Bioinsumos e biotecnologia: a virada de chave do agronegócio já começou

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Por muito tempo, associamos produtividade a uma única vertente formada por química de síntese, prescrição linear e padronização. O campo mudou, e rápido. Os bioinsumos deixaram de ser nicho para virar alavanca estratégica do agronegócio brasileiro, somando escala, previsibilidade e reputação ESG. Não é promessa; é realidade mensurável.

Pesquisas recentes mostram que o Brasil puxa a fila desse setor em escala mundial: o mercado de bioinsumos no país cresceu, em média, 21% ao ano no último triênio; ou seja, quatro vezes superior à média global. Só em 2023 e 2024, as vendas no varejo de biocontrole alcançaram R$ 5 bilhões, com Mato Grosso respondendo por um terço do mercado. Soja, milho e cana lideram a adoção.

Esse avanço não ocorre no vazio. Há um ambiente regulatório que dá segurança ao produtor e ao investidor. O Programa Nacional de Bioinsumos, instituído em 2020, organizou diretrizes e prioridades; em 2024, a chamada “Lei dos Bioinsumos” consolidou a possibilidade de produção para uso próprio (“on farm”) com regras claras de boas práticas e controles, sem abrir brechas para uso comercial indevido. Resultado: estímulo à inovação na ponta, com rastreabilidade.

Do lado da fazenda, a conta fecha quando biotecnologia se conecta à agronomia de precisão. O que vemos na safra 24/25 é expansão consistente da área potencial tratada com biológicos, que deve chegar a 155,4 milhões de hectares, uma alta de 13% comparada à safra 23/24. A curva de aprendizado melhorou o manejo, a janela de aplicação e o consórcio com produto químico, que teve ganhos em controle e longevidade de ativos.

Há, na prática, três tendências que redesenham o tabuleiro. Primeiro, soluções baseadas em microrganismos e proteínas específicas, e o horizonte de biopesticidas de RNA (são uma nova geração de defensivos agrícolas que utilizam moléculas de RNA para silenciar genes essenciais em pragas, como insetos e patógenos, levando-os à morte), que ampliam seletividade e reduzem impacto ambiental. Segundo a integração com drones, mapas de risco e prescrição variável, que elevam eficiência e reduzem custo por hectare. Terceiro, o avanço de bioestimulantes e inoculantes de nova geração, combinando performance e resiliência fisiológica em estresses bióticos e abióticos.

Também é fato que o rigor técnico importa. O registro e a avaliação de biológicos no Brasil seguem a tríplice (Anvisa – Ibama – Mapa), com modernizações recentes nos procedimentos. Para o produtor sério, isso significa previsibilidade regulatória e um pipeline mais rápido de tecnologias seguras.

Por que isso interessa a VIVAbio e aos produtores de todo o país com os quais trabalho no dia a dia? Porque o bioinsumo bom não é “milagre engarrafado”; é engenharia biológica aplicada ao manejo local. Quando combinamos escolha correta de cepas, qualidade industrial e posicionamento técnico, dose, timing, compatibilidade, o biológico deixa de ser complemento e vira pilar do resultado. E, numa safra pressionada por custos e clima errático, cada ponto percentual de estabilidade vale ouro.

O Brasil já é referência global em agro. Pode ser também em bioeconomia aplicada ao campo, com ciência, escala e responsabilidade. Cabe a nós acelerarmos a adoção com critério: validar em talhão, medir resposta, padronizar aplicação e integrar dados. Quem fizer isso primeiro captura produtividade e reputação; quem demorar, ficará fora de um mercado que não espera e está em constante evolução.

 

Por Fellipe Parreira – Portfólio e Acesso no Grupo GIROAgro.

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