11 de janeiro de 2022

Morre Ignácio Donel, pioneiro e visionário do cooperativismo

O ex-presidente da Ocepar Ignácio Aloysio Donel, um dos maiores nomes do cooperativismo do Paraná, morreu na noite desta segunda-feira (10/01), em Medianeira, Oeste do estado, aos 85 anos. Autoridades e representantes do cooperativismo lamentaram a morte do líder, que presidiu também importantes cooperativas do Paraná e foi o arquiteto do surgimento do cooperativismo de crédito no estado.

Ignácio Aloysio Donel nasceu em São Luiz Gonzaga (RS), em 13/02/1936. Na adolescência resolveu ser sacerdote, carreira interrompida por um acidente num jogo de futebol. Após sua recuperação, reiniciou sua vida como professor na escola primária de Pinheiro Machado, município de São Paulo das Missões (RS). Em 1964, nas férias escolares, a convite do pai de um dos seus alunos viajou à Missal (PR), próximo a Medianeira, para conhecer a “Gleba dos Bispos”, que recebia migrantes gaúchos.

Donel assumiu a gerência da cooperativa Comasil, recém-constituída, mas de adesão compulsória aos colonos que adquirissem terra na gleba. Adequar a cooperativa à legislação foi uma de suas primeiras missões. Donel presidiu a cooperativa, então Cotrefal até 1973 e foi reeleito em 1979, permanecendo no cargo até 1991. Também presidiu a Cotriguaçu. Em 1988 assumiu a presidência da Cooperativa Central de Crédito (Cocecrer), organizando o cooperativismo de crédito, depois foi presidente da Sicredi Paraná. Deixou a central em 1997, após liderar a adesão das cooperativas de crédito do PR ao Bansicredi.

Como vice-presidente da Ocepar, entre 1991 e 1992, concluiu o mandato de Wilson Thiesen, que assumiu a presidência da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). Ficou apenas dois anos no cargo de presidente porque os estatutos impediam a reeleição de quem havia concluído um segundo mandato como presidente ou vice-presidente, que era o seu caso. Em entrevista para o Informe Paraná Cooperativo, Donel afirmou que preferiu assumir a presidência da Ocepar, mesmo por um curto período, “com o propósito de, através da Ocepar, ter mais penetração e presença em todas as cooperativas de produção para vender a ideia das cooperativas de crédito. E aproveitar da Ocepar tudo o que de útil se poderia aproveitar para a construção do cooperativismo de crédito”.

Donel também aproveitou a experiência da Ocepar com o Projeto de Autogestão na estruturação do cooperativismo de crédito. Com base nisso, introduziu no estatuto das cooperativas de crédito a responsabilidade solidária, que deu sustentação ao crescimento do sistema, embora também tivesse provocado algumas dissensões.

Crédito – Em suas viagens na organização das cooperativas de crédito percebeu a necessidade da integração regional que permitisse a discussão de temas de interesse entre as cooperativas que vivenciassem a mesma realidade. “Então, surgiu a ideia de reunir essas cooperativas em núcleos administrativos de toda a região e, com isso, uni-las em assembleias com uma proposta mais diversificadas, mais discutidas”, afirmou o ex-presidente da Ocepar. Donel ressaltou que “se não estivéssemos organizados em torno da Ocepar, o cooperativismo de crédito não existiria”.

Em 1991, a Ocepar implantou os núcleos regionais cooperativos em cinco regiões: Norte, Noroeste, Oeste, Sudoeste e Centro-Sul. Donel também defendeu a organização sindical do sistema cooperativista. “Eu vi que faltava para a Ocepar esse lado sindical. Os outros tinham e nós não tínhamos. Era uma organização, mas organização era um termo muito vago. Então, tinha que ser sindicato e organização. Sindicato para organizar a defesa e a organização para a autogestão”. A organização sindical da Ocepar ocorreu a partir de 1995.

50 anos Ocepar – A última participação de Donel num evento do Sistema Ocepar foi no ano passado, durante as comemorações dos 50 anos de fundação da Ocepar, na Assembleia Geral Ordinária, realizada no dia 5 de abril de 2021, por meio de um vídeo gravado especialmente para o evento. Na ocasião, foi destacado um trecho de uma entrevista dele, em 2011, quando afirmou: “Assim como o cooperado sozinho não tem força, uma cooperativa que não se une a uma entidade representativa também acaba limitando seu alcance”, se referindo sobre a importância da Ocepar.

“Antes de 1971, o sistema estava desorganizado e não havia um direcionamento comum, um projeto compartilhado de ações. Com o nascimento da Ocepar, o Paraná se tornou grande, pois passou a contar com uma entidade que uniu as diferenças realidades, no campo e na cidade, promovendo a integração das diversidades”. Donel, que no início da sua vida foi professor concluiu: “Com o surgimento do Sescoop, a profissionalização de dirigentes, cooperados e colaboradores se intensificou de uma forma sem precedentes na história do cooperativismo brasileiro. É uma verdadeira revolução, que abriu as portas para o futuro de oportunidade para as cooperativas”.

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