Financiamento direto foi responsável por 85% do valor. Número faz parte de levantamento inédito com dados socioeconômicos do setor no Brasil, que inclui mercado de trabalho, arrecadação de impostos e práticas ESG
A indústria de bioinsumos agrícolas forneceu R$ 2,3 bilhões em crédito ao produtor rural em 2022. Desse valor, 85% – ou R$ 1,7 bilhão – foram por meio de financiamento direto. O dado foi divulgado nesta terça-feira (25), em coletiva de imprensa com dados de mercado, socioeconômicos e de inovação do setor realizada pela CropLife Brasil (CLB), em São Paulo (SP). O diretor-executivo da CropLife Brasil, Arthur Gomes, destacou o valor significativo de crédito registrado pelo estudo. “É impossível falar de produção agrícola no Brasil sem citar o tema de crédito ou os mecanismos responsáveis por financiar o produtor, portanto, o valor justifica o aumento do uso dessa tecnologia no país,” analisou o executivo. Além disso, Gomes também fez referência a forte aderência da indústria de bioinsumos brasileira às práticas ESG. “Entre as iniciativas da indústria nos três pilares, identificamos, naturalmente, um percentual maior (47%) no pilar ambiental, porém com destaques também nos pilares social e de governança” destacou o executivo. A pesquisa com dados de 2022 foi realizada pela Marketstrat a pedido da entidade setorial e reuniu informações da indústria. Também participaram da coletiva, o diretor-presidente da CLB, Eduardo Leão, o COO do PwC Agtech Innovation, Dirceu Ferreira Júnior, e os gerentes administrativo e financeiro, Renato Gomides, e de comunicação, Renata Meliga, ambos da CLB.
Crédito
Fundamental para produção agrícola no Brasil, os financiamentos têm sido condicionados por fatores sustentáveis. Exemplo disso é o Plano Safra, que tem oferecido juros reduzidos para produtores com práticas sustentáveis. E a indústria de produtos de controle biológico no país acompanha esse ritmo. No gráfico abaixo, a estimativa da representatividade financeira das modalidades de crédito fornecidas pela indústria de bioinsumos em 2022.
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Fonte: Marketstrat/CropLife Brasil
Impostos
Em impostos, a estimativa do total arrecadado pela indústria de bioinsumos agrícolas em 2022 foi de R$ 472,6 milhões, cerca de 18% do faturamento total. Desse valor, R$ 442 milhões são referentes à movimentação interna e R$ 30,6 milhões são decorrentes do processo de importação das empresas do setor.
Pesquisa & Desenvolvimento
Os investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) das indústrias de produtos biológicos agrícolas no Brasil em 2022 somaram R$ 81 milhões. O valor representa cerca de 3% do faturamento total das empresas do setor.
Mercado de trabalho
O número total de trabalhadores diretos na indústria de bioinsumos agrícolas foi estimado em 5,5 mil em 2022. Em relação à formação dos colaboradores, 46% têm ensino superior completo, enquanto a média nacional é de 16%. A alta qualificação demandada pelo setor se deve à natureza técnica e especializada das atividades desenvolvidas uma vez que as empresas de biológicos operam em ambiente regulamentado e exigem compreensão de conceitos nas áreas de química, biologia, engenharia, agronomia e outras. As funções em alta na indústria de bioinsumos agrícolas envolvem Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) de novos produtos, controle de qualidade, desenvolvimento de mercado e gestão de produção e suporte técnico.
ESG
No pilar ambiental, entre as principais ações das empresas pesquisadas está a adoção de energia limpa, que inclui o abastecimento de energia proveniente do Mercado Livre em complexos industriais, a compra de energia renovável no mercado livre para a maior parte do consumo – mais de 90% –, a implantação de painéis solares nas instalações industriais e centros de pesquisa – projetos para construção de usinas fotovoltaicas em outros centros, garantindo a geração de 100% de energia renovável –, substituição gradativa de transportes movidos a diesel por veículos elétricos, movidos a gás natural veicular (GNV) e/ou biometano, e transporte ferroviário, para reduzir a emissão de CO2.
No pilar social, a criação de políticas de diversidade foi ressaltada por empresas da indústria de bioinsumos. As iniciativas incluem a criação de grupos de afinidade e treinamentos e campanhas internas de conscientização sobre diversidade, equidade e inclusão. Além disso, existem compromissos públicos para o alcance da igualdade de gênero em níveis gerenciais até 2030. Essas ações demonstram o compromisso das empresas do setor em criar um ambiente mais inclusivo e diverso, com a promoção da igualdade de oportunidades e o combate à discriminação nas mais variadas formas.
Já no pilar de governança, a realização de capacitações surge como a principal iniciativa citada, por meio do compromisso das empresas com a ética, a diversidade e a inclusão. Internamente, são oferecidos treinamentos para Código de Ética e Conduta e Manual Anticorrupção, para garantir que os colaboradores estejam alinhados com os valores e princípios da organização. Além disso, treinamentos internos e externos de boas práticas agrícolas, formulações, tecnologias de aplicação e específicos para moléculas, para atender as exigências dos órgãos reguladores, são realizados com frequência.
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Fonte: Marketstrat/CropLife Brasil
Compromissos públicos
De acordo com o levantamento, 100% das empresas respondentes do setor de bioinsumos afirmaram já ter algum compromisso público. Destacam-se:
- Empoderamento das Mulheres: compromisso com a meta de 30% de mulheres em cargos de alta liderança até 2025, alinhado à ONU;
- Sustentabilidade e Transparência: metas de sustentabilidade para 2030, com foco em boa governança, liderança clara, transparência e prestação de contas. Compromisso com a neutralidade de carbono e redução de 30% na pegada de Gases de Efeito Estufa (GEE) até 2030, por meio de medidas de eficiência energética e captura de carbono;
- Redução de Emissões e Conservação Ambiental: meta zero emissão de carbono até 2035. Programas de conservação, parcerias e iniciativas digitais para promover práticas agrícolas responsáveis. Redução de 11% nas emissões de gases de efeito estufa e 8% no uso de água desde 2019;
- Inclusão e Diversidade: investimentos em programas para um ambiente de trabalho mais saudável, com foco em inclusão e diversidade. Programas específicos para contratação de trabalhadores transgênero, com a promoção da inclusão e combate à discriminação;
- Responsabilidade Social e Projetos Comunitários: investimentos em projetos para comunidades vulneráveis, com a promoção de saúde.
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável em destaque pela indústria de produtos biológicos agrícolas refletem a adoção de práticas mais sustentáveis e responsáveis, com o alinhamento da produção e uso de bioinsumos no campo, o que demonstra esforço significativo do setor em mitigar impactos negativos e promover desenvolvimento para a sociedade e o meio ambiente.
- ODS 13 – Ação Contra a Mudança Global do Clima: iniciativas ligadas a restauração de áreas degradadas e redução nas emissões de gases do efeito estufa (GEE) são adotadas por empresas do setor. Como exemplo, a implementação de tecnologias produtivas de menor impacto ambiental, práticas agrícolas ecoeficientes e uso racional de recursos;
- ODS 17 – Parcerias e Meios de Implementação: relevante para o setor de bioinsumos, com abrangência desde a Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) até a produção e distribuição de produtos biológicos. Envolve o financiamento e a mobilização de recursos, parcerias entre governos, academia e empresas privadas, essenciais para os novos produtos;
- ODS 15 – Vida sobre a terra: a biodiversidade é uma fonte de novos compostos biológicos e a conservação de habitats naturais assegura reservatório contínuo de recursos genéticos. Este objetivo é destaque para o setor de bioinsumos, que depende de uma rica diversidade de recursos naturais para inovar e desenvolver novos compostos.