Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – CEPEA-Esalq/USP indica uma valorização de 14,4% no boi gordo no acumulado do mês.
Em julho e agosto, as cotações pecuárias ensaiaram o início da recuperação das quedas que se sucederam ao longo de todo o primeiro semestre. Mas foi em setembro que os reajustes compensaram as perdas do ano. Forte estiagem agravada por queimadas reduziu significativamente as ofertas de animais a pasto em setembro, mas a demanda esteve aquecida. Nos meses anteriores, desmotivados com os preços e vendo a deterioração das pastagens, pecuaristas já haviam comercializado boa parte dos lotes para abate.
Frigoríficos, no entanto, têm recebido firme demanda para exportação e também dos brasileiros, o que os força a disputar lotes do spot com empresas concorrentes. Para fechar negócio, precisam oferecer valores cada vez maiores pelos animais prontos para abate. Nesse contexto, as cotações máximas do ano têm se renovado dia a dia tanto para o boi quanto para os animais de reposição e também para a carne no atacado.
No acumulado de setembro, o Indicador do boi gordo CEPEA/B3 teve forte acréscimo de 14,4%, fechando em R$ 274,35 no dia 30. No comparativo com a média de agosto, a de setembro (R$ 255,45) é 8,7% maior. Fora do estado de São Paulo, a dificuldade de compra tem sido ainda maior, especialmente nas regiões com menos lotes terminados em confinamentos.
Em Mato Grosso do Sul, onde alguns negócios têm saído a preços superiores aos de São Paulo, a média da arroba de boi em setembro superou em 9% a de agosto; em Minas Gerais, o acréscimo no comparativo mensal foi de 10,2%; na Bahia, foi de 12%; e, em Rondônia, chegou a 15,1%. No mercado atacadista de carne com osso da Grande São Paulo, o ritmo de alta também prevalece, refletindo estoques mais enxutos da indústria.
Levantamentos do Cepea mostram que os ajustes feitos no preço do boi têm sido repassados para a carne vendida aos varejistas, que estão conseguindo escoar o volume adquirido. No acumulado de setembro, a carcaça casada de vaca/novilha se valorizou 15,2%, com o quilo chegando a R$ 17,73 no dia 30; a carcaça casada de boi avançou 12,2%, R$ 18,70 no dia 30 de setembro.
Boi magro x boi gordo – Ao longo do tempo, os preços do boi gordo e do boi magro caminham em sintonia, mas há momentos em que a relação tem alguns descolamentos. Na região de Presidente Prudente (SP), por exemplo, em setembro, o animal magro esteve ligeiramente desvalorizado frente ao gordo. Já em São José do Rio Preto (SP), o apetite de grandes confinamentos instalados na região fez com que o “insumo” se valorizasse ainda mais que a arroba paga pelo frigorífico.
Tanto numa região quanto em outra, o afastamento momentâneo da média pode sinalizar uma correção dos preços em curto ou médio prazo. Desde janeiro de 2022, período em que o mercado vem se reacomodando após os desequilíbrios entre oferta e demanda causados pela pandemia, o preço do boi magro na região de Presidente Prudente representou em média 73% da receita obtida com um boi gordo de 17,5 arrobas abatido na mesma região. No último mês, essa relação baixou para 69,9%, uma das menores já registradas para um mês de setembro, semelhante à de setembro/18.
Em termos absolutos, a diferença que vinha se mantendo por volta de R$ 1.100 por animal saltou para R$ 1.340 por animal em setembro. Já na vizinha região de São José do Rio Preto, os preços em setembro favoreceram o boi magro. Olhando-se a média também de janeiro de 2022 para cá, nessa praça, constata-se que o boi magro representaria 71,5% do valor obtido com a venda de um boi gordo de 17,5 arrobas (a preços desta região) – se o animal for abatido com peso superior, essa participação cai.
Em setembro, nessas bases, a relação esteve em 73,2%, com a diferença por volta de R$ 1.200 por animal, acima dos R$ 1.000 e R$ 1.100 dos meses anteriores. Os fortes aumentos do preço do boi magro em regiões como São José do Rio Preto, Araçatuba (SP), Campo Grande (MS) e Rondonópolis (MT), por exemplo, mostram que confinadores se animaram com a valorização do boi gordo e têm mantido aquecida a procura.
Levantamentos do Cepea mostram que pecuaristas de São Paulo têm ido buscar reposição até no Maranhão e Pará. No caso de bezerros, a baixa oferta de animais somada à falta de chuva tem dificultado a realização de muitos negócios. A média mensal do bezerro em Mato Grosso do Sul foi de R$ 2.096,12 em setembro, 1,6% superior à de agosto. No estado de São Paulo, o aumento do valor médio do bezerro foi de 2% no comparativo de setembro com o mês anterior. Para o boi magro, a alta no comparativo mensal foi mais expressiva, de 3,6% no estado de Mato Grosso do Sul e de 6% em São Paulo.