A sustentabilidade tornou-se indispensável para o futuro da agricultura. O XXII Congresso Brasileiro de Sementes, que acontece entre os dias 10 e 13 de setembro, em Foz do Iguaçu (PR), destaca-se como um palco crucial para o diálogo e a apresentação de inovações sobre o principal insumo da agricultura, a semente. Um dos tópicos centrais do evento é ‘a contribuição dos biológicos para a indústria de sementes’, que tem revelado avanços promissores, capazes de redefinir a forma como percebemos a eficiência agrícola e ambiental com o apoio da natureza.
Os avanços tecnológicos em tratamento de sementes com produtos biológicos representam um marco na busca pela sustentabilidade no campo, como é o caso dos inoculantes biológicos. Um estudo denominado ‘Estudo do Hectare’, que analisou a aplicação e resultados dos produtos biológicos conjuntamente na produção de grãos, carne de frango, biodiesel e etanol, apontou que biotecnologia aplicada à produção agrícola poderia evitar a emissão de aproximadamente 25 milhões de toneladas métricas de dióxido de carbono equivalente (CO2e) com base de cálculo em um hectare durante o período de uma safra.
Os dados foram coletados com base nas produtividades de soja e milho safrinha usadas no estudo foram documentadas em 2021 pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), que são, respectivamente: 3,5 toneladas/ha e 4 toneladas/ha.
As indústrias de biológicos têm se dedicado à seleção de cepas microbianas, desenvolvimento de tecnologias de fermentação e formulação de novos produtos, que possibilitem a sobrevivência desses microrganismos em condições adversas e proporcionem compatibilidade com os produtos inseridos no tratamento de sementes, como os inseticidas, fungicidas, nematicidas e fertilizantes.
Para se ter uma ideia da evolução da eficiência na sobrevivência dos microrganismos tradicionalmente utilizados, o período entre a inoculação nas sementes de soja e o plantio era limitado a 24 horas, mas a ciência, por meio de pesquisas, transformou esse cenário.
Atualmente, há inoculantes com alto índice de sobrevivência dos microrganismos à base de Bradyrhizobium com registro e resultados de pesquisa para tratamento antecipado de até 90 dias, um recorde no mercado. Outra tecnologia, fruto de anos de pesquisas, são as moléculas de LCO ou lipo-quitooligossacarídeos, açúcares produzidos por bactérias do gênero Bradyrhizobium que sinalizam para a planta (soja) o início do processo de infecção simbiótica, favorecendo a nodulação.
Ao fornecer esses ‘sinais’, podemos estimular o processo de nodulação, permitindo que os rizóbios introduzidos via inoculação iniciem a formação de nódulos mais precocemente. O LCO pode manter sua atividade por até 360 dias após o tratamento das sementes. Tais conquistas são resultados de pesquisas contínuas e do empenho em compreender as complexidades dos sistemas biológicos.
A utilização de sementes tratadas com microrganismos benéficos, como os rizóbios mencionados, demonstra um potencial impressionante para incrementar a produtividade agrícola. Um aumento médio de 6% a 8% na produtividade para soja é um argumento convincente para a adoção dessas práticas inovadoras.
A evolução no tratamento de sementes com biológicos não é apenas uma tendência, mas um passo concreto em direção a uma agricultura mais sustentável. A indústria de sementes, com o suporte de eventos como o XXII Congresso Brasileiro de Sementes, está na vanguarda de uma evolução que promete transformar o cultivo de alimentos em uma atividade cada vez mais alinhada com as necessidades do nosso planeta. A matéria-prima da sustentabilidade, portanto, não é apenas a semente, mas a inovação e a perseverança daqueles que a cultivam.
Fernando Bonafé Sei é gerente de serviços técnicos Latam da Novonesis.