21 de setembro de 2023

A pulverização aérea é, sim, uma prática necessária

Embora muito difundida na agricultura brasileira, a pulverização aérea de defensivos agrícolas químicos e biológicos ainda divide opiniões entre a população em geral. A prática, que completou 76 anos de uso no Brasil, é vista por muitos como um risco à saúde e ao ambiente, chegando a ser proibida no Ceará em 2019, mesmo sem ter uma relação de causalidade comprovada com supostas contaminações. Mas a realidade é que essa atividade tem sido uma grande aliada da produção sustentável de alimentos, fibras e energia limpa. Em culturas onde as plantas são mais altas (como o milho e a cana, por exemplo), ou irrigadas (como o arroz), a aplicação aérea é a alternativa mais viável para proteger as plantações das pragas, doenças e plantas daninhas. 

A pulverização aérea está diretamente atrelada a Aviação Agrícola e aos drones. A primeira operação aeroagrícola no Brasil aconteceu em Pelotas, Rio Grande do Sul. Na ocasião, em 1947, foi utilizado um avião com um sistema improvisado de pulverização com o objetivo de combater uma praga de gafanhotos responsável pela destruição de diversas culturas na região. Até hoje, essa praga é motivo de grandes preocupações em diversos países, mobilizando governos e outros agentes públicos. 

Além dos gafanhotos, existem outras pragas que são capazes de causar danos irreversíveis numa lavoura inteira em apenas alguns dias, como os percevejos na soja e o bicudo no algodão, por exemplo. Em grandes áreas produtivas, a pulverização terrestre muitas vezes não é capaz de tratar a área plantada coma urgência necessária para minimizar os prejuízos na lavoura. Dentre os benefícios na utilização dessa tecnologia de aplicação, destacam-se a maior precisão e uniformidade do tratamento, assim com a redução da compactação do solo e o amassamento das plantas, e principalmente, diminuição de custos e economia de recursos como a água e energia com combustíveis. Um detalhe importante: a pulverização aérea gasta 70% menos água do que uma aplicação convencional. 

E o que muitos ainda não sabem, é que para realizar aplicação aérea o treinamento dos pilotos e operadores é obrigatório, exigindo que esses profissionais sejam qualificados para operar aviões agrícolas ou drones. Além da capacitação de pilotos e operadores, é sempre bom reforçar que a aplicação aérea exige o acompanhamento de profissionais habilitados (agrônomos, engenheiros florestais ou técnicos agrícolas), que além da emissão da receita agronômica, são responsáveis pelo acompanhamento das pulverizações aéreas nas lavouras, certificando-se que as condições meteorológicas (temperatura, velocidade do vento e umidade relativa do ar) estão dentro das faixas recomendadas para uma aplicação correta e segura. Só assim é possível determinar qual o defensivo pode ser usado, e se a pulverização aérea é mesmo indicada para ocasião. 

Assim como vem ocorrendo nos aviões e veículos para transporte de cargas e passageiros, as aeronaves agrícolas estão recebendo cada vez mais equipamentos e tecnologias embarcadas para automatizar o controle e aumentar os níveis segurança. Muitas aeronaves agrícolas já estão equipadas com dispositivos de agricultura de precisão, por exemplo, o fluxômetro (equipamento capaz de acompanhar em tempo real a vazão do defensivo aplicado e ajustar adequadamente o volume dentro da área alvo a ser tratada), DGPS (uma espécie de GPS mais preciso para aeronaves), assim como soluções digitais para colher dados de telemetria e rastreabilidade, que aumentam a segurança e a precisão da aplicação, além de evitar desperdícios. 

No Brasil, três órgãos federais têm competência para regulamentar o setor: o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e a Aeronáutica (COMAER, DECEA). De forma indireta, participam o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) que tem competência regulatória dos defensivos agrícolas químicos e biológicos, nos aspectos que envolvem a análise dos riscos para o meio ambiente e a saúde humana, respectivamente.  

Em março de 2023, o MAPA publicou um Consulta Pública com a proposta de Decreto que regulamenta o Decreto-Lei № 917/69, iniciando um processo de modernização do marco regulatório para aeronaves agrícolas no país, visando contemplar os avanços tecnológicos da agricultura agrodigital, aumentar a profissionalização e a segurança do setor aeroagrícola brasileiro. Além de uma regulamentação mais moderna, o setor vem trabalhando para promover a Certificação Aeroagrícola Sustentável, um programa voluntário de certificação para empresas de aplicação aérea e operadores privados, que tem o objetivo de melhorar a qualidade das aplicações aéreas de defensivos, por meio da capacitação e qualificação do setor.  

A tecnologia de aplicação aérea é tão necessária para a competividade do agro brasileiro, quanto a aviação comercial é importante para o transporte de passageiros e de carga num país com dimensões continentais. Em um mundo com uma demanda crescente por produtos agrícolas e uma população que não para de crescer e aumentar a expectativa de vida, é preciso que agricultor brasileiro tenha alternativas tecnológicas para aumentar sua produtividade e competitividade no campo. As modernas aeronaves agrícolas tripuladas e não tripuladas, como os drones, estão cada dia mais seguras e confiáveis, e fazem parte das soluções para o desenvolvimento agrícola sustentável.

Roberto Araújo é Lider de Sustentabilidade e Stewardship da CropLife Brasil.

Sobre a CropLife Brasil
A CropLife Brasil (CLB) é uma associação que reúne empresas, especialistas, e instituições que atuam na pesquisa e desenvolvimento de tecnologias em quatro áreas essenciais para a produção agrícola sustentável: germoplasma (mudas e sementes), biotecnologia, defensivos químicos e produtos biológicos.

 

Canal AgroRevenda

 

Papo de Prateleira

 

Newsletter

Receba nossa newsletter semanalmente. Cadastre-se gratuitamente.