A importância de abrir caminho para mais mulheres na ciência

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viviane-silva

Existem muitos caminhos que uma pessoa pode escolher em sua vida. Um dos que mais me emociona é aquele trilhado pelo exemplo. O meu veio da infância. Minha paixão pela ciência e biotecnologia começou com o entusiasmo das minhas professoras dessas matérias, que sempre estimulavam seus alunos com perguntas instigantes. Os eventos de feiras de ciências eram desafios fascinantes, que despertavam o desejo de pesquisar e compreender os processos que regem a vida, exigindo dedicação e criatividade ainda na jornada escolar. Cresci ouvindo sobre grandes projetos dos anos 90, como o Genoma Humano e a clonagem da ovelha Dolly – dois marcos científicos que abriram inúmeras portas para a ciência moderna.

As novas gerações também contam com boas fontes de inspiração. Em 2023, quatro dos onze laureados com o Prêmio Nobel eram mulheres (esse mesmo número também aconteceu em 2008 e 2020). Em 2023, a bioquímica Katalin Karikó se tornou a 13ª mulher na história a ganhar um Nobel em Medicina. O número de mulheres cientistas laureadas ainda é baixo, mas seus estudos têm um impacto gigantesco, como por exemplo as descobertas de Karikó que possibilitaram o desenvolvimento de vacinas de RNA eficazes contra a COVID-19.

Gosto de usar o exemplo de Karikó porque sua trajetória foi longa e imprevisível. Iniciou sua carreira científica na Hungria, migrou para os Estados Unidos no fim dos anos 80 e, além dos incansáveis experimentos, enfrentou inúmeras dificuldades para obter financiamento e a aceitação de suas pesquisas. Hoje, além de laureada, é professora na Hungria e nos Estados Unidos e ocupa um cargo de liderança na empresa de biotecnologia alemã BioNTech.

Sua história é inspiradora porque reforça a importância de não perder a confiança no que buscamos. Um projeto de pesquisa iniciado por uma jovem cientista pode levar a uma descoberta transformadora – e, no caso de Karikó, salvou milhões de vidas.

Por isso, encorajar a participação feminina em áreas de inovação e tecnologia é fundamental tanto quantitativa quanto qualitativamente. Com mais mulheres nesses setores, ampliam-se as perspectivas e surgem novas formas de construir soluções. A baixa presença feminina na ciência reduz nossa capacidade de avançar. Em termos de qualidade, a diversidade é um fator essencial para o progresso do conhecimento.

Mas ainda há um longo caminho a ser percorrido. Dados da Organização Mundial da Propriedade Intelectual mostram que a equidade de gênero nos pedidos de patentes internacionais está crescendo, mas em um ritmo bastante lento. Se mantivermos esse compasso, a paridade só seria atingida em 2061. As mulheres continuam minoria em diversas carreiras, como engenharia e ciências da computação – justamente áreas que concentram grande parte dos inventores e profissionais responsáveis por inovações.

No entanto, há uma boa notícia. Pelo menos na América Latina, na área de ciências da vida, há um forte engajamento de mulheres nas atividades de patenteamento. Além disso, iniciativas no Brasil e no mundo, lideradas por mulheres, vêm reforçando a presença feminina no empreendedorismo inovador e na proteção da propriedade intelectual. Isso é promissor, pois permite que as novas gerações de meninas se vejam representadas e considerem a ciência como uma opção de carreira.

Nós, cientistas brasileiras, somos reconhecidas internacionalmente, lideramos empresas de biotecnologia e fazemos descobertas relevantes. Somos pesquisadoras, professoras universitárias, empreendedoras e mães, tudo ao mesmo tempo. O que precisamos é de mais incentivo e oportunidades.

 

Viviane Silva é CSO da InEdita Bio.

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