3 de março de 2023

Setores cerâmico e sucroenergético firmam acordo pelo biometano

Meta é suprir 50% da demanda energética das empresas do setor até 2030

Acordo entre os setores cerâmico e sucroenergético, visando à paulatina substituição do gás natural pelo biometano como combustível para os fornos das fábricas, será firmado em 3 de março, em Santa Gertrudes, no interior do Estado de São Paulo. Inicialmente, o projeto piloto contemplará dez plantas consumidoras do polo cerâmico localizado no entorno desse município. Assinados o acordo e os termos de compromisso entre as partes, o projeto segue para fase de implementação, com previsão de funcionamento operacional no início de 2025. A princípio, o uso deverá chegar à proporção de 5% do consumo energético das indústrias participantes. Até 2030, a expectativa é que o volume alcance 50% do consumo do setor em São Paulo, o equivalente a aproximadamente 1 milhão de metros cúbicos por dia. À medida que for sendo ampliada a oferta desse combustível processado a partir de resíduos orgânicos das usinas de açúcar e álcool, espera-se que o uso do biometano seja implementado nacionalmente no setor, na cadeia e até em outros setores que poderão aderir à jornada de substituição energética.

“Para a indústria cerâmica, o acordo representa um novo e importante passo na área energética, com ganhos econômicos e ambientais. O projeto é pioneiro no país, através da associação de dois APLs (Arranjo Produtivo Local) e possibilitará a produção e uso em escala do biometano, o chamado Pré-Sal Caipira. Será um enorme ganho na área sustentável, com diminuição da pegada de carbono, além da previsibilidade de preços e maior segurança energética”, celebra Benjamin Ferreira Neto, presidente do Conselho de Administração da Anfacer (Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos, Louças Sanitárias e Congêneres), uma das entidades que lideram o acordo.

Para Flavio Castellari, diretor-executivo do Apla (Arranjo Produtivo Local do Álcool), parceiro tecnológico no projeto, o setor cerâmico e a sociedade têm a ganhar com essa transição energética. “A escolha do setor por uma fonte de energia de baixo carbono é um passo importante para o futuro sustentável. A preocupação ambiental, com a saúde da população, a sustentabilidade e a aposta em energias renováveis é o caminho exemplar que o setor sucroenergético vem trilhando em todo o mundo e o Brasil já é considerado um modelo de sucesso”, diz.

Energia limpa e disponível
O biometano é uma tecnologia de ponta já existente e altamente sustentável, com enorme potencial de oferta e insumos disponíveis, inclusive nas entressafras da cana. Esse gás promove a economia verde, em conformidade com os padrões internacionais discutidos na COP 27: diminuição das emissões de dióxido de carbono na atmosfera; gestão inteligente de resíduos orgânicos; produção local, reduzindo grandes extensões de construção de linhas de gasodutos; melhoria da qualidade da vida, por reduzir o lançamento de metano na atmosfera; e contribuição para conter as mudanças climáticas.

Num primeiro momento, por meio da rede já existente de gasodutos, serão injetados 50 mil metros cúbicos diários de biometano nos fornos das empresas, cujo objetivo é contar com um mix de fontes energéticas cada vez mais limpas e renováveis. Nesse sentido, o biometano apresenta grande potencial, até mesmo para suprir 100% da demanda da indústria cerâmica, considerando as elevadas safras de cana e a grande geração de subprodutos do processamento de açúcar e álcool que podem ser convertidos em biogás. Somente em torno da região de Santa Gertrudes são 30 usinas com potencial de fornecimento de 10 a 30 milhões de metros cúbicos por dia. Além da possibilidade de ampliação no volume do biocombustível disponibilizado para a indústria, o acordo permitirá o desenvolvimento de outros usos para o biometano dentro da cadeia produtiva do setor. Um exemplo é a conversão da frota de caminhões utilizados pelas indústrias para transportar a matéria prima das jazidas para as linhas de produção.

A utilização do biometano ampliará o caráter sustentável da produção do setor cerâmico, contribuindo para seu fortalecimento e impulsionamento do processo de reindustrialização do Brasil baseado na economia circular. Com matriz energética de menor impacto ambiental, essa indústria nacional será a mais verde/sustentável do mundo. O aumento do valor agregado da sustentabilidade dos produtos será mais um diferencial para potencializar as exportações.

Inovação e sustentabilidade
A indústria brasileira de revestimentos cerâmicos se movimenta há muitos anos quanto a busca de novas fontes de energia. Com grande foco em inovação, o setor já havia avançado de modo expressivo em termos de produção sustentável, ao adotar o gás natural como combustível. Com isso, suas fábricas evitaram, em 10 anos, de 2006 a 2016, a emissão de 4,6 milhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera. Seria como salvar do desmatamento uma área de florestas equivalente a 8.861 campos de futebol ou reduzir a emissão de mil carros percorrendo 876 voltas ao redor da Terra.

O setor cerâmico foi também um dos protagonistas na longa trajetória que culminou com a promulgação da Lei do Gás, avanço que deveria reduzir os custos, mas que segue sem efeitos práticos. A indústria cerâmica é a segunda maior consumidora de gás natural no país, insumo que responde por cerca de 35% dos custos de produção. Diante da alta dependência energética, do desafio do cenário mundial e da relevância da descarbonização para o planeta, o setor tem historicamente se engajado em desenhar possibilidades de mudanças energéticas. Para isso, além da melhoria e implementação de leis e marcos regulatórios, realiza periodicamente missões e visitas internacionais em busca de novas soluções, como as realizadas em 2013 e 2015 nos EUA, 2019 na Bolívia, e a última, em 2022, na Espanha e Dinamarca, com foco em novas tecnologias de uso do hidrogênio e da energia solar.

O setor ocupa posição de destaque no mercado global. O Brasil é o segundo maior consumidor de revestimentos cerâmicos, terceiro maior produtor e sétimo maior exportador mundial. Representa 6% do PIB da construção civil brasileira. É constituído por 60 empresas e 71 unidades fabris, mantendo 28 mil empregos diretos e 200 mil indiretos.

Signatários
O acordo será assinado às 11 horas, na sede da Associação Paulista de Cerâmicas para Revestimento (Aspacer), à rua Antônio Bertazo, 470 – Centro, em Santa Gertrudes. Além desta, outras duas entidades do setor são signatárias do projeto: Anfacer (Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos, Louças Sanitárias e Congêneres) e Sindiceram (Sindicato das Indústrias de Cerâmica – Criciúma). O segmento sucroenergético é representado pelo Apla (Arranjo Produtivo Local do Álcool), da região de Piracicaba. Há, ainda, a participação da Geo Tech e do Senai Nacional.

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