada vez mais presente nas fazendas para municiar os gestores com informações valiosas para conquistar e celebrar safras mais lucrativas.
Em quatro décadas, passamos de grande importador para o segundo maior exportador mundial e a meta do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento é aumentar nossa participação de 7% para 10% em cinco anos no mercado internacional. Temos a quinta maior extensão territorial e o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) estima nossa área plantada em 79 milhões de hectares e com um gigantesco potencial de expansão.
Vale lembrar que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura prevê que o mundo precisará de 70% mais comida em 2050 do que produzia em 2006. Para explorar de forma sustentável nossas terras, é importante reforçar, o agroempresário brasileiro terá então que continuar investindo em tecnologia para ter cada vez mais acesso a dados essenciais para melhorar seus resultados, aumentando a produtividade, diminuindo custos e reduzindo desperdícios.
Como organizar a logística agrícola, usar menos máquinas e consumir menos combustível nos processos? Como utilizar os insumos de forma a evitar desperdícios? Por onde devo iniciar meu plantio para melhorar a performance da germinação? Como o clima está impactando minha produtividade?
Estas são algumas das perguntas que anteriormente contavam apenas com o instinto do produtor sobre a análise de um conjunto impreciso e incompleto de informações. Hoje, já são respondidas com o uso de tecnologia de forma automática em parcela significativa das propriedades rurais brasileiras.
Estamos entrando numa era em que a lavoura já começa a contar, por exemplo, com assistentes virtuais capazes de conversar com o produtor para mantê-lo sempre informado sobre o desempenho de qualquer processo no campo. A tendência é haver robôs que utilizam sistemas baseados em redes neurais e deep learning e serão treinados para analisar grandes massas de dados. Esses assistentes estarão aptos a detectar padrões que escapam ao olho humano. A inteligência artificial melhora o rendimento da fazenda, indica quais seriam as melhores práticas, compara, alerta e ajuda a programar as atividades na lavoura da forma mais eficiente possível.
Por meio da coleta e análise de dados, a Internet das Coisas e a Inteligência Artificial possibilitam ao produtor uma visão sem precedentes dos mínimos detalhes do que acontece na lavoura.
Com tratores e colheitadeiras conectados, drones e satélites monitorando a plantação e os estoques, sensores espalhados pelo campo, estações meteorológicas, pluviômetros e outros equipamentos, o fazendeiro tem à disposição um ecossistema inteligente para automatizar e otimizar as operações mecanizadas, racionalizar o uso de insumos e, com isso, aplicar uma agricultura de precisão que resulta, ao final do dia, em silos mais cheios e mais dinheiro no bolso.
Abraçar esta revolução no campo será, não há dúvidas, essencial para acompanharmos a digitalização e algoritmização das lavouras dos grandes produtores mundiais. Se o Brasil perder este bonde, corre o risco de aniquilar a oportunidade de liderar o agronegócio mundial.
(*) Britaldo Hernandez Fernandez é presidente e sócio-fundador da Solinftec, empresa brasileira de agricultura digital que recebeu aporte do TPG, um dos maiores fundos globais de investimento