Pecuária segue em bom momento, mas exige gestão tecnológica

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Abates estão crescendo, arroba tem força, exportações avançam e bezerro promete valorizar nos próximos dois anos.

A Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais (ASBRAM) reuniu em Goiânia (GO), coração da pecuária do país, 42 profissionais, executivos, fornecedores e consultores envolvidos com a nutrição animal dos bovinos, além de mais de duzentos internautas conectados pela web, para examinar com profundidade a cadeia da carne e do leite bovino neste ano. A entidade congrega 70% do mercado de suplementos minerais no Brasil, com 99 empresas afiliadas, e ainda divulgou os números da venda de suplementos de janeiro a julho deste ano, que emplacaram um avanço de 0,5% sobre o ano passado, acumulando 1,42 milhão de toneladas. Com um total de 67 milhões de animais suplementados.

“São dois meses de queda na comercialização, o que indica uma desaceleração do mercado. Paradoxalmente, com uma contração forte em alguns produtos por um lado e forte crescimento por outro. Mas, se tivermos uma boa recuperação no restante do segundo semestre, o cenário mais otimista aponta para vendas de 2,56 milhões de toneladas, o que emplacaria uma leve queda de 0,4% sobre o ano passado, que foi um período bem robusto para o segmento”, analisou o professor da Fundação Getúlio Vargas e responsável pelo Painel de Comercialização de suplementos minerais da ASBRAM, Felippe Cauê Serigati.

Os participantes da reunião foram unânimes em reconhecer que não é fácil analisar esses dados num país tão grande, ainda mais em tempos turbulentos na geopolítica nacional e internacional. “Os meses vinham bem neste ano, mas chegou a questão das tarifas de importação dos Estados Unidos e a coisa deu uma somatória de política, o clima do inverno e o preço do boi”, reconheceu Fernando Penteado Cardoso Neto, presidente da Associação. “O pecuarista em Goiás vive desesperado, mas, neste ano, não faltou pasto para aluguel. E a chuva muda a realidade, mesmo caindo dois ou três dias apenas. E justifica uma diminuição no uso de suplementos, uma adubação menor. O cenário político é o que menos impactou na pecuária”, acrescentou  Rodrigo Albuquerque, veterinário, pecuarista,  analista do ‘Notícias do Front’ e palestrante do dia de debates.

Maurício Velozo, Presidente da Associação Nacional de Pecuaristas (Assocon) ‘usou’ a imagem do produtor goiano para modelar o pecuarista brasileiro. “O pecuarista só vive com duas emoções. O pânico e a euforia. Porém, o importante é não descuidar do rebanho dele, que é o que mais interessa. Os fundamentos continuam realistas. Investir em produtividade, clima e mercado. Tudo indica uma recuperação ainda maior de valores, da arroba e da reposição. A alta nunca é linear. Temos que manter a atenção com a tendência. Levar ao público alvo a lucidez’, aconselhou.

A visão ponderada sobre o mercado atual e as perspectivas foram defendidas por Rodrigo Albuquerque na apresentação. Ele enfatizou que o ciclo pecuário vai permanecer virando, de diversas formas, dinâmico, só não se sabe para onde. “É certo que o mercado premia quem enxerga antes dos demais. E que vivemos um ambiente volátil com margem estreita. Mas é fato, também, que o abate cresce há três anos, sustentado pelas fêmeas. Com novilhas mais caras do que o boi. Como eu jamais imaginei ver. Um animal de mérito genético. Engordar novilha dá 5% ao mês de ganho. Giro rápido e retorno. Só que está diminuindo a velocidade e deve ter ‘apagão de bezerro’ daqui três anos. Trazendo  recuperação do preço nominal da cria. E do boi incluído. Até R$ 413, recuperando aos poucos”, arriscou.

O analista disse ainda que o Brasil produziu muita carne em 2024 e vai ser assim neste ano. Fruto da inseminação artificial, que só caiu pela primeira vez depois de vinte anos. Pelo mesmo motivo vai ter menos abates em 2026 e 2027. “As peças do quebra-cabeças vão entrando no sistema. Fase de retenção de fêmeas. Setor de inseminação voltando com tudo. Os confinamentos pequenos estão diminuindo os números porque estão confinando mais. E expandindo. A vaca, a cria e a pastagem são os diferenciais da pecuária brasileira. Temos genética de altíssima eficiência. Mas é mal distribuída no Brasil. E o lucro está interessante para o pecuarista. A exportação está crescendo 13,5% a mais do que o mesmo período recorde da nossa história e com recuperação de preços. Faturamento quase 50% maior do que no ano passado. Com a ajuda do câmbio. E ajudando na arroba dentro do Brasil. Projetando preços acima de 60 dólares a arroba”, reforçou.

