No final de dezembro foi sancionada a Lei 15.070, de 2024, que regulamenta e incentiva a produção de bioinsumos no país. Um passo importante para que o agronegócio brasileiro caminhe para uma mais ampla utilização desses insumos, que favorecem o aumento da produtividade, a redução da dependência de fertilizantes químicos e agrotóxicos, e a sustentabilidade na agricultura. A lei promete também assegurar um ambiente mais confiável à pesquisa, à indústria, aos produtores e aos usuários.
Os bioinsumos são elementos fundamentais na transição dos sistemas agrícolas poluentes para versões mais benéficas à saúde do planeta e dos seres humanos. Eles contribuem em itens como eficiência, sinergia, resiliência, reciclagem e economia circular, cinco dos 10 elementos agroecológicos propostos pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) em 2019. E podem, de fato, regenerar a saúde do solo, ajudar na preservação da biodiversidade, ajudar na fixação de carbono, reduzir as emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa) e ajudar na diminuição da dependência de produtos agroquímicos no campo, que prejudicam flora, fauna, sistemas hídricos e a própria saúde humana.
Essa cadeia de valor agregado contempla benefícios que vão desde a estimulação de novas pesquisas nacionais, passando pela melhoria do meio ambiente, do solo e da qualidade das plantas, chegando até à economia, com redução dos custos de produção e desenvolvimento de oportunidades de novos negócios no setor. A comercialização de bioinsumos cresceu 15% no Brasil na safra 2023/2024, de acordo com a CropLife Brasil. A previsão da Mordor Intelligence é que esse mercado global alcance US$ 18,5 bilhões em 2026.
Mas os bioinsumos não são novidade na atividade agrícola. São o que chamamos de “soluções baseadas na natureza” (do inglês nature-based solutions) que, de maneira mais artesanal, são aplicadas na agricultura há séculos. O que temos, hoje, é o avanço da tecnologia em benefício, aplicado na amplificação de tipos e melhoria desses bioinsumos, aos quais chamamos de “nova geração”.
Os bioinsumos de nova geração são desenvolvidos por meio de um conjunto de ferramentas como genômica e edição genética, biologia molecular, inteligência artificial, machine learning (ou aprendizado de máquina), entre outras. O desenvolvimento de tecnologias multiômicas – que integram diversas disciplinas para estudar sistemas biológicos – nos permitiu identificar novas cepas de microrganismos, com propriedades inovadoras e que, trabalhadas em laboratório, desenvolvem novos produtos biológicos mais eficientes e que se adaptam melhor a diferentes tipos de solos e cultivares. Tudo isso em uma velocidade mais acelerada, que atende à necessidade cada vez mais urgente de encontrarmos soluções sustentáveis para o aumento da demanda por alimentos no mundo.
O Brasil, por possuir uma das biodiversidades mais completas do planeta, é hoje um grande celeiro de biotechs que se empenham na missão de levar os avanços tecnológicos dos laboratórios para o nosso campo. Somamos à cadeia de valor dos bioinsumos nacionais os avanços em pesquisas e descobertas inovadoras acerca dos microbiomas de ambientes nativos brasileiros, desenvolvendo, com base nisso, produtos biológicos de alto desempenho. Empregamos ferramentas avançadas para desenvolver microrganismos persistentes e de colonização robusta das plantas, com capacidade de aumentar a produtividade de culturas agrícolas por diversos meios, como biofertilização, aumento da resiliência a estresses ambientais e biocontrole.
Segundo o estudo “Bioinsumos: Oportunidades de Investimento na América Latina”, da FAO, um dos desafios da agricultura é explorar fórmulas acessíveis, rentáveis e sustentáveis para manter a produção de alimentos frente às mudanças climáticas e ao alto custo dos fertilizantes convencionais. É nessa direção que estamos caminhando, alavancando o uso dos bioinsumos de nova geração e estimulando mudanças para que os produtores, pequenos e grandes, colham os benefícios dessa escolha junto com todo o planeta Terra.
Rafael de Souza, pesquisador e cofundador da Symbiomics.