9 de outubro de 2024

Arnaldo Jardim: nova lei abre fronteira de negócios para usinas

Relator na Câmara dos Deputados do projeto de lei do Combustível do Futuro, o deputado federal Arnaldo Jardim (PPS-SP) destaca as oportunidades que a nova legislação, sancionada nesta terça-feira (08/10), traz para as usinas de etanol a partir da atividade de captura e armazenamento de carbono (CCS, na sigla em inglês), que recebeu capítulo específico na recém-sancionada lei.

Segundo Jardim, a novidade tem significativo potencial para promover ganhos financeiros para as usinas tanto por meio da geração e comercialização de créditos de carbono como também pela certificação do biocombustível como “zero emissor” ou “emissor negativo”, o que pode ser monetizado com sobrepreço em mercados que valorizam este diferencial.

A cadeia produtiva de captura e armazenamento de carbono tem estimativa de atrair investimentos entre R$ 14 bilhões e R$ 20 bilhões anuais no Brasil, com intensa participação do setor sucroenergético, indicam dados da CCS Brasil, entidade especializada no tema e realizadora em parceria com a Hidroplan do ‘Carbonless Summit’. O evento será realizado nos dias 04 e 05 de novembro na capital paulista e terá a participação do deputado Arnaldo Jardim.

“O etanol de cana-de-açúcar reduz em até 90% as emissões de gases que contribuem para as mudanças climáticas. Mas essa pegada de carbono pode ser ainda menor, passando a ser negativa, com a captura e o armazenamento do CO2 gerado durante o processo de produção do biocombustível”, acentua o deputado.

Na entrevista a seguir, ele dá mais detalhes sobre essa nova fronteira de negócios que o CCS traz para as usinas de etanol:

Pergunta – A atividade de CCS consta do Combustível do Futuro. Como o senhor enxerga as oportunidades da tecnologia para o setor sucroenergético?

Arnaldo Jardim – O setor sucroenergético brasileiro, em particular o etanol tem a digital, o “DNA” de ser sustentável. Produz biocombustível limpo e renovável e no elo da lavoura é ancorado em boas práticas, com mecanização das tarefas, aproveitamento de resíduos e sobras que são transformados em fertilizantes, bem como funcionam como matéria-prima para geração de energia elétrica, e assim por diante.

O etanol de cana-de-açúcar reduz em até 90% as emissões de gases que contribuem para as mudanças climáticas. Mas essa pegada de carbono pode ser ainda menor, passando a ser negativa, com a captura e o armazenamento do CO2 gerado durante o processo de produção do biocombustível.

No Brasil, são mais de 360 usinas que produzem etanol, tendo, portanto, oportunidade de acessar o mercado de créditos de carbono e criar mais uma fonte de receita para as empresas. A atividade de CCS no setor de etanol pode resultar em ganhos financeiros para as usinas tanto por meio da geração e comercialização de créditos de carbono como também pela certificação do biocombustível como “zero emissor” ou “emissor negativo”.

A nova lei vai dar o impulso definitivo do tema no Brasil, destravando projetos já engatilhados, que avançam agora para a fase de real implantação. O avanço do armazenamento de CO2 no solo no âmbito do segmento da cana só vai reforçar ainda mais a sustentabilidade do setor.

Pergunta – O CCS tem potencial para elevar ainda mais a sustentabilidade do etanol brasileiro, permitindo até a pegada de carbono negativa?

Arnaldo Jardim – Uma importante técnica que pode realizar a neutralização de carbono é o uso da biomassa combinada com o CCS, chamada de Bio-CCS (bioenergy with carbon dioxide capture and storage). A biomassa utilizada para biocombustíveis é proveniente de plantas, ou seja, durante seu crescimento já há a captura de carbono, mas este é novamente lançado na atmosfera quando convertido em energia, mesmo que em quantidades menores que os combustíveis fósseis.

Entretanto, se este CO2 for capturado e transportado para um local de estoque permanente, como o subsolo, isso irá resultar em uma remoção negativa de CO2, ou seja, será capturada uma quantidade maior do que foi emitido. O carbono gerado na fabricação de etanol está praticamente pronto para ser estocado, devido ao seu elevado grau de concentração – diferentemente de outros setores em que o CO2 precisa ser separado de outros gases.

Pergunta – As usinas poderão ter adicional de renda com a implantação da atividade de CCS em suas operações de fabricação de etanol?

Arnaldo Jardim – A atividade de CCS no setor de etanol pode resultar em ganhos financeiros para as usinas tanto por meio da geração e comercialização de créditos de carbono como também pela certificação do biocombustível como “zero emissor” ou “emissor negativo”. Isso permite que o etanol seja monetizado com ágio em mercados internacionais que valorizam este atributo.

O processo de captura, transporte e armazenamento de CO2 no subsolo, ou CCS, está previsto na lei da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) e pode significar oportunidade para a geração de um maior volume de Créditos de Descarbonização (CBios) e consequentemente de renda para as usinas de etanol.

Projeções mostram que o mercado mundial de captura, transporte e armazenamento de carbono no solo ou CCS tem potencial para movimentar US$ 3,54 bilhões em 2024, com estimativa de atingir US$ 14,51 bilhões em 2032.

Pergunta – A novidade pode atrair novos investimentos internacionais para o setor sucroenergético e consequentemente para o agro brasileiro?

Arnaldo Jardim – Certamente. O Brasil é o país mais bem posicionamento quando falamos de descarbonização e transição energética. Nosso potencial nesta questão é gigantesco porque combina oportunidades concretas de produção de energia limpa e renovável em diversas rotas, o que vai ao encontro da agenda global.

Neste sentido, o mercado brasileiro de CCS tem perspectiva de movimentar entre R$ 14 e R$ 20 bilhões anuais, com participação significativa do setor da cana, indicam estimativas da entidade CCS Brasil. Investidores, fundos de investimento soberanos de países, assim como, claro, empresas prestadoras de serviço na atividade de CCS, estão de olho neste mercado.

Os principais projetos estão concentrados nos Estados Unidos, lideres neste mercado e que anunciaram recentemente US$ 100 milhões para iniciativas de CCS com etanol. Com o novo marco, que traz segurança jurídica, não faltarão investidores para o setor.

Pergunta – Qual sua visão sobre a importância de reunir no Brasil alguns dos principais especialistas sobre CCS?

Arnaldo Jardim – É uma oportunidade importante de levar esse assunto às usinas de processamento de cana, que podem se beneficiar muito adotando o CCS e com isso, ganhando mais uma alternativa de geração de receitas. É mais uma forma de promover a economia circular, já tão praticada pelo setor sucroenergético, onde nada é desperdiçado e cada resíduo é aproveitado. Não é por acaso que a produção de etanol no Brasil é a mais sustentável do mundo, e com o CCS essa sustentabilidade pode se tornar ainda mais impactante e significativa. 

Serviço:

  • Carbonless Summit
  • Dias 04 e 05 de novembro de 2024
  • Auditório do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo (CREA-SP)
  • Avenida Angélica, 2364 – São Paulo, SP
  • Detalhes e inscrições: https://carbonless.org.br/

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