Cotribá, a decana das agrocooperativas do Brasil, enfrenta crise e empossa CEO

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Mais antiga cooperativa agropecuária do Brasil, a Cotribá, fundada em 21 de janeiro de 1911, em Ibirubá (RS), enfrenta uma crise financeira séria, como há muito não se via no sistema cooperativo nacional. O sintoma mais grave é o atraso ou não pagamento da produção entregue à cooperativa pelos associados. Uma situação que gera um efeito cascata de inadimplência entre os associados, que não têm como honrar compromissos assumidos e correm o risco de não poder plantar para a próxima safra. A organização está em atraso nos pagamentos aos fornecedores.

A situação financeira da Cotribá resultou na criação de um programa de reestruturação da cooperativa e a chegada de um novo gestor, um CEO, Luis Felipe Maldaner, com larga experiência no mercado financeiro. Maldaner já atuou no Banco do Brasil e Badesul (agência de fomento vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico do RS) e tem a missão de administrar uma dívida de curto prazo estimada em R$ 100 milhões.

Cronologia da crise:

  • 29 de julho – criação do Comitê de Reestruturação
  • 31 de julho – venda à Cotriel da unidade de armazenamento de grãos em Pantano Grande
  • Agosto – transferência de dois postos de combustíveis à rede Santa Terezinha
  • 17 de setembro – posse de Luis Felipe Maldaner como CEO da cooperativa

O caderno AgroCooperativas, suplemento da Revista AgroRevenda, publicada pelo Grupo Publique, trouxe em sua edição número 96, de 2022, reportagem sobre o lançamento do livro que marcou os 110 anos da cooperativa. O livro “Cotribá 110 anos” foi lançado só em 2022 por conta das restrições impostas no ano anterior por conta da pandemia da Covid. A reportagem destaca que a cooperativa foi fundada antes da Primeira Guerra Mundial e três décadas antes da criação da legislação cooperativista no país.

A trajetória da instituição foi registrada no livro “Cotribá 110 anos, lançado em 2022 durante a Expointer, fruto de um trabalho de pesquisa de Enio Cezar Moura do Nascimento, vice-presidente da cooperativa, e da jornalista Marcela Prass Scheffler. A obra reúne documentos, imagens e relatos que resgatam a importância da cooperativa para a economia gaúcha e para o cooperativismo brasileiro.

A origem da Cotribá remonta a um grupo de agricultores que seguiu o modelo alemão de associação para representar seus interesses e garantir direitos. Inicialmente chamada Genossenschaft General Osório, em referência ao antigo nome do município, a entidade passou por várias mudanças até consolidar o nome atual. O termo “Cotribá” une a referência à triticultura – atividade que marcou a época – e ao sufixo do município.

Nos primeiros anos, a cooperativa atuava no comércio de excedentes agrícolas e na venda de produtos básicos para as famílias. Durante a Segunda Guerra Mundial, documentos redigidos em alemão precisaram ser escondidos, o que dificultou a preservação de parte da memória da entidade. Só em 2005 foi possível confirmar, por registros oficiais, a data exata da fundação.

Entre os marcos de sua evolução estão a criação da Semana da Produtividade, em 1970, que introduziu a assistência técnica aos produtores, e a iniciativa de formação da bacia leiteira, em 1976, que hoje garante produção diária de cerca de 280 mil litros nos municípios de Ibirubá e Quinze de Novembro. Ainda nos anos 1970, a cooperativa se posicionou contra as queimadas agrícolas, defendendo práticas sustentáveis e vinculando o financiamento das lavouras ao manejo responsável.

A modernização ganhou força em 2014, com a adoção de um modelo de Governança Corporativa e investimentos em tecnologia. Em 2019, foi lançado o aplicativo Cotribá, ampliando a digitalização de serviços e o acesso de associados às informações sobre produção e comercialização. A Cotribá reunia, em 2022, mais de 8.200 associados. A cooperativa mantém como principal atividade o recebimento, armazenagem, produção e comercialização de grãos. Também atua em segmentos como insumos, rações, farmácia veterinária, combustíveis, supermercados e lojas de departamentos. Associada à Cooperativa Central Gaúcha Ltda (CCGL), é parte de uma das maiores bacias leiteiras do Rio Grande do Sul.