No Brasil, o agronegócio é uma das forças motrizes da economia nacional e um dos pilares do abastecimento alimentar. Com exportações para os cinco continentes, o país forneceu US$ 164,4 bilhões para o agronegócio global em 2024, conforme aponta o Ministério da Agricultura e Pecuária. Entretanto, esse mercado que virou a resiliência do mundo viveu momentos desafiadores no último ano, marcados por custos elevados, instabilidade climática e erros de planejamento na comercialização de culturas como a soja.
Com base no aprendizado, é inadiável a necessidade de se criar um 2025 mais robusto e estratégico, preparado para lidar com as peculiaridades do setor.
Retrocedendo no tempo: as lições de 2024 – O ano de 2024 provou à indústria que algumas surpresas não devem ser tratadas como inesperadas. A seca, as oscilações de preços e os desafios climáticos fazem parte do cenário agropecuário. Sendo assim, o que diferencia os bons produtores é a capacidade de planejar. A comercialização de quase 30% da soja abaixo do breakeven – igualar, em tradução livre – foi um exemplo claro do impacto de decisões mal calculadas, reflexo da ausência de estratégias de travamento de preços.
Se 2024 ensinou algo, foi que o mercado pode ser mastigado com a falta de preparação. E considerando que as crises são inevitáveis, mas a gestão opcional, é importante encarar essas adversidades como lições. Planejamento e análise criteriosa, tanto de mercado quanto de crédito, são as ferramentas que garantirão um futuro mais equilibrado para o setor.
O papel do crédito no agronegócio – O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou, em 2024, um valor de financiamento 26% maior do que em 2023 para o agronegócio: R$ 52,3 bilhões. Muito mais do que um recurso financeiro, o crédito é a base que viabiliza o crescimento do agro. No último ano, a análise de crédito, além de técnica, provou que também precisa ser estratégica, personalizada e orientada para a resiliência. Afinal, se os produtores enfrentam cenários distintos, tratá-los de forma homogênea pode sair caro.
Nesse sentido, é fundamental a segmentação no crédito, considerando o histórico, a capacidade de adaptação e os riscos associados. O fortalecimento do diálogo entre financiadores e produtores é outro fator que desenvolve a confiança entre todos os elos da cadeia agropecuária, beneficiando o mercado como um todo.
2025: o ano da reação – As perspectivas para 2025 são positivas, mas dependem da capacidade de ação e até mesmo reação, no caso de entender e reavaliar as questões do ano que passou. O avanço nas vendas antecipadas, com projeções de 50,5% da safra de soja já comercializada até a colheita, reflete os indícios de um setor mais consciente e seguro – resultado direto de um “mal necessário”, que, apesar de doloroso, fortaleceu a visão estratégica dos produtores.
Por outro lado, os desafios climáticos persistem e exigem uma abordagem madura. Investimento em tecnologias de monitoramento da safra, práticas agrícolas sustentáveis e no planejamento financeiro passa a ser, agora, um requisito mínimo para sobreviver e prosperar.
O mundo depende do Brasil para se alimentar, e isso coloca o país em uma posição de enorme responsabilidade. Com as lições aprendidas em 2024 e o potencial para fazer de 2025 um ano de recuperação e crescimento, há uma oportunidade ímpar de reforçar a liderança no mercado internacional.
Essa liderança, no entanto, exige mais do que produtividade. Requer inovação, consciência ambiental e capacidade de adaptação para encarar os desafios como oportunidades, manter a relevância global e garantir margens saudáveis para os produtores brasileiros.
Mayra Delfino é CEO da CONACREDI.