A Cadeia Quebrada

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Carlos Viacava

Carlos Viacava*

Com surpresa, vi na edição de 29/2, no jornal Estadão, a notícia de que três associações de frigoríficos e exportadores de carne solicitaram ao governo federal a cobrança de imposto de exportação sobre as vendas de boi vivo ao exterior.  Segundo a matéria, a indústria pediu ao Ministério do Desenvolvimento a cobrança de 30% de imposto de exportação, pedido esse assinado pela UNIEC (União da Indústria e Empresas de Carne), ABRAFRIGO (Associação Brasileira dos Frigoríficos) e ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne).

Realmente, é vergonhosa essa atitude e um desrespeito total à propalada ideia de integração da cadeia produtiva da carne. Um verdadeiro ato de traição aos demais elos de uma cadeia que só existe nos discursos. Note-se que esse absurdo gesto de tentativa de reserva de mercado ocorre num período em que as exportações de gado vivo estão caindo, de 654.964 cabeças em 2010 para 404.853 em 2011.

Por que não existem mais frigoríficos na Grande São Paulo? Por que o número de plantas no Estado de São Paulo está diminuindo? Por que está havendo um deslocamento dessas indústrias em direção ao norte, acompanhando o deslocamento da pecuária, acuada pela cana-de-açúcar e eucalipto?

A resposta é simples: chama-se custo de transporte. O transporte do boi vivo é muitas vezes mais caro que o transporte da carne. Este, sim, já representa um alto custo para a exportação de gado vivo, um verdadeiro imposto de exportação. Mas eles não estão satisfeitos: além das benesses dos financiamentos e aportes de capital barato pelo BNDES querem mais; querem imposto de exportação.

A cadeia quebrada ou a cadeia furada. Semana passada assisti a mais uma demonstração da incipiência da cadeia produtiva da carne. Nosso companheiro Miguel Cavalcanti do Beef Point realizou um workshop sobre a classificação de carcaça, no qual ilustres professores  e pesquisadores (inclusive o mestre Pedro Eduardo de Felício) expuseram toda tecnologia aplicada nos países de indústria mais evoluída para a produção de carne de qualidade superior, procurada pelo mercado. Nesse encontro ficou patente a total dissociação do setor produtivo da pecuária com as demandas do mercado consumidor.  Não existe diálogo entre os elos da cadeia. Os frigoríficos vendem melhor a carne de boa qualidade (exportam) e destinam as de menor valor para o mercado interno. Se houvesse um jogo aberto, que refletisse um interesse comum de todo setor, poderíamos  caminhar mais depressa para aumentar nossa exportação e nossa produção, pagando-se mais pelo boi de boa qualidade, em proporções equivalentes às alcançadas pelos preços de venda das carnes de diferentes qualidades. O burro vai sempre atrás da cenoura, se houver cenoura.

Faz dois anos ou mais que a arroba chegou nos R$ 100,00 e hoje está abaixo disso. A dificuldade do frigorífico não está aí. O que quebra frigorífico é curral vazio. O setor precisa de uma política cambial que remunere adequadamente o exportador e todo setor produtivo. Estamos assistindo à queda das exportações da carne e do gado vivo porque nossa taxa cambial está desajustada da realidade e, por isso, enfrentamos superávits comerciais cada vez menores.

Louve-se o protesto da CNA, na palavra de Antenor Nogueira, presidente da Comissão da Pecuária de Corte, prometendo acionar o Supremo Tribunal Federal.

Vamos preservar nossa galinha dos ovos de ouro que, no caso da pecuária brasileira, é o boi de capim.

* O autor é criador de Nelore, conselheiro da ABCZ, ACNB e SIC, ex-diretor da Cacex e secretário executivo do Concex (Conselho Interminesterial do Comércio Exterior)

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