Indústria química: desafios e desenvolvimento sustentável

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Basf

O ano de 2023, para a indústria química na América do Sul, foi marcado por bastante incertezas, ainda muito influenciado pelos impactos da pandemia e com o agravante dos efeitos da guerra na Ucrânia, da desvalorização cambial e a pressão sobre a inflação nos Estados Unidos e na Europa. A indústria química brasileira lidera o mercado do setor na região e é hoje uma das maiores globalmente, garantindo destaque entre as seis maiores do mundo. No entanto, o país tem potencial para ocupar posições ainda mais altas, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). Para se ter uma ideia, o setor fatura, hoje, algo em torno de US$190 bilhões, o que representa 11% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial do país. Justamente por essa importância, precisamos olhar com atenção para o que está por vir em 2024.

A América do Sul tem um grande potencial ainda inexplorado de ganhos de eficiência energética e climática em relação ao restante do mundo. Por exemplo, no contexto da bioeconomia, a química de base renovável é uma grande oportunidade local. Soma-se a esse cenário as diversas possibilidades de criação de iniciativas para a economia circular, além da tão aguardada regulamentação do mercado de carbono. Além disso, o Brasil detém 20% da biodiversidade mundial.

Produtos químicos fazem parte dos mais diversos setores da economia, agregando competência à sociedade ao longo de toda a cadeia de valor. Assim, além de contribuir para a agenda de redução de emissões de carbono e desfossilização, a indústria química pode também ajudar na jornada dos outros setores. Por isso, os investimentos – público e privado – em tecnologias de ponta é um desafio fundamental a ser priorizado para viabilizar uma economia de baixo carbono para indústria como um todo, como o desenvolvimento da produção de hidrogênio verde e a transição para uma economia circular.

O incentivo ao uso de fontes renováveis não só pode tornar os custos de energia mais baixos para o setor químico, como também pode consolidar a posição de liderança do Brasil para uma transição energética tecnológica e sustentável. O governo brasileiro assumiu compromissos de promoção de uma neoreindustrialização ambientalmente sustentável. Para isso, é importante haver segurança jurídica e consistência tarifária para a manutenção e planejamento dos investimentos. As expectativas são altas em relação aos impactos que a reforma tributária, depois de uma fase de implementação e transição, trará para o setor industrial, principalmente se tratando da simplificação na arrecadação.

Este ano também será importante para a preparação da COP30 que o Brasil sediará, em Belém, em 2025. Mais do que nunca, em 2024, nossas ações devem olhar para o futuro sustentável. E a sustentabilidade só pode ser vivenciada, de forma verdadeira, se a jornada acontecer em conjunto. Além do investimento em projetos inovadores, cabe também à indústria expandir o diálogo com os diversos públicos: clientes, fornecedores, parceiros, colaboradores, governo, associações e sociedade civil. Nesse sentido, precisamos estar preparados profissionalmente para atuar em um contexto de transição e fortalecer habilidades verdes, do inglês green skills; isto é, competências que se relacionam com o desenvolvimento sustentável. Um estudo do LinkedIn indicou um aumento nas contratações que têm como prioridade a sustentabilidade, no entanto, apenas 1 em cada 8 trabalhadores no mundo tem uma ou mais green skills.

Falando em oportunidades, há um tema relevante no setor petroquímico. Está previsto para 2024 o lançamento do Tratado Global Contra a Poluição Plástica, elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU), que deve incluir uma série de disposições técnicas, desde o design do produto até a gestão ambientalmente correta de resíduos.  O Brasil é um grande produtor de matérias-primas naturais, como o milho e a mandioca, que servem de base para a elaboração de plásticos biodegradáveis, com potencial para ser protagonista nessa tecnologia que impacta diversas cadeias de produção no mundo todo. Já o Chile possui uma das maiores recicladoras da América do Sul, que fabrica produtos de plástico reciclado vendidos em todo o país, nos mais diferentes segmentos, de eletrodomésticos à construção civil. É preciso aproveitar o momento para posicionar a América do Sul como uma região importante no contexto global.

Na agricultura, espera-se um crescimento moderado na área de cultivo de soja no Brasil e na Argentina. A safra deve apresentar diferenças climáticas significativas devido ao El Niño. No Sul desses países, as chuvas favorecem aumento na produção agrícola. Já nas outras regiões do Brasil, as precipitações abaixo do normal devem resultar em perdas na safra de soja a ser colhida em 2024. Por outro lado, a área de cultivo de algodão deve aumentar a níveis recordes no Brasil na próxima safra. Também teremos outros grandes desafios pela frente. Alguns que já vimos passando nos últimos anos em aspectos geopolíticos, como guerras ao redor do mundo, a influência dos preços excepcionalmente competitivos dos produtos asiáticos, a retomada do crescimento de demanda na China, a pressão inflacionária, os juros altos e as incertezas das futuras eleições nos Estados Unidos.

São fatores externos e macroeconômicos que nós, do setor privado, não temos controle, mas estou convicto de que 2024 trará muitas oportunidades para a América do Sul. Da parte da indústria química, vamos continuar desempenhando o papel essencial na sociedade e cada vez mais focados em iniciativas que ajudem o país e a região como um todo a avançar fortemente em seu desenvolvimento sustentável.

Manfredo Rübens é presidente da BASF para a América do Sul.

 

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