Do TAC da Carne à rastreabilidade, 2ª edição dos Diálogos Boi na Linha tratou dos desafios e oportunidades na trajetória para uma pecuária sustentável.
Promover uma cadeia produtiva da carne mais transparente, com foco em rastreabilidade e na amplitude dos compromissos da pecuária é essencial para que o setor atenda tanto às demandas ambientais e sociais quanto às exigências do mercado internacional, facilitando a adaptação às novas regulamentações e evitando o surgimento de barreiras comerciais. As crescentes exigências de mercados como a União Europeia — que demandam rastreabilidade completa — evidenciam a importância desse esforço. Segundo a coordenadora de Rastreabilidade da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Danielle Schneider (foto abaixo), o Brasil já exporta cerca de 28,5 milhões de cabeças de gado por ano, com 54% do total destinado à China e uma parcela significativa em cortes nobres para a Europa.
A especialista da Abiec foi uma das palestrantes da 2ª edição dos Diálogos Boi na Linha, realizada em Cuiabá (MT), no dia 23 de outubro. No encontro, as estratégias para manter a pecuária brasileira como referência em produtividade e qualidade estiveram em pauta. Realizado pelo Imaflora – Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola, o evento busca explorar os desafios e oportunidades da bovinocultura, oferecendo um espaço para troca de experiências e construção coletiva de soluções.
O Programa Boi na Linha, lançado em parceria com o Ministério Público Federal (MPF) e o Imaflora, tem avançado como ferramenta para fortalecer a governança e a transparência na cadeia da carne e do couro bovinos no Brasil. Desde 2019, o programa tem estimulado o cumprimento do que determina o Código Florestal e a implementação de práticas de rastreabilidade e sustentabilidade, fundamentais para o cumprimento de exigências internacionais e o combate a irregularidades socioambientais.
O gerente em Cadeias Agropecuárias do Imaflora, Lisandro Inakake, destacou durante os Diálogos que a pecuária é extremamente importante para o crescimento do Brasil e, ainda assim, a sua relação com os aspectos ambientais ainda é vista como negativa. “Temos um potencial enorme e muito o que ajustar. No entanto, projetos e iniciativas como o Boi na Linha já demonstraram o quanto o gado pode ter um impacto neutro, positivo ou de baixo carbono dentro dessa agenda. Cabe a nós ampliarmos a implementação dessas iniciativas e conseguir contar uma história positiva”, resumiu.
Adaptação e responsabilidade do setor – Essa movimentação rumo a uma produção mais transparente e sustentável exige colaboração entre os diversos elos da cadeia produtiva e a inclusão dos produtores é um dos pontos cruciais no debate. O diretor Comercial do Grupo Frialto e presidente do Sindifrigo, Paulo Bellincanta (foto abaixo), ressaltou a importância de critérios de rastreabilidade factíveis, sem prejudicar a competitividade. No mesmo sentido, o diretor de Operações do Instituto Mato-Grossense da Carne (IMAC), Bruno de Jesus Andrade, pontuou que, ao excluir pequenos produtores do mercado formal, o setor perde oportunidades de agregar valor e incentivar melhores práticas. “Eles acabam vendendo para empresas sem controle, o que dificulta o investimento em melhorias”, explicou Andrade.
Nesse contexto, o setor busca unir rastreabilidade sanitária e ambiental, como destacou o diretor de Parcerias da The Nature Conservancy (TNC), Fábio Medeiros, reforçando a garantia de que o investimento em monitoramento seja balanceado com incentivos ao produtor. “O custo da rastreabilidade é pequeno frente ao valor que agrega e precisamos olhar para o longo prazo”, afirmou Medeiros, frisando a importância de incentivos especialmente para pequenos pecuaristas.
Para o procurador da República e coordenador do Grupo de Trabalho (GT) Amazônia Legal, Rafael da Silva Rocha, se faz necessário manter um diálogo constante. “É por meio dessa troca e da melhoria contínua que vamos atingir objetivos comuns”, destacou Rocha, reforçando a importância da expansão do Termo de Ajustamento de Conduta da Carne (TAC da Carne), fundamental na regularização de frigoríficos na Amazônia Legal.
Ampliando o diálogo – Lisandro Inakake salientou a importância de o evento “Diálogos Boi na Linha” proporcionar um espaço em que todos os elos da cadeia produtiva possam construir uma visão compartilhada sobre os desafios e necessidades da pecuária sustentável. “Este segundo encontro teve como principal objetivo criar pontes entre as instituições e os produtores de Mato Grosso, promovendo um ambiente de discussão aberto e focado no aprendizado e na escuta ativa das demandas regionais. A partir desse entendimento, conseguimos adaptar os referenciais do Programa Boi na Linha para apoiar o Ministério Público Federal com um olhar mais próximo da realidade local,” enfatizou.
Inakake sublinhou que, ao longo dos últimos cinco anos, o Programa Boi na Linha tem permitido uma visão mais clara de como algumas práticas de exclusão, por exemplo, podem gerar distorções na cadeia. Por isso, é essencial que o diálogo constante e de longo prazo contemple alternativas para produtores que precisam se adequar às normas socioambientais. “O evento consolida o papel do programa em apoiar tanto a inclusão quanto o desenvolvimento sustentável, engajando todos os participantes em uma agenda positiva para o futuro da pecuária no país”, finalizou.
Sobre o Boi na Linha – Lançado em 2019 pelo Imaflora em parceria com o Ministério Público Federal (MPF), o Boi na Linha articula os elos da cadeia produtiva da carne e do couro na Amazônia Legal, interligando produtores, frigoríficos, curtumes e varejistas. O objetivo do programa é garantir a implementação dos compromissos socioambientais assumidos pelos signatários dos TACs.
A plataforma online disponibiliza dados, ferramentas e informações sobre o setor de forma totalmente aberta e transparente para a promoção de uma cadeia livre de irregularidades socioambientais. Além da parceria com o MPF, a iniciativa conta também com o apoio da ABIEC e financiamento da União Europeia e demais organizações: Moore Foundation, Partnerships for Forests, NWF, Instituto Clima e Sociedade e Great for Partnerships do Reino Unido.
Sobre o Imaflora – Desde 1995, atua na promoção do uso sustentável e inclusivo dos recursos naturais. Suas ações conciliam conservação ambiental e desenvolvimento econômico, atendendo a demandas das cadeias florestais, agropecuárias, da sociobiodiversidade e da agenda climática. Realiza trabalho em campo, assistência técnica, serviços ESG e certificações, além de pesquisa e desenvolvimento de dados.