9 de dezembro de 2015

Na rota mundial da carne gourmet

Marfrig exporta primeiros lotes de cortes com selo de qualidade Brazilian Angus Beef. Remessas iniciais de contêineres fechados seguiram em agosto para a Alemanha e a Holanda.

O Brasil entrou para o seleto grupo dos países que atendem o mercado de carne bovina gourmet ao exportar para a Europa os primeiros cortes de carne in natura com selo de qualidade internacional Brazilian Angus Beef, produzidos pela Marfrig Foods, o segundo maior frigorífico do País. Embora com participação ainda bastante tímida diante dos tradicionais atores desse nicho de mercado – Estados Unidos, Austrália, Argentina e Uruguai –, o ingresso brasileiro no segmento internacional de carne de alta qualidade representa um marco histórico para um país que até então era unicamente reconhecido lá fora como um grande exportador de “carne commodity”, sem a existência de qualquer atestado que o qualificasse como sendo também um potencial fornecedor de produtos nobres, com maior valor agregado.

No segmento gourmet, os cortes bovinos são mais altos, de maior espessura, apresentam elevado grau de maciez, suculência, sabor mais acentuado, textura, maior teor de gordura, marmoreio (gordura entremeada) e, normalmente, são preparados direto no fogo (churrasco), sem a necessidade de receitas. Por isso, são mais valorizados que os tipos de carne “culinária” (bifes finos, cortados, adicionados normalmente a uma receita) ou “ingrediente” (moída, picada, utilizada como recheio para linguiças, salames, entre outros embutidos).

Os primeiros contêineres fechados contendo cortes de carne Angus certificada (picanha, filé mignon, contrafilé, alcatra, entre outras peças do traseiro) foram enviados em agosto último, especificamente para os mercados da Alemanha e Holanda, informa o diretor de Exportação da Marfrig Beef, Alisson Navarro. “Inicialmente, a nossa expectativa é alcançar, até o fim de dezembro deste ano, um volume de embarque médio de 10 toneladas semanais de cortes de carne Angus certificada”, prevê Navarro, acrescentando que, “em breve”, o frigorífico irá expandir o fornecimento do produto para a Itália. “Também estamos negociando a venda da carne para países do Oriente Médio, como Líbano e Jordânia”, revela.

No entanto, na avaliação do diretor, ainda é cedo para traçar metas mais consistentes sobre este novo canal de comercialização. “Estamos trabalhando para ter a maior participação possível, mas tudo vai depender da disponibilidade de animais Angus para o abate e, ao mesmo tempo, temos de manter os nossos compromissos com clientes regulares do mercado interno”, avalia ele, referindo-se principalmente ao segmento de food service, para onde vai a maioria dos cortes de qualidade superior produzidos internamente. Ainda segundo Navarro, a garantia de regularidade na entrega é “fundamental neste processo inicial de abertura de novos mercados”. Em relação à expectativa de diferencial de preço pago pela carne Angus certificada, Navarro diz que o frigorífico já vem recebendo um sobrepreço de 5% a 10% em comparação à carne bovina commodity, variação que oscila de acordo com cada importador.

Segundo Reynaldo Titoff Salvador, diretor do Programa Carnes Angus, da Associação Brasileira de Angus (ABA), entidade responsável pela emissão do selo Brazilian Angus Beef, o desafio é conseguir elevar, no futuro próximo, esse ágio para um patamar acima de 20%. “Para isso, além de comprovarmos a qualidade de nossa carne Angus certificada, mostraremos aos clientes internacionais que também somos capazes de oferecer constância na entrega”, enfatiza Titoff, que prevê fechar 2015 com um universo de 400 mil animais certificados, o que significa 1% do total de abates anuais no País (em torno de 40 milhões de cabeças).

Produzir cortes especiais de carne bovina e identificados pela raça não é nenhuma novidade para a Marfrig, que internamente sustenta programas de fomento à produção de animais com genética britânica, das raças Angus e Hereford, além de participar de projetos que certificam animais de qualidade, tanto taurinos (programas de premiação para a produção de bovinos certificados como Angus e Hereford), quanto da raça zebuína Nelore (programa Nelore Natural, da ACNB – Associação dos Criadores de Nelore do Brasil). O problema é que, no âmbito externo, de nada valia esse trabalho conjunto entre pecuaristas e a indústria frigorífica, já que a inexistência de um selo de reconhecimento internacional fazia dos cortes de carne Angus aqui certificados – e vendidos no segmento de food service com ágio de até 30% – produtos meramente comuns fora do Brasil, ou seja,
tudo era colocado na cesta “commodity”. “Vivíamos uma situação no mínimo injusta, pois todos sabem do enorme esforço que é produzir animais de qualidade superior, que exigem investimentos em genética e nutrição, sem contar o processo criterioso de certificação da raça”, diz Reynaldo Titoff.

No entanto, a despeito dos esforços conjuntos do Marfrig e da Associação Brasileira de Angus, a abertura do mercado mundial de carne premium ao Brasil só foi possível graças ao processo de validação do selo Brazilian Angus Beef junto à Plataforma de Gestão Agropecuária (PGA), sistema instituído pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em parceria com a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA)
e o Instituto Interamericano de Cooperação para Agricultura (IICA). A PGA garante a geração de um banco de dados único, resultando em maior credibilidade, transparência, agilidade na coleta de informações sobre o trânsito de animais, além da integração de vários outros sistemas de controle, como o de sanidade e o de rastreabilidade. Por meio da PGA, por exemplo, é possível bloquear imediatamente o comércio de bovinos de  determinada região no caso de ocorrência de um problema sanitário.

Fonte: DBO

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