A sociedade global vive uma era em que debates intensos surgem todos os dias: sobre meio ambiente, saúde, economia, tecnologia ou educação. As redes sociais transformaram qualquer assunto em palco de opiniões rápidas. Porém, nem sempre fundamentadas! Nesse cenário, a ciência se apresenta como ferramenta indispensável para que a sociedade possa refletir com profundidade e tomar decisões conscientes.
A ciência não é uma imposição de verdades absolutas. Ao contrário, é um processo constante de investigação com métodos adequados, teste, revisão e atualização. Nós, cientistas, sempre afirmamos: Na ciência, a verdade é sempre a última verdade. É justamente isso que a torna a base mais confiável para validar um pensamento crítico. Ao recorrer a dados oficiais e pesquisas reconhecidas, abrimos espaço para questionar de maneira responsável e nos protegemos das simplificações que frequentemente dominam os debates.
O debate científico não se presta para meras narrativas, opiniões de quem as emite. Isso pertence ao domínio de religiões, ideologias ou política. Todo o cidadão tem o direito inalienável de ter uma opinião, mesmo que discorde do senso comum. Mas, por razões éticas, antes de aferrar-se a ela, deve buscar sua fundamentação científica devidamente comprovada. Discutir com base em ciência significa esgrimir fatos e números comprováveis, acima de qualquer dúvida razoável, chancelados por equipes de cientistas amplamente reconhecidos, lastreados em artigos publicados em revistas de credibilidade, que passaram pelo escrutínio de pares.
O mero discurso, sem a necessária fundamentação científica, permite a propagação de versões que, via-de-regra, contrariam fatos. Um exemplo claro é o fenômeno das fake news, uma das grandes pragas da sociedade atual. Notícias falsas se espalham com velocidade, principalmente quando tratam de temas polêmicos, e muitas vezes moldam percepções coletivas sem qualquer fundamento real – no mais das vezes trata-se exatamente o contrário do que apontam os fatos e números cientificamente fundamentados. Isso ocorreu com muita intensidade no período da pandemia, movido pelo negacionismo científico. Fato semelhante se repete em discussões sobre meio ambiente, uso de tecnologias e até economia. Quando falta o filtro da ciência, abre-se espaço para a desinformação. Um dos maiores desserviços para com a cidadania.
É natural e saudável que as pessoas tenham opiniões diferentes. Este, aliás, é um dos pilares básicos da ciência e do mundo acadêmico, assim como o ceticismo – só acreditar no que é comprovado além de qualquer dúvida razoável. A própria democracia se fortalece e quando convivemos com pontos de vista diversos. O problema está no discurso fácil, raso e apaixonado, sem reflexão, evidências e fontes de credibilidade que confiram fundamento para a escolha. Na prática, significa refutar argumentos consistentes, substituindo-os por meras frases de efeito, deteriorando a qualidade do debate público. É a essência das fake news, do negacionismo científico e do princípio basilar que rege o mundo acadêmico
Isso posto, seja diante de temas ligados ao agronegócio, à educação ou às inovações tecnológicas, a chave é a mesma: precisamos estimular uma sociedade que se aprofunde, que se informe e que use o pensamento crítico como guia. Porque, sem ciência, somos reféns de narrativas. Com ciência, podemos formar convicções próprias, embasadas e responsáveis.
A regra ética e responsável é simples: antes de aderir a qualquer bandeira, busque dados, pesquise, questione, seja cético. Escolher um lado faz parte da vida em sociedade, mas que essa escolha seja resultado de reflexão crítica, de fundamentos irrefutáveis, não de discursos ou slogans. Só assim construiremos um futuro baseado em maturidade, conhecimento e soluções coletivas.
Décio Luiz Gazzoni (FOTO INTERNA) e Ciro Rosolem (FOTO AO ALTO) são membros do Conselho Científico Agro Sustentável