19 de abril de 2023

Carnes e soja seguram exportações no primeiro trimestre

Se não fossem os embargos impostos pela China que suspenderam a importação de carne bovina brasileira por um mês, os resultados das exportações desta commodity teriam sido ainda melhores neste primeiro trimestre de 2023. As exportações brasileiras de carne bovina in natura somaram 411,08 mil toneladas, conforme dados da Secex — Secretaria de Comércio Exterior, o segundo melhor desempenho da história, segundo analistas. O aumento da produção e das indústrias frigoríficas aliado às melhorias na sanidade dos rebanhos brasileiros vem contribuindo para que o Brasil se destaque no mercado internacional.

Seguindo o mesmo ritmo, as exportações de carne de frango in natura e processada tiveram um aumento bem importante neste mesmo período, atingindo 1,225 milhão de toneladas, superando o recorde atingido no ano passado. Diversos são os fatores que levaram as exportações de carne de frango a atingir estes bons resultados. Segundo a ABPA — Associação Brasileira de Proteína Animal, a identificação de foco de influenza aviária em algumas regiões do mundo fez com que houvesse a antecipação das importações em alguns países, a volta dos níveis de consumo no mercado chinês, o aumento das compras por alguns países da União Europeia, Reino Unido e Coreia do Sul e ainda a retomada de alguns mercados que estavam com as suas importações paradas, como o Iraque.

Outra commodity que continuou com bom desempenho nas exportações brasileiras neste período foi a soja e seus derivados, como já se esperava. Embora tenha sido registrada queda das vendas nos dois primeiros meses deste ano, no mês de março houve recuperação, contribuindo assim para que o resultado das exportações neste primeiro trimestre fosse aproximadamente 4,7 milhões de toneladas, segundo dados fornecidos pela Secex. Motivos como a quebra de safra na Argentina e o aumento da demanda no mercado internacional contribuíram para este bom desempenho. A Secex também divulgou que, de janeiro até a primeira semana de abril deste ano, a balança comercial apresentava um superávit de US$ 19,20 bilhões, com um crescimento de 13,7%, sendo que entre os produtos que contribuíram para o aumento das vendas estavam as carnes de aves e suas miudezas comestíveis e soja, com 59% e 46,3% de aumento, respectivamente.

Com estes dados, o que se pode confirmar é a importância do setor agropecuário para a economia brasileira. O Brasil está entre os principais exportadores de commodities do planeta e a sua participação no agronegócio se destaca, em especial com as exportações de carnes e de soja. Se comparado com outros segmentos, o agronegócio vem aumentando a sua participação nas exportações brasileiras com bastante intensidade. Por outro lado, as exportações de bens industrializados não vêm tendo o mesmo desempenho, muito provavelmente devido à falta de investimentos nas inovações e pesquisas, o que dificulta a sua competitividade internacional.

O que se pode observar é que o agronegócio brasileiro vem investindo em novas tecnologias, adotando ferramentas que facilitam a produção e comercialização de seus produtos. Somado a estes investimentos, não se pode ignorar que o aumento da demanda mundial por commodities, ainda por conta da pandemia de covid-19 e da guerra da Rússia com a Ucrânia, tem contribuído muito para que o Brasil se consolide como um grande exportador não só de carnes e de soja, mas de outras matérias-primas.

Com este desempenho, o agronegócio brasileiro contribui para a geração empregos. Segundo a FGV Agro – Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas, de 2019 a 2022, este setor gerou um aumento de 2,5% nos postos de trabalho formais, tendo sido criados 344.150 novos postos. A dificuldade que este setor vem enfrentando é para contratar mão de obra qualificada. Em algumas regiões do Brasil, sobram vagas de emprego, como nos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná.

Mas, mesmo com estes registros positivos, quando se trata de comércio internacional, o Brasil continua com um desempenho fraquíssimo se comparado às maiores economias mundiais e sabemos que as exportações e importações de bens e serviços de um país contribuem muito para o crescimento de seu PIB. Recentemente, o FMI — Fundo Monetário Internacional anunciou que a previsão do crescimento do PIB brasileiro para este ano está em torno de 0,9%, quando no ano passado conseguimos um crescimento de 2,9% e havia uma expectativa de que poderíamos continuar neste crescimento. Na verdade, não se pode contar somente com o agronegócio para carregar a economia brasileira. O que o país precisa é ampliar a sua pauta de exportações, deixando de depender das commodities e de um ou dois mercados compradores. Buscar por novos mercados e possibilitar que as indústrias também possam atuar competitivamente no mercado internacional são escolhas certas para contribuir com o crescimento de geração de riqueza do Brasil.

Zilda Mendes é professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie, atua nas áreas de comércio exterior e câmbio.

 

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