O agronegócio tropical é a solução contra a insegurança alimentar, mudanças climáticas, desigualdade social e insegurança energética, pois pode ampliar a área plantada e melhorar ainda mais sua produtividade. A avaliação é de Roberto Rodrigues (embaixador especial da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura – FAO e Conselheiro da ABAG), que participou do 23º Congresso Brasileiro do Agronegócio (CBA), promovido pela ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio) e pela B3, a bolsa do Brasil, nesta segunda-feira.
“O cenário atual mostra que não há líderes nem uma organização multilateral fortalecida. Com isso, o Brasil tem a oportunidade de ser protagonista nesse processo. Mas é preciso montar uma estratégia consistente, adequada e articulada com o setor privado, além de se ter parceiros do mundo tropical”, afirmou Rodrigues.
Para Sueme Mori (diretora de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e da Pecuária do Brasil – CNA), o Brasil precisa amadurecer por dois caminhos: defesa e influência. O primeiro item está ligado à contenção de danos e está sendo feito pelo setor no caso das regulamentações europeias. “Precisamos influenciar quem influencia, especialmente no debate técnico, levando as especificidades da agropecuária brasileira para organizações internacionais que, de alguma forma, ainda têm sua importância”, avaliou.
Complementando a análise de Sueme, Silvio Cascione (diretor e chefe da Eurasia Group no Brasil) destacou que também é preciso propor iniciativas de parcerias comerciais, mas também de financiamentos, para que a diplomacia possa colaborar nas negociações. “O governo não tem capital para atender todas as demandas de financiamento, então podemos buscar outros parceiros, além dos atuais, para investir na agricultura de baixo carbono, na recuperação de áreas degradadas, que exigem um capital muito grande. Há investidores interessados nesta agenda”.
Outro ponto tratado por ele foi a importância de o Brasil manter uma posição de neutralidade e continuar investindo no multilateralismo para atender a demanda da China, do Oriente Médio, que está em transição, e da Índia, sem deixar de ser parceiros da Europa e do Estados Unidos. “Não é nada trivial ter boas relações com todos os atores, ainda mais num mundo que se apresenta mais fragmentado e pela rivalidade entre a China e os Estados Unidos”, comentou Cascione.
O painel Clube Fragmentado: o Brasil será associado? contou também com a participação de Cristiano Noronha (vice-presidente da Arko Advice), recordou que o agronegócio é organizado politicamente com a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e forte economicamente. “Não há governo que enfrente o agro, porque é o maior partido do Congresso Nacional”, pontuou. A seu ver, o Brasil não se prepara para o futuro, pois toma suas decisões quando há um problema consolidado e não por convicção, além de o país falar mal de si mesmo, repercutindo no planeta.
Homenagens – A ABAG entregou duas homenagens durante o 23º Congresso Brasileiro do Agronegócio. O ex-ministro da Agricultura Marcos Montes recebeu o Prêmio Ney Bittencourt de Araújo – Personalidade do Agronegócio 2024, que foi apresentado por Francisco Matturro, diretor Executivo da Rede ILP-F e diretor da ABAG. “Estou muito feliz com este prêmio tão relevante para a minha vida. Sou entusiasta do agro e acredito que fazer a aliança pelo Brasil nos levará a um país desta agricultura que é uma só”, disse Montes.
O professor da Esalq/USP Carlos Eduardo Pellegrino Cerri, diretor do CCARBON (Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical), foi agraciado com o Prêmio Norman Borlaug – Sustentabilidade 2024, cuja apresentação foi feita por Eduardo Brito Bastos, coordenador do Comitê de Sustentabilidade da ABAG. “Sinto-me honrado. Agradeço aos amigos, ABAG, família e colaboradores do CCarbon. O prêmio aumenta minha responsabilidade, assim como a contribuição para os estudos ligados à sustentabilidade brasileira”, afirmou Cerri.