Em uma de minhas inúmeras viagens pelo Brasil, encontrei-me conversando com o gerente de irrigação de uma usina no estado da Paraíba. Estávamos em abril, quando naquela região iniciava-se o período chuvoso. Período o qual é motivo de festa para muitos que trabalham com a operação da irrigação, pois as chuvas são sinônimo de férias. Logo no início da nossa conversa, para “quebrar o gelo”, fiz o seguinte comentário: “Chovendo, hein?! Agora você está tranquilo!” E, para minha surpresa, ele me respondeu: “Que nada! Agora que meu trabalho começa. Estou fazendo o planejamento de novos projetos de irrigação.” E esse comentário me fez ficar pensativo e questionar se nós nos planejamos para manejar um canavial irrigado ou apenas usamos a irrigação para molhar as plantas.
Desde que o agricultor da antiguidade começou a ocupar as regiões tropicais do globo terrestre e nela desenvolver a agricultura, a irrigação passou a ser apenas um complemento para os períodos sem chuvas. Ou seja, a água passa a ser preocupante apenas nos períodos em que ela é escassa. No entanto, diferentemente de uma chuva, que pode transformar um solo seco em um solo úmido em poucas horas e de maneira repentina, qualquer que seja o sistema de irrigação escolhido, eles devem ter um mínimo de planejamento para ser utilizado. Ou seja, um plano diretor de irrigação passa ser necessário.
Mas talvez você possa se perguntar: “um plano diretor não é apenas para grandes empresas ou grandes áreas?”. A resposta é não, o plano diretor irrigação é apenas um planejamento que deve conter algumas perguntas, como “quando o equipamento estará apto a irrigar?”, “onde eu irei irrigar?”, “qual equipamento de irrigação eu irei utilizar?” e “será rentável?”. Podendo ser usado por todos os futuros irrigantes, desde o pequeno fornecedor que deseja irrigar o seu viveiro de mudas, até os grandes grupos do setor sucroenergético em seus polos de irrigação.
Além disso, um bom planejamento deve conhecer e reconhecer que todo o sistema de irrigação necessita da seguinte cronologia: negociação comercial; logística de entrega; montagem; e operação. E esse planejamento deve estar alinhado com o plano de implantação dos novos canaviais, para que, em seu novo ciclo, recebam a tão importante água desde o primeiro momento que ela se faça necessária. Como o sistema de irrigação necessita de um período para estar apto à utilização, o gestor já deve iniciar sua escolha tão logo seja definido qual o talhão será renovado e terá um novo canavial. E decidir se esse talhão será irrigado ou não.
Por diversas vezes fui questionado: “a irrigação pode ser implantada em cana soca?”. A resposta é sim, o sistema de irrigação pode ser instalado em canas socas, o equipamento permite isso. No entanto, temos que entender que isso só deve ocorrer quando não há alternativas para instalar a irrigação no mesmo período do plantio da lavoura. Pois como todos sabemos, a irrigação é um grande potencializador da produtividade e o maior potencial de produção de todo canavial é na cana planta. Dessa maneira, passa a ser ilógico perder o período de maior produção da cultura sem os benefícios da irrigação. Além de penalizar o potencial de produtividade da primeira soca.
Por isso, não deixe acabar o período chuvoso para pensar em instalar um sistema de irrigação. Aproveite agora, se planeje, pois quando o período chuvoso se encerrar e seu canavial precisar da água, o único trabalho que você terá será apertar o botão de ligar.
Daniel Pedroso é especialista agronômico sênior da Netafim Brasil.