2019 pode ser marcado por um movimento forte para acelerar o varejo online de alimentos no Brasil. As duas maiores redes supermercadistas anunciaram, no segundo semestre de 2018, a criação de novas unidades para dinamizar suas atividades de varejo digital e conquistar fatia maior de vendas online, em especial de alimentos.
Hoje, o varejo online de alimentos no país representa ainda 1% das vendas totais, mas a visão é que essa realidade dê saltos daqui para frente, acompanhando tendência internacional em mercados estruturados. Na Inglaterra, por exemplo, o varejo online absorve 12% do consumo de alimentos e, na China, já alcança expressivos 30%.
Em ambos os casos a tendência é de crescimento, sugerindo que a nova matriz de compra alimentar avança tanto em mercados qualitativamente maduros, como o europeu, assim como em mercados sob forte transformação, como é o dos chineses. Para nós, fica o sinal: aqui também as coisas podem mudar bastante no varejo de alimentos, talvez mais rápido do que se imagina.
Outro sinal de novos tempos é o fenômeno dos aplicativos para compra de comida pronta. A onda surgiu faz pouco tempo e já produziu alguns gigantes. Um deles (iFood) opera no Brasil, Colômbia e México, e atingiu 12 milhões de pedidos/mês, cobertura de 483 cidades, 50 mil restaurantes, 180 mil entregadores e refeições entregues em 35 minutos, na média: “Queremos convencer as pessoas a cozinhar menos”, diz um de seus executivos.
Para os restaurantes, o aplicativo compartilha um serviço de central de compras (aquisição de ingredientes com ganhos de escala) e outro de inteligência de negócios, com mapas de venda por tipo de prato, permitindo ao restaurante racionalizar cardápios, estoques e estrutura de preparo das refeições.
O varejo online de alimentos via supermercados ainda está engatinhando, mas vem recebendo bons investimentos, em setor que responde por 70% do abastecimento alimentar no país. E comprar comida pronta pela internet é mais do que um ato isolado de conveniência da vida contemporânea. Nos dois casos, é preciso olhar com visão sistêmica da cadeia do agro.
Se a forma de escolher, pedir e consumir os alimentos está mudando, isso pode impactar nas relações de integração dentro das cadeias produtivas. Se muda a jornada de compra, enfim, podem-se alterar valores de escolha, standards de produto, padrões de qualidade, margens e relações de fornecimento ao longo dos sistemas de produção.
É o click na internet reverberando na produção do campo. Talvez trazendo demandas mais rigorosas de rastreabilidade dos produtos, de melhor gestão de processos na propriedade, monitoramento de insumos utilizados e, mais do que nunca, boas práticas produtivas. Pressão da ponta da cadeia sobre o produtor, mas ao mesmo tempo provendo-o de maior resiliência.
Quanto mais avança a sofisticação do consumo de alimentos, mais oportuna torna-se a adoção de estratégias compartilhadas por parte do produtor rural, seja com outros produtores (ações coletivas), com a agroindústria, ou distribuição e serviços de alimentação. Tudo com um sentido bem objetivo e prático: integrar e cooperar para gerar valor.
* Por Coriolano Xavier, membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) e Professor
da ESPM.
Fonte: Assessoria de Imprensa