7 de novembro de 2022

Começa a COP27 e a guerra pela ‘grana ambiental’

Conferência inicia com gente pregando o fim do mundo, querendo dinheiro por prejuízos climáticos, de olho em reparações ambientais e pessimistas com o cumprimento das metas para diminuir a temperatura no planeta.

Um evento que tenta colocar a maioria dos países do mundo no caminho de poluir menos o meio ambiente desde os anos 1990. É a Conferência Mundial do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), cuja 27ª edição começou neste domingo, dia 6 de novembro, em Sharm El-Sheikh, no Egito. A cerimônia de abertura foi comandada pelo Ministro das Relações Exteriores do Egito, Sameh Choukri, que preside a COP27. Ele dirige uma conferência que tem enormes dificuldades pela frente. Primeiro, a maior de todas. Todos os acordos assinados, desde a Rio 92, não são obrigações para os países e sim intenções. Que são cumpridas e desrespeitadas na mesma intensidade, variando de acordo com o cenário político, econômico e internacional vivido pelas nações, sem falar nas disputas comerciais que antagonizam os interesses nos cinco continentes do planeta.

Um panorama que só piorou com a pandemia da Covid-19 e a Guerra entre Rússia e Ucrânia. E que comprovou o efeito negativo que os próprios compromissos firmados anualmente pelas COP´s podem provocar no caldeirão de protecionismo de mercados, empregos e relações comerciais entre os Estados. Sem falar no pagamento por serviços ambientais que é exigido por países emergentes, vulneráveis ou mais devotados pela causa verde, como é o caso do Brasil. “Necessitamos de um novo fôlego na luta contra o aquecimento global e os seus impactos. Em nome da Humanidade e do Planeta”, exortou Sameh Choukri. “Devemos ser claros, por mais difícil que seja o momento atual. A inação equivale à miopia e não retarda a catástrofe climática”, apelou o Presidente da COP de Glasgow. É pagar para ver se existe mesmo essa necessidade. E se a maioria dos países vão cumprir no duro as promessas ecológicas escritas em documentos.

A 27ª Conferência do Clima da ONU (COP27) reúne pouco mais de cem países durante duas semanas. Os dirigentes máximos das duas maiores potências do mundo, China e Estados Unidos, os dois maiores poluidores do planeta, não vão dar as caras. Joe Biden pode até passar lá, mas já Casa Branca já avisou que vai ser ‘jogo rápido’. O contexto é o pior possível. Inundações no Paquistão, ondas de calor na Europa, furacões, incêndios, secas. Enfim, fenômenos climáticos que sempre estiveram presentes neste canto do sistema solar. Mas que grupos de pressão alegam serem resultado da ação predatória do ser humano. Para piorar as controvérsias, muitos países pobres reivindicam compensação financeira pelos prejuízos climáticos. E aqueles que cuidam do meio ambiente, como o Brasil, também querem receber dinheiro porque não exploram comercialmente imensas áreas preservadas. Esta delicada questão de ‘perdas e danos’ foi oficialmente adicionada à agenda de discussões em Sharm El-Sheikh durante a cerimônia de abertura. Para contragosto dos radicais do aquecimento global. Pois, até hoje, a questão era apenas objeto de um ‘diálogo’, previsto para durar até 2024. “Esta inclusão na agenda reflete um sentimento de solidariedade e empatia pelo sofrimento das vítimas de desastres induzidos pelo clima”, ressaltou Sameh Choukri, sem citar nem de longe de que bolso vai sair o dinheiro.

O chefe da ONU-Clima, Simon Stiell, considerou como crucial esta questão de perdas e danos. “O sucesso ou o fracasso da COP27 será julgado de acordo com este mecanismo de financiamento de perdas e danos”, alertou Munir Akram, embaixador do Paquistão na ONU, presidente do G77+China, que representa mais de 130 países emergentes e pobres, de olho na grana. Tanto que a desconfiança dos países em desenvolvimento é forte, enquanto a promessa dos países ricos e desenvolvidos de aumentar para 100 bilhões de dólares por ano, a partir de 2020, a ajuda aos países pobres para reduzir suas emissões e se preparar para os impactos ainda não é cumprida.

“As necessidades de financiamento são contabilizadas em bilhões de bilhões. Porém, será impossível sem o setor privado”, cravou Michai Robertson, negociador da Aliança de Pequenos Estados Insulares (Aosis), já de olho nos dólares de empresas internacionais. O chefe da ONU, António Guterres, repetiu o discurso de sempre. Para ele, o mundo está prestes a acabar. “A luta pelo clima é uma questão de vida ou morte. Pela nossa segurança hoje e nossa sobrevivência amanhã. A conferência deve estabelecer as bases para uma ação climática mais rápida e corajosa agora. Nesta década decidiremos se a luta pelo clima será vencida ou perdida”, alertou.

Ao mesmo tempo, Guterres reconheceu que o mundo real não partilha de suas convicções. Afirmou que as emissões de gases de efeito estufa devem cair 45% até 2030 para haver uma chance de limitar o aquecimento global a 1,5°C em comparação com a era pré-industrial, que é o objetivo mais ambicioso do acordo firmado em Paris. Mas constatou que os compromissos atuais dos Estados signatários ainda preveem aumento nas emissões, deixando o mundo em uma trajetória distante do objetivo principal firmado na capital francesa. E resolveu por os pés no chão de vez. “O clima foi relegado ao segundo plano pela pandemia da Covid-19, a guerra na Ucrânia, as crises econômica, energética e alimentar. Nesse contexto, apesar dos compromissos assumidos na COP26, menos de trinta países elevaram suas metas, e a ONU não vê nenhuma maneira crível de atingir a meta de 1,5°C”, reconheceu.

 

Canal AgroRevenda

 

Papo de Prateleira

 

Newsletter

Receba nossa newsletter semanalmente. Cadastre-se gratuitamente.