A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura defende que o uso da terra seja o principal tema de debate da COP30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas que será realizada em novembro de 2025, em Belém do Pará. Segundo o movimento, esse setor, que responde por até 21% das emissões globais de gases de efeito estufa, também reúne as soluções mais acessíveis e eficazes para mitigação, como o combate ao desmatamento, a restauração de ecossistemas e a ampliação de práticas agropecuárias sustentáveis.
As propostas estão reunidas na publicação “Propostas para uma Transição Climática Global para o Setor do Uso da Terra”, lançada durante a Climate Week de Nova York e que será apresentada à presidência da COP30 e a ministérios brasileiros. O documento destaca que o Brasil, como país-sede do evento, tem a oportunidade de liderar a construção de uma nova economia verde, com experiências que conciliam produção e conservação ambiental.
Para Carolle Alarcon, gerente executiva da Coalizão, o momento é decisivo: “O aumento da temperatura global já ultrapassou 1,5°C. O Brasil tem condições de mostrar ao mundo soluções escaláveis para valorizar a floresta em pé, restaurar ecossistemas e impulsionar o financiamento climático”.
O cofacilitador da rede, Fernando Sampaio, lembra que o país dispõe de tecnologias consolidadas de baixo carbono, como a integração lavoura-pecuária-floresta e o plantio direto, que conciliam competitividade com sustentabilidade. “O desafio agora é ampliar essas práticas com políticas públicas e crédito que premiem quem produz com responsabilidade”, afirma.
A Coalizão propõe ações em três eixos da agenda oficial da COP30: gestão sustentável de florestas e biodiversidade, transformação da agricultura e sistemas alimentares e financiamento e tecnologia. Entre as medidas sugeridas estão o aumento de investimentos para restaurar paisagens, a ampliação de sistemas agropecuários regenerativos e o reconhecimento da bioeconomia como estratégia global de desenvolvimento.
Para Karen Oliveira, também cofacilitadora da Coalizão, o desafio é mobilizar recursos “na velocidade e na escala que a crise climática exige”. Segundo ela, o Brasil possui projetos prontos para receber investimentos de impacto, mas é preciso facilitar o acesso ao crédito, especialmente para pequenos e médios produtores. “A COP30 é a chance de transformar compromissos em fluxos reais de recursos”, afirma.
Com mais de 400 organizações integrantes, entre empresas, ONGs, cooperativas e instituições financeiras, a Coalizão Brasil atua para fortalecer a relação entre clima, florestas e agricultura, defendendo que a transição climática só será possível com o engajamento do campo e o reconhecimento do papel estratégico do uso da terra no futuro sustentável do planeta.
As propostas da Coalizão:
As medidas descritas pela rede foram divididas nos três eixos da Agenda de Ação da COP 30, divulgada pela presidência da cúpula em junho:
Gestão Sustentável de Florestas, Oceanos e Biodiversidade
Propostas:
- Aumentar investimentos para controlar e reverter o desmatamento e a degradação florestal;
- Promover a restauração de paisagens e florestas em larga escala;
- Incorporar ações integradas de prevenção e combate a incêndios florestais;
- Ampliar mecanismos de pagamentos por serviços ambientais;
- Fortalecer a rastreabilidade socioambiental das cadeias produtivas.
Transformação da Agricultura e Sistemas Alimentares
Propostas:
- Recuperar áreas degradadas e ampliar sistemas agropecuários de baixo carbono e regenerativos;
- Implementar sistemas alimentares mais resilientes, adaptados e sustentáveis.
Catalisadores e Aceleradores (Financiamento, Tecnologia e Capacitação)
Propostas:
- Definir padrões globais para finanças agrícolas sustentáveis;
- Reconhecer a bioeconomia como estratégia global para o desenvolvimento sustentável;
- Destinar pelo menos 50% das metas do financiamento climático para adaptação.