É angustiante pensarmos que estamos passando por um “novo normal” no Rio Grande do Sul, após danos inimagináveis causados pela pandemia ao redor do mundo. O estado sofreu perdas severas com as chuvas intensas que avassalaram a região, desabrigando muitas pessoas e danificando diversos estabelecimentos. Agora, passada a tempestade, é hora do mercado se unir para que consigamos nos reerguer economicamente – a partir da adoção de estratégias que precisarão de um apoio intenso da liderança em prol desta reconstrução empresarial local.
Logo no início, pudemos observar um apoio nítido de diversas iniciativas privadas por todo o país para ajudar as vítimas deste desastre natural. Afinal, a meta era clara: salvar a maior quantidade possível de vítimas. Cada um, dentro de suas próprias condições, se debruçou sob ações de resgastes, contribuições financeiras, e outras fontes de apoio que contribuíssem para essa rede de apoio à população.
Amenizado o momento mais intenso, as perdas começaram a ser quantificadas. Em aspecto corporativo, segundo um levantamento feito pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico do estado (Sedec), 85% das empresas atingidas na região não possuíam qualquer tipo de seguro contra perdas ou danos. Deste total, os pequenos negócios foram os mais afetados – com 36,5% desses CNPJs de microempresas, 26% de Microempreendedores Individuais (MEI) e 23% de pequeno porte.
Usualmente, em momentos de crises, o aspecto econômico empresarial costuma a ser um dos últimos pilares a se manter sustentável. As chuvas que acometeram a região foram algo completamente inesperado, o que não apenas gerou danos físicos às empresas, como também desencadeou um sentimento temeroso frente à perpetuidade dos estabelecimentos e dos profissionais na região. O risco de sentirmos uma evasão de estabelecimentos e de talentos para outras localidades que oferecem uma melhor infraestrutura e estabilidade são enormes, o que acende a urgência de medidas que visem minimizar esse dano que o mercado gaúcho sentirá.
Nessa nova dinâmica de reconstrução que, certamente, será desafiadora para todos os envolvidos, o papel ativo da liderança poderá representar uma peça importante de sustentabilidade dessa jornada. O empresariado precisa ter como premissa a maior parcimônia possível na definição de suas ações, analisando, cuidadosamente e, dentro do que for possível conforme sua realidade, quais passos dar em prol da retenção destes talentos e sua união na retomada econômica.
É claro que não há como deixar de fora a importância da contribuição pública nesse processo, através de medidas e políticas de incentivo fiscal à reconstrução dos estabelecimentos e sua gestão financeira, amenizando possíveis gastos e fornecendo programas de isenção que reduzam os gastos precisos para tal.
Essa barreira contratual e o medo compreensível de muitos empreendedores em investirem na região neste cenário preocupante precisam ser repensados pelo poder público, contando com o apoio da liderança para que, juntos, evitem a evasão destes talentos e identifiquem quais linhas de crédito podem ser oferecidas como fontes de auxílio à retomada corporativa.
Não há como negar o cenário devastador que estamos vivenciando. Porém, com os devidos mecanismos de incentivo ofertados, muito pode ser aproveitado de seu potencial inovador, de forma que esses agentes tenham o reforço que precisam para minimizarem seus impactos no curto e longo prazo deste desastre e consigam, com isso, voltar à normalidade de suas operações.
Fernando Poziomczyk é sócio da Wide, consultoria boutique de recrutamento e seleção.