Nesta quarta (31/07), o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu pela manutenção da taxa de juros Selic em 10,50%. A decisão já era um consenso entre os analistas do mercado. Em comunicado, o Banco Central deixou claro diversas preocupações como as relacionadas às questões fiscais e ao câmbio. Confira as análises do comunicado do Copom feitas por especialistas do mercado:
Luiz Rogé, economista, gestor de investimentos e sócio da Matriz Capital Asset:
“O comunicado do Comitê de Política Monetária, que manteve a taxa de juros inalterada em 10,5% ao ano, foi mais hawkish (com intenção de manter as taxas de juros mais altas) do que o anterior, na medida em que levantou uma variável que até então não havia sido levantada antes, que é exatamente a desvalorização do real ou a valorização do dólar frente ao real. Essa questão cambial foi expressamente mencionada no comunicado e como um fator inflacionário assim como também como um fator que altera a expectativa de inflação.
Por conta disso, o Banco Central irá monitorar o comportamento dessas variáveis, o câmbio, para então determinar juntamente, com todas as outras variáveis que eles normalmente acompanham, as próximas decisões de política monetária nas próximas reuniões do Copom.
Só para pontuar, o comunicado dessa reunião de julho foi praticamente idêntico ao da reunião passada de junho, com exceção exatamente de uma inclusão referente a essa nova modalidade, a nova metodologia de acompanhamento da meta de inflação, e com essa inclusão, no meu entender, hawkish, na medida em que a gente está vendo uma desvalorização acentuada e uma volatilidade muito grande no câmbio, não só desde o início do ano, mas principalmente a partir de abril e com destaque para junho e julho.
Comunicado hawkish, taxa estável e dependendo de condições dessas variáveis, principalmente no meu entender do comportamento do câmbio, a gente pode ter, talvez não para 2024 ainda, mas poderemos ter, sim, alterações para cima na taxa Selic.”
Hemelin Mendonça, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital:
“Os principais destaques, na minha opinião, foram em relação a alta da inflação, que não está sendo tão controlada como era previsto. As projeções de inflação do Copom para o primeiro trimestre de 2026 situam-se em 3,4% no cenário de referência e 3,2% em cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo do horizonte relevante.
A política fiscal, que ainda está em desajuste, impacta diretamente a política monetária. E é citada também como uma preocupação.
O tom do comunicado foi mais hawkish, muito em linha com o que os últimos relatórios do banco central têm vindo com o aumento de projeção da inflação para o final deste ano e 2025, além dos gastos do governo ainda altos, e o dólar no patamar de R$ 5,60.
Acredito que podemos esperar hoje um dia de grande volatilidade na bolsa, já que tivemos uma decisão de juros nos EUA, no qual também os juros foram mantidos, o que quer dizer que os ativos de riscos ainda não são tão interessantes, na minha visão, já que ainda temos uma taxa de juros alta.
No final do comunicado o comitê afirmou que vai se manter vigilante e cauteloso, quanto ao cenário econômico, e principalmente com relação a manter a inflação na sua meta. Ou seja, é esperado um cenário de manutenção de juros até o fim do ano, se não houver mudanças.”