Porém, 2025 deve ser vivido dia após dia. O cenário é bom, mas é necessário ficar de olho.  “A carne nos Estados Unidos teve disparada nos preços. Mas as nossas proteínas são mais abundantes e de qualidade. E o mercado interno não deve ter explosão de preços. Olho mais para uma arroba de R$ 350 reais, mas fica mais difícil por causa do câmbio e da resistência do mercado interno. O ciclo é que define a direção dos preços, mas a força vem do atacado e varejo, com influencia crescente das vendas externas. O segundo semestre está bem ofertado, com 30% destinados ao mercado internacional. É a fome da indústria. Vivemos época de obsessão por lucro e não por preços. Teremos dias melhores do que nos últimos dois anos, mas não é para ficarmos eufóricos. E, sim, cuidar da importância da nutrição animal. Atender muito bem a cria”, concluiu.

“Conteúdo e informações. A suplementação mineral tem uma potência de crescer mais ainda. Com o nosso exército de 15 mil homens no campo em prol da nutrição animal, levando conteúdo e informações”, replicou Fernando Penteado. O horizonte econômico deve auxiliar. “A conjuntura internacional melhorou. Comércio internacional está caro, mas está melhor. As bolsas do mundo inteiro estão operando em máximas históricas. A revisão do Fundo Monetário Internacional (FMI) para as economias mundiais é positiva em 2025, apesar de tímidos para a maioria dos países. Exceto a China. A economia americana vai ter inflação menor, mas resistente em cravar os 2% perseguidos, desacelerando e com emprego em baixa. Ao mesmo tempo, as moedas emergentes valorizando”, contextualizou Felippe Serigati.

O encontro da ASBRAM ainda reuniu profissionais como Hayla Fernandes, médica-veterinária especializada em vendas e gestão de pessoas e processos, com experiência de quinze anos na indústria leiteira. “Acredito em Cultura e isso significa autoridade e repetição”, apontou. Ézio Mota, zootecnista e ex- Auditor Fiscal Agropecuário do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). “O setor precisa permanecer unido, coeso e ao lado do maior número de entidades. Para levarmos as melhores recomendações sobre tipos de materiais, limites mínimos e máximos para formulação de misturas minerais, práticas consistentes. Existem riscos com matérias primas impróprias, produtos fora da conformidade por causa de problemas com fiscalização. Melhoramos muito, mas precisamos avançar. O assunto é sério. E ter comunicação com o MAPA é fundamental. A pecuária brasileira está dando lição a vários segmentos”, indicou.

E Ronaty Makuko, engenheiro agrônomo, pecuarista e consultor de mercado do Pátria Agronegócios, que mantém 1.700 clientes na América do Sul. “O custo da soja explodiu e a rentabilidade líquida do produtor vem caindo historicamente. Junto com isso, nosso país não produz o fertilizante necessário. Importa muito. E ele está caro. Mas a oferta pode melhorar no futuro. Fósforo, nitrogenado, sulfato, potássio. E a gente usando menos, trocando insumos, o que provoca a queda nos preços. E tem estoques aqui dentro, dá para adubar menos, usar perfil de solo. Tanto que entregamos 168 milhões de toneladas de soja nesta safra. E o milho vai avançar demais, por causa da ração e do etanol. Com consumidores mundiais variados. Por isso o mundo não para de comer carne de todos os tipos. Nos EUA, são 120 kg por cabeça ao ano. Na China, 70 kg e avançando. E no Brasil 100 kg”, revelou.

A reunião terminou com a convocação feita pela Vice-Presidente Executiva da ASBRAM, Elizabeth Chagas, para o 14º Simpósio Nacional da Indústria de Suplementos Minerais, que a entidade realiza nos dias 25 e 26 de setembro, no Hotel Royal Palm Plaza, em Campinas (SP). Debatendo o tema ‘Pecuária Sustentável – O caminho natural para a eficiência produtiva e créditos de carbono?’. “Há dez anos, estamos contando uma história sobre sustentabilidade, a importância do pasto e da tecnologia de suplementação, produção de carne e leite para o mundo inteiro. E é sobre isso que vamos tratar no nosso encontro. Com música, confraternização, homenagens e uma atração internacional que ainda é surpresa”, adiantou. “Estamos atuando para construir um conteúdo de orientação sobre tudo o que é correto e legal no trabalho da suplementação. A ASBRAM não é pequena. Estamos nos bastidores, aceitamos sugestões e temos vários projetos para contribuir com a produção de alimentos para os brasileiros e pessoas do mundo inteiro. Estamos criando um protocolo sobre legislação para contribuir com uma ordem regulatória moderna, eficaz e que privilegie a produção”, finalizou Fernando Penteado

 

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