2 de agosto de 2024

Cães vira-latas pedem os mesmos cuidados que os pets com pedigree

Médica Veterinária do IBMR, no RJ, diz que check-ups semestrais são necessários para saúde animal

O “melhor amigo do homem”, com raça definida ou Sem Raça Definida (SRD), necessita de cuidados veterinários constantes. Ainda que o senso comum entre muitos tutores aponte que o cão “vira-lata” é mais resistente a doenças, o ideal é seguir o protocolo fazendo check-ups semestrais e controle de vacinas. “Isso é um mito. Antigamente, a maioria dos vira-latas morava na rua e por isso era raro as pessoas verem este animal doente. Acreditava-se que esse animal era mais resistente”, justifica a coordenadora adjunta do curso de Medicina Veterinária, do Centro Universitário IBMR, Isabella Morales. O IBMR integra o ecossistema Ânima no Rio de Janeiro. A professora afirma que a percepção do valor afetivo desses animais mudou muito. “Claro que se formos comparar o vira-lata com os bulldogs, que são braquiocefálicos, este vai dar muito mais trabalho do que o primeiro. Porque ele já vem com essa comorbidade, com essa alteração associada que impacta na qualidade de vida do animal”. Mas, no geral, os vira-latas estão suscetíveis às mesmas doenças e problemas, frisa.

Pela comorbidade, cada raça vai ter uma alteração diferente. Os Shih-tzu, acrescenta, normalmente “são campeões de visita ao oftalmologista. Devido aos olhos mais proeminentes, eles têm predisposição para desenvolver úlcera de córnea a traumas externos”. Mas isso, reforça Isabella, não significa que o vira-lata seja realmente mais resistente. Houve um tempo em que o cão vira-lata, ainda que sempre popularíssimo, era encarado como um pet de raça sem valor. Hoje, a chave mental da população virou e eles viraram objeto de desejo, a exemplo do chamado vira-lata “caramelo” e outros, que chegam a virar influencers nas redes sociais e faturam alto com publicidades junto de seus tutores.

“Quando a gente traz esse tipo de informação para os dias de hoje, tudo muda. Há uns 15, 20 anos, os animais domésticos não viviam dentro de casa. Quando a gente queria um cachorro, eu e meus irmãos, por exemplo, nossos iam a um centro de acolhimento de animais da minha cidade, em Jundiaí (SP). Em uma dessas visitas, a gente escolheu um filhote, a Lilica. Mas eu vejo que o tratamento que dou para os meus animais hoje em dia é muito diferente se comparado com aquela época. A Lilica passeava conosco na coleirinha, ela não ia para o shopping em uma cadeirinha”, explica a médica veterinária e professora no IBMR. Para quem não sabe, existe vira-lata em todo lugar do mundo, mas, o termo correto para definir esses animais é Sem Raça Definida (SRD). “Qualquer animal que cruze com outro animal, ambos de duas raças diferentes – um poodle com um pastor alemão, um chihuahua com um Shar-pei – o filhote desses animais vai ser um Sem Raça Definida”, explica.

Gigante em casa
“A gente não tem essa previsibilidade com um animal SRD. Muitas pessoas olham o tamanho de pata, vão acompanhando o estirão de crescimento deles nos primeiros meses… Mas, é incerto saber qual o tamanho que esse animal vai ficar. Ninguém consegue fazer essa previsão. Claro que ele pode ser filho de uma mãe pequenininha e o pai era grande, mas, isso não nos dá nenhuma certeza de que esse filhote vai ser de porte pequeno. Então, é importante que as pessoas não caiam nesse golpe. Isso é fake news”, ensina a professora.

Em outro aspecto, quando é um cão de raça específica, o comportamento e tamanho dele já adulto são mais previsíveis. Mas, como saber se o filhote SRD vai latir muito, vai ser mais bagunceiro e, principalmente, se vai virar um pet de grande porte? Para a professora, isso pode ser contornado, em qualquer raça, por meio da maneira como se cria o animal, aliada ao treinamento. “Não existe garantia de que vai ser um filhote tranquilo, que não late, não brinca muito. A criação desse animal é muito mais importante do que a raça dele. Neste caso, você vai ter que passear mais vezes ao dia com ele ou contratar um colega veterinário comportamentalista para adestrar e treiná-lo. Lembre-se de que tudo pode ser ajustado, quando se fala de comportamento. Mas, sobre tamanho a gente não consegue ajustar”, diz.

Caramelomania
Sobre o advento da fama do vira-lata caramelo, a professora acredita que a consciência da população mudou. “Hoje temos a vertente do ‘adotar e não comprar’. Afetivamente para os tutores, o animalzinho que está na rua vale tanto quanto um filhote de Chihuahua, que chega a custar R$ 10 mil. Além desses, há outras raças sendo vendidas por R$ 15 a R$ 30 mil reais”, cita. “Entendo que as pessoas começaram a vê-lo de maneira diferente e colocam uma estrela nesses animais. E isso é muito bom. Mas, na minha opinião, o que mudou mesmo foi a conscientização do adotar e não comprar”.

Quatro cuidados que devemos ter ao adotar um vira-lata/SRD

1 – São os mesmos cuidados para qualquer animal de outra raça. A cada seis meses levar esse animal para fazer exame de sangue, ultrassom, exame de urina, avaliação do score corporal. Claro que por ser uma mistura, às vezes, pode não ter o que são as predisposições raciais. “Ao contrário de um braquiocefálico como os bulldogs, que a gente já sabe que podem ter problemas respiratórios, problemas articulares, ósseos”.

2 – “Para esse animal, a ração fornecida deve sempre ser da melhor qualidade que for possível para esse tutor comprar”, diz a professora. Opte pelas rações “super premium” (categoria que possui maior valor nutricional e ingredientes de qualidade, quase sempre feita com 100% de proteína de alto valor biológico). Isso evita problemas nutricionais.

3 – Faça a desparasitação e vermifugação dos SRD. “Principalmente aqui no Rio de Janeiro, onde a gente tem uma área endêmica para a dirofilariose, que é o verme do coração. Avalie a necessidade desses animais terem as medicações contra o mosquito em dia, seja a coleira, seja as medicações tópicas”.

4 – Além disso, se o animal foi adotado, ele vai precisar passar pelo check-up de adoção: exame de sangue; vacinas, se ele estiver saudável (nunca faça a vacina em um animal debilitado); testes das doenças mais comuns no Brasil; se for filhote, faça o teste de parvovirose; se for um animal adulto, você vai testar para erliquiose, babesia, anaplasma.

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