Apesar de baixas em Chicago, dólar mostra bom momento para vendas por componentes.
Apesar das recentes baixas, a moeda americana segue cotada acima de R$5,40, um dos maiores patamares para julho. A diminuição é influenciada pela redução da inflação nos EUA, que marcou 0,1% em junho, desacelerando para 3% na análise anual. Essa desaceleração fez com que o mercado voltasse a apostar em uma possível queda na taxa de juros para a reunião de setembro do FOMC.
Outro ponto de influência direta na queda do dólar é a utilização de um tom mais amistoso por parte do governo brasileiro em relação à política fiscal a ser adotada no país. Na última semana, o próprio governo anunciou um corte de R$ 26 bilhões no orçamento de 2025.
O R$/sc, seja de soja ou de milho, é formado por alguns componentes: Chicago, Prêmio, Custo e Câmbio. O custo engloba frete, armazenagem, quebra, etc. Todos esses custos são em reais. Todavia, na formação do preço, os compradores/tradings convertem para dólar por tonelada, portanto um dólar forte ajuda nesta conta.
O custo em determinada praça é de R$ 400/t. Com um dólar a R$ 5,00, o custo é de US$ 80/t, mas com o dólar a R$ 5,40, esse custo cai para US$ 74,07/t, o que ajuda na valorização da saca. Veja como funciona a precificação de uma saca de soja e note como um dólar alto reduz os custos em dólar, impactando positivamente no R$/sc (todos os componentes estão em negrito na imagem):
“Em ambos os cenários, a única alteração é no câmbio. Só por esse fator, há uma melhora de aproximadamente R$ 9,20 por saca. Dado isso, o produtor precisa ficar atento, não a vender sua produção já no preço fechado, mas sim por componentes, aproveitando os bons momentos de cada um deles. Se isso for feito com precisão, o seu R$/sc será ainda melhor”, afirma o líder de inteligência da Biond Agro, Felipe Jordy.
E Chicago? O que está acontecendo – Nas últimas semanas, os vencimentos, mais curtos ou mais longos, da soja, caíram mais de 50 pontos.
“A baixa generalizada da soja segue por conta do peso dos fundamentos. Segundo os últimos dados do USDA, os estoques de soja americanos estão perto dos 128 milhões de toneladas, um acréscimo frente a todas as outras safras. Esse é resultado da oferta se sobrepondo à demanda; consequentemente é gerado um sinal de alerta no quesito preço. Ademais, uma maior chance de vitória do Trump nos EUA traz a precificação de um possível novo capítulo da guerra comercial com a China. Se isso acontecer Chicago, continuará sendo pressionado”, comenta Jordy.
Já o milho teve um cenário um pouco diferente. O cereal registrou baixas consecutivas há várias semanas seguidas, mas agora passa por um momento de recuperação técnica e observa com atenção a demanda ao redor do mundo; no entanto, segue num patamar muito baixo.
Desenvolvimento do prêmio – Ao mesmo tempo em que Chicago vem apanhando, o prêmio não está acompanhando – vale lembrar que no passado, enquanto Chicago caia o prêmio se favorecia. Nos vencimentos de 2025, a melhora foi de aproximadamente 10 pontos, enquanto Chicago perdeu mais de 50 pontos. Isso se dá por dois fatores. O primeiro é que os compradores estão tomando suas posições. Na medida em que eles tomam uma posição sobre aquela região para determinado mês de embarque, não faz sentido pagar um prêmio melhor.
O segundo fator é em relação à grande safra brasileira que está se desenhando; já se fala de produção entre 160 e 170 milhões de toneladas. Independente do número, a safra será maior.
“Reforçamos que este é um bom momento para fixação de custos neste patamar cambial. A partir do momento em que fixamos esse componente, o produtor garante sua logística para a safra futura, que pode enfrentar problemas e alta demanda caso uma safra recorde se consolide. No entanto, é necessário estar atento aos prêmios, mesmo com a vitória do Trump que pode ajudar nesse quesito, é prevista uma safra recorde para o Brasil, e os compradores estão tomando suas posições”, finaliza Jordy.