Datagro analisa balança comercial de 2024 e perspectivas para 2025

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Balança comercial agronegócio: DATAGRO analisa desempenho do setor em 2024 e perspectivas para 2025

Em termos de receita, foram exportados US$ 165,13 bilhões em 2024, ligeiro recuo de 1,2% ante a receita de 2023, sendo, ainda assim, a segunda maior receita com as exportações da história do setor, de acordo com o levantamento da DATAGRO a partir dos dados da Secex

Em um ano marcado por problemas climáticos, pondo em xeque as lavouras de grãos, café e de cana-de-açúcar, as exportações de produtos do setor do agronegócio brasileiro permaneceram firmes em 2024. Em termos de receita, foram exportados US$ 165,13 bilhões em 2024, ligeiro recuo de 1,2% ante a receita de 2023, sendo, ainda assim, a segunda maior receita com as exportações da história do setor, de acordo com o levantamento da DATAGRO a partir dos dados da Secex. Este montante também representou 49,0% do total das exportações brasileiros no período.

A China se manteve como principal destino dos produtos do agronegócio brasileiro em 2024. As vendas ao mercado chinês somaram US$ 49,7 bilhões, retração de 17,5% ante 2023, ou US$ 10,54 bilhões a menos. Com isso, a participação chinesa saiu de 36,2% em 2023 para 30,2% em 2024. O principal produto exportado para os chineses foi soja em grão, com vendas de US$ 31,5 bilhões (queda anual de US$ 7,4 bilhões) – China comprou 73,4% do total exportado de soja brasileira, 2,6% menos na comparação anual.

Os Estados Unidos foram o segundo país de destino do agronegócio brasileiro, com embarques de US$ 12,1 bilhões (+23,1%). A participação norte-americana nas exportações do agronegócio brasileiro aumentou de 5,9% para 7,4% em um ano. Os principais produtos exportados aos Estados Unidos foram café verde, celulose, carne bovina in natura e suco de laranja.

O aumento das exportações do agronegócio brasileiro em 2024 foi resultante do aumento proporcionalmente maior dos preços – o Índice Quantum da exportação brasileira do agronegócio caiu 1,2%, enquanto o Índice Preço do produto exportado cresceu 2,9% em 2024, em média, de acordo com cálculos da DATAGRO.

 

Entre os principais itens do agronegócio, a exportação de algodão foi a que mais cresceu em 2024 em termos de receita, com US$ 5,41 bilhões ou 62,4% acima da receita gerada em 2023, refletindo um aumento de 16% da produção na safra 23/24, fruto de incremento de produtividade e da promoção do setor no exterior (aliás, o Brasil ultrapassou os EUA como principal exportador de algodão do mundo). Em seguida vieram as exportações de café, que cresceram +52,9% para um recorde de US$ 12,27 bilhões em 2024, mesmo em um ano marcado por problemas de disponibilidade de contêineres, o que levou muitos produtores a recorrer a navios break-bulk. As categorias de sucos (+30,9%), papel e celulose (+27,0%), açúcar (+18,1%) e carnes (11,4%) também se destacaram na lista de aumento das exportações do agronegócio no ano passado.

Em contrapartida, a receita com as exportações de óleo de soja caiu 47,8% em 2024, seguida por milho (-40,2%), soja (-12,5%) e farelo de soja (-15,7%). No caso do complexo de soja, as exportações foram afetadas pela redução de 5% da produção do grão na safra 23/24, fruto da quebra de produtividade, além da maior competitividade do produto argentino no mercado exterior e da demanda mais aquecida no mercado doméstico, sobretudo por óleo de soja para a indústria de biodiesel. As exportações de milho também foram influenciadas pela queda da produção na safra 23/24, tanto em virtude da retração da área como da produtividade agrícola, e pela igual demanda mais forte no mercado doméstico, espelhada especialmente pela indústria de etanol de milho. Não à toa que, devido ao menor excedente exportável, em termos de volume as exportações de milho caíram 28,8% em 2024 para 39,76 milhões de toneladas, embora acompanhadas por uma valorização de 18,9%% no preço médio FOB.

 

No outro lado da balança, as importações referentes ao setor do agronegócio, o que inclui o dispêndio com as importações de fertilizantes e de defensivos, cresceram 5,5% em 2024 para US$ 41,70 bilhões, valor CIF, principalmente em função do aumento do volume de importação de KCL e de nitrogenados. Mesmo assim, a participação das importações referentes ao setor do agronegócio nas importações totais brasileiras caiu para 15,0% em 2024, contra 15,6% em 2023 e 18,9% em 2022, sendo o menor índice nos últimos 7 anos. 

Portanto, a saldo da balança comercial do setor do agronegócio brasileiro, que é a diferença entre as exportações (valor FOB) e as importações (valor CIF), caiu apenas 3,3% em 2024 para US$ 123,43 bilhões. Dessa forma, se não fosse pelo saldo positivo da balança comercial do agronegócio, a balança total comercial brasileira estaria incorrendo em um déficit em torno de US$ 64 bilhões, ao invés de um superávit de US$ 59,50 bilhões em 2024. 

Contudo, ao considerarmos a importação evitada de gasolina em razão do consumo de etanol (em gasolina equivalente) no mercado doméstico (etanol hidratado mais etanol anidro utilizado na mistura com a gasolina), o saldo da balança comercial do agronegócio brasileiro seria contabilmente 12,4% maior em 2024, de US$ 138,77 bilhões, preservando a balança comercial brasileira de aportar um déficit implícito de US$ 79,28 bilhões. 

 

A propósito, o consumo de etanol (anidro mais hidratado) no Brasil bateu um recorde de 26,92 bilhões de litros em gasolina equivalente em 2024, aumento de 14,0% em um ano. Dessa forma, isso significa que o dispêndio evitado com a importação de gasolina devido ao consumo doméstico de etanol também bateu um recorde de US$ 15,36 bilhões (valor CIF) em 2024, 10,7% a mais do que em 2023. 

O ano de 2025 guarda maiores oportunidades para as exportações do agronegócio brasileiro, a começar pelo contexto de valorização do dólar frente ao Real, com a eleição de Donald Trump nos EUA reacendendo a perspectiva de tensões comerciais dados os planos do novo presidente norte-americano de taxar as importações, sobretudo de produtos chineses. Ademais, no lado da oferta, há a expectativa de recuperação das safras de grãos e provável maior oferta de cana-de-açúcar em função das boas condições climáticas desde outubro do ano passado.  

Cabe pontuar que há a probabilidade de maior abertura de janela de oportunidade para as exportações de grãos do Brasil uma vez que a possível tensão comercial entre os EUA e a China pode ampliar a compra de Pequim da soja e do milho brasileiro em detrimento ao produto norte-americano. Em contrapartida, apesar da preferência pelo grão brasileiro face ao cenário de guerra comercial com os EUA, a expectativa de desaceleração da economia chinesa impõe cautela quanto ao desempenho das exportações do agronegócio em 2025. 

Adicionalmente, após registrar recordes, há preocupações quanto ao excedente exportável de café em 2025 em razão dos impactos da seca e dos incêndios nos cafezais em 2024, enquanto o setor de suco de laranja deve enfrentar mais um ano de desafios com pomares envelhecidos e maior propagação de doenças, como o greening.  

No campo logístico, o setor tem investido na expansão e modernização dos portos, a exemplo dos investimentos na infraestrutura do Porto de Santana, no norte do país, o que fortalecerá o Arco Norte como hub estratégico para o escoamento de grãos. 

Outro exemplo de inovação logística, ainda que de longo prazo, é o Porto de Chancay, no Peru, que está recebendo investimentos significativos para permitir uma rota mais ágil em comparação com os portos tradicionais do Atlântico. Embora ainda existam desafios logísticos no Peru, como o trajeto de 800 quilômetros pelos Andes, o investimento em infraestrutura, somado à redução no tempo de navegação, representa uma oportunidade promissora para os produtores da região Norte e Centro-Oeste do Brasil. 

Apesar dos investimentos em rotas alternativas, o Porto de Santos também tem recebido aportes para aprimorar o escoamento de produtos do agronegócio. Em novembro último foi inaugurado o terminal T-32 e a conclusão da segunda fase do terminal da DP World Brasil (DPW), que são estruturas responsáveis por comportar as cargas de celulose e papel. Em paralelo, a Cofco, investiu em um terminal no Porto de Santos com capacidade para movimentar 14 milhões de toneladas de grãos por ano. A inauguração do terminal está prevista para 2025 e deve quadruplicar a capacidade portuária da Cofco no Brasil, permitindo o embarque de até 200 navios por ano. Com conexão direta a ferrovias, o novo terminal promete reduzir custos logísticos e otimizar o escoamento de soja, milho e açúcar, principais produtos exportados pelo Brasil para a China. 

 

 

 

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