Pedro Lupion destaca batalha concorrencial como eixo do tarifaço

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Alerta foi feito pelo presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária durante o Fórum do Agronegócio, realizado pela Sociedade Rural do Paraná.

 

O impacto do tarifaço imposto pelo governo de Donald Trump sobre produtos brasileiros foi um dos temas centrais do 6º Fórum do Agronegócio, realizado em Londrina pela Sociedade Rural do Paraná. O presidente da Frente Parlamentar do Agronegócio (FPA), o deputado Pedro Lupion, destacou no primeiro painel do evento que, mais do que uma questão tarifária, está em curso uma batalha concorrencial, que envolve setores estratégicos da economia, como o etanol e o café.

“Eu voltei dos Estados Unidos [recentemente]. Estava lá com uma missão importante, tentando auxiliar também nesse lobby. Nos EUA tudo funciona assim, com lobby no Congresso e no governo. Foi assim que conseguimos resolver a questão do suco de laranja, mostrando ao governo americano que o café da manhã ficaria mais caro sem a laranja brasileira. Agora, seguimos o mesmo caminho no café, principalmente o solúvel, que responde por quase 30% do mercado americano”, relatou Lupion.

Segundo ele, as tensões comerciais revelam um pano de fundo mais profundo: a concorrência com os americanos em áreas estratégicas. “Os Estados Unidos tentam há mais de 30 anos colocar o etanol de milho no mercado brasileiro. Isso seria mortal, principalmente para as usinas do Nordeste, muitas ligadas à agricultura familiar. Por outro lado, pedimos compensação com uma abertura maior para o açúcar brasileiro. Essa é a lógica da negociação.”

O deputado destacou que a expansão da produção de etanol no Brasil, especialmente o de milho, transformou o cenário competitivo. “Foi a primeira vez que superamos os americanos em uma safra inteira, com 150 milhões de toneladas. Só o Mato Grosso produziu mais do que a Argentina inteira. Para eles, isso representa um risco econômico e concorrencial”, disse.

Além da disputa comercial, Lupion explicou que os EUA recorrem a mecanismos legais para pressionar o Brasil. “As investigações 301 do Departamento de Comércio americano permitem criar embargos e dificultar nossa posição em organismos como OMC e OCDE. Tivemos a oportunidade de apresentar defesas por cadeia produtiva – café, laranja, madeira – com apoio do embaixador Roberto Azevedo. Fomos muito bem nessas áreas, mas ainda enfrentamos grandes desafios.”

Entre os pontos mais delicados, o parlamentar citou o etanol, alvo de críticas ligadas a questões ambientais e sociais. “Entram narrativas de desmatamento, trabalho escravo, legislação trabalhista. Chega lá e isso é colocado à mesa, como se nossa produção não fosse responsável o suficiente para atender aos padrões americanos. Essa é a discussão.”

Lupion também criticou a atuação diplomática do Brasil em Washington. “A embaixada brasileira falhou tanto que sequer foi ouvida por alguém [em audiência com autoridades americanas]. Está nesse nível a dificuldade de negociação e articulação política. E parte da resposta que recebemos lá é que o Brasil precisa resolver suas questões políticas internas antes. Entrou o viés político: Supremo Tribunal Federal, presidente Bolsonaro, big techs. Até o Pix foi criticado, assim como a proposta dentro dos BRICS de substituição do dólar em negociações.”

Para o presidente da FPA, o momento exige estratégia firme e articulação institucional. “Não é apenas uma questão de tarifa. É concorrência direta, risco econômico e falhas de representação política e diplomática. Precisamos de ação coordenada para proteger nossos produtores e consolidar os mercados que conquistamos.”

Dívida pública – O sócio-diretor da Apex, Wagner Kronbauer, afirmou que a questão dos juros, que afeta diretamente o agronegócio, precisa ficar longe do debate ideológico e focar no crescimento assustador da dívida pública. “Temos que olhar para além do superávit primário, porque ele acaba criando uma certa maquiagem sobre o problema da dívida pública no Brasil.” A dívida continua crescendo e deve continuar assim no futuro próximo, já que em 2026 o país terá eleições gerais, ambiente que não favorece a contenção de gastos.

“Precisamos atacar esse problema e só assim vamos ter, de forma sustentável, juros a níveis mais aceitáveis”, acrescentou. A dívida pública, segundo ele, deve estar no centro das discussões dos candidatos à Presidência da República no ano que vem.

O presidente da SRP e anfitrião do fórum, Marcelo Janene El-Kadre, destacou que os produtores brasileiros enfrentam atualmente limitações dentro da porteira, mas as maiores barreiras do setor estão no mercado externo. “Precisamos abrir novos mercados, viabilizar dentro da realidade do produtor e acreditar em ações como este Fórum para gerar novas ideias.” O Paraná, disse ele, tem como papel ser o hipermercado do mundo, por sua importância na produção e industrialização de alimentos. Chamou a atenção também para a necessidade de mobilização conjunta entre o setor privado e o poder público.

Fiagro do estado – O governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Junior, afirmou que o Brasil tem uma grande oportunidade, diante da crescente escassez global de alimentos, hoje o grande desafio do planeta. Antes, segundo ele, o petróleo era a preocupação. Agora é a segurança alimentar. O Brasil está no centro da única região do mundo com capacidade de aumentar a produção desses alimentos, sem a necessidade de desmatar.

Ratinho Junior também citou a criação, neste ano, do Fiagro Paraná, o primeiro fundo estadual desse tipo no país, criado pela Fomento Paraná para financiar projetos de infraestrutura e agregação de valor no agronegócio do estado. O fundo terá como característica permitir financiamentos mais acessíveis, por oferecer juros mais baixos aos agricultores. “O Fiagro é a carta de alforria do agro brasileiro. É uma independência. O setor produtivo passa a ser auto financiado.”

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