Mauricio Mendes*
Especial para a Folha
Os países que mais consomem suco de laranja industrializado são os EUA (850 mil toneladas anuais), a Alemanha (180 mil) e a França (160 mil). O Brasil consome apenas 41 mil toneladas por ano.
Os volumes são dados em suco concentrado, equivalente a 66 graus Brix (escala de concentração de sólidos solúveis diluídos no suco). Não quer dizer que só se consuma suco a partir do concentrado.
O suco de laranja é consumido de várias formas. A partir do suco concentrado, diluído com água local, sai o NFC, que é o suco pasteurizado. Há também o “freshly squeezed”, ou espremido na hora, o “suco natural”.
Em termos de sabor, o que fica mais distante do suco espremido na hora é o concentrado. Isso se deve à transformação do suco extraído da laranja elevar a concentração de 11% para 66%. Como é um processo de evaporação da água natural, o concentrado tem um gosto de cozido. O NFC, que passa só por pasteurização, tem gosto mais próximo do original do suco.
Países ricos têm consumido quantidades crescentes do suco pasteurizado, porque têm maior poder aquisitivo e pagam por um suco melhor.
Países em desenvolvimento adquirem proporcionalmente mais o concentrado, transformado em néctares e refrescos, formas mais baratas das bebidas de laranja.
No Brasil, um privilegiado país produtor de laranjas, cerca de 300 milhões de caixas das 400 milhões produzidas anualmente são industrializadas. Mas muito pouco do que se produz do suco pasteurizado fica no Brasil – não há estatística clara para isso.
Por outro lado, de 80 milhões a 100 milhões de caixas são consumidas por ano no país como fruta in natura. A maior parte vira suco natural, o que representaria cerca de 400 mil toneladas de suco equivalente/industrializado, consumo inferior só aos EUA.
Por essa perspectiva, o Brasil é um grande consumidor de suco de laranja e, como tal, merece atenção maior de produtores e indústrias.
Com a vida mais corrida, a dona de casa brasileira está diminuindo a compra de laranjas em favor do suco pronto para beber. Também está mais complicado para comerciantes comprar, armazenar e extrair suco de laranjas em seus estabelecimentos. Além disso, há cobranças de taxas adicionais, como na cidade de São Paulo, para recolhimento de lixo -o volume de bagaço de laranjas é grande.
Em tempos de consumo mundial de suco de laranja em queda (mais de 20% desde 2003), oferecer a esse grande país consumidor um suco de qualidade, comparado a um bom suco fresco, parece uma grande oportunidade que não deveria ser perdida.
Maurício Mendes, consultor, é presidente da Associação Brasileira de Marketing Rural & Agronegócio (ABMR&A).