Ex-presidente da Coopavel foi peça-chave na reestruturação da cooperativa e referência nacional em políticas agrícolas.
O cooperativismo brasileiro se despediu nesta terça-feira (14/10) de Ibrahim Faiad, ex-presidente da Coopavel e uma das vozes mais respeitadas do setor. Faiad faleceu aos 87 anos, deixando um legado de liderança, visão estratégica e dedicação ao fortalecimento do agronegócio e do movimento cooperativista.
O presidente do Sistema Ocepar, José Roberto Ricken, destacou a importância de sua atuação para o desenvolvimento do setor. “Faiad teve uma trajetória marcada pela humildade e pelo diálogo. Sempre defendeu com destreza os interesses das cooperativas junto ao poder público e sua contribuição permanecerá como inspiração para todos nós”, afirmou.
Nascido em Wenceslau Braz (PR), em 1938, Faiad conheceu cedo o valor do trabalho e da superação. Filho de um pequeno comerciante, começou a trabalhar aos sete anos e, ainda adolescente, iniciou sua trajetória no Banco Bamerindus, onde permaneceu por mais de três décadas e chegou ao cargo de gerente. A experiência no setor financeiro moldou sua visão estratégica e o preparou para um dos maiores desafios de sua vida: liderar a recuperação da Coopavel.
Cooperado desde 1971, Faiad assumiu a presidência da cooperativa em 1989, em meio a uma grave crise financeira. Com liderança firme e foco na união dos cooperados, conduziu um processo de reestruturação que devolveu credibilidade à instituição e criou bases sólidas para seu crescimento.
A criação do Show Rural e a transformação da Coopavel – Foi durante sua gestão que nasceu o Show Rural Coopavel, inicialmente um simples dia de campo que se transformaria em uma das maiores vitrines de tecnologia e inovação do agronegócio mundial. O evento, que em 2026 chegará à 38ª edição, hoje é referência internacional e símbolo da força cooperativista paranaense.
“Ibrahim tinha uma presença que transmitia segurança e inspiração. Ele recuperou a Coopavel de sua pior crise e contribuiu enormemente com a política agrícola nacional”, afirmou o atual presidente da cooperativa, Dilvo Grolli.
Após deixar a presidência, Faiad ampliou sua atuação no setor público. Foi chefe da Casa Civil do governo de Jaime Lerner, ajudou a criar a Agência de Fomento do Paraná e, a convite do então ministro da Agricultura Francisco Turra, assumiu a Diretoria Nacional de Política Agrícola no Ministério da Agricultura. Nessa função, desempenhou papel crucial em medidas estruturantes, como o fim da correção monetária sobre financiamentos rurais, o que impulsionou o avanço tecnológico e a expansão da produção agrícola nacional.
Um legado que transcende gerações – Faiad também era conhecido por seu olhar humanista. Sempre defensor da cooperação como instrumento de transformação social, dizia que o cooperativismo era “uma obra de Deus” e que seu verdadeiro poder estava em dar “voz e vez” a todos. Sua atuação inspirou gerações de cooperados e ajudou a consolidar o modelo cooperativista como um dos pilares do agronegócio brasileiro.
Nos últimos anos, viveu em Céu Azul (PR), dedicado à família e à fé. Casado com Sueli, criou seis filhos adotivos e celebrou a chegada de dez netos. Sua trajetória exemplar deixa um legado duradouro ao movimento cooperativista e ao desenvolvimento do campo brasileiro.