O cenário macroeconômico é um dos mais complexos. Precisamos observar a realidade dos Estados Unidos, afinal, o país é um dos principais produtores de commodities do mundo. Surpreendentemente, o mercado de trabalho norte-americano tem sido bastante resiliente: a taxa de desemprego está em torno de 3,7%. Por sua vez, a non-farm payroll alcançou os níveis mais altos de todos os tempos, mesmo depois de um ano marcado pelo aumento da taxa de juros acima de 5%. O elevado crescimento da taxa de juros estadunidense permitiu o controