A Embrapa Pecuária Sul (RS) desenvolve um projeto inovador que promete transformar a ovinocultura de corte no Brasil. Batizada de “ovelha do futuro”, a iniciativa reúne pesquisas de melhoramento genético que resultaram em animais com quatro características fundamentais: melhor conformação e rendimento de carcaça, perda espontânea de lã, maior prolificidade e resistência natural às verminoses. O objetivo é oferecer ao produtor animais mais produtivos, rentáveis e adaptados às condições de manejo atuais.
Segundo o pesquisador José Carlos Ferrugem, a seleção assistida pode duplicar a eficácia produtiva da atividade, ao melhorar a relação entre custos e receitas. Além disso, há ganhos ambientais, como a redução das emissões de gases de efeito estufa e a diminuição de rebanhos improdutivos. Enquanto as características de prolificidade e conformação são selecionadas pelo genótipo, a perda natural de lã e a resistência a verminoses vêm sendo trabalhadas pelo fenótipo, ou seja, pela observação dos indivíduos que manifestam essas vantagens.
O projeto já iniciou a fase de validação em propriedades parceiras, por meio do repasse de reprodutores. Esses carneiros são cedidos em comodato para acasalamento com as ovelhas de cria, e seus descendentes são avaliados em aspectos como peso, escore de cobertura de lã e resistência a parasitas. A meta inicial é acompanhar pelo menos mil animais nascidos desses cruzamentos.
Entre os avanços alcançados, destaca-se o gene Bombacha, identificado em ovinos da raça Texel, que proporciona até 9% de aumento no peso médio e 5% no rendimento das carcaças. Outra frente é a disseminação de genes ligados à prolificidade, como o Booroola, o Embrapa e o Vacaria, capazes de elevar a taxa de nascimento de cordeiros sem necessidade de ampliar o número de matrizes.
A perda espontânea de lã também representa forte impacto econômico. Com a queda no preço pago pela fibra e o alto custo da tosquia — que chega a R$ 12 por animal ao ano na região de Bagé —, a seleção de ovelhas deslanadas permite reduzir em até 50% a necessidade desse procedimento. Já a resistência a verminoses, obtida a partir da manutenção de animais naturalmente tolerantes, pode cortar pela metade o uso de vermífugos, melhorando o bem-estar animal e reduzindo custos de produção.
De acordo com o pesquisador João Carlos de Oliveira, o projeto pretende dar autonomia aos criadores: “Nosso objetivo é que cada produtor possa desenvolver sua própria ovelha do futuro, escolhendo a combinação genética que melhor se adapte ao seu sistema de produção”. A expectativa é que os primeiros resultados consolidados em rebanhos comerciais confirmem o potencial de inovação dessa nova geração de ovinos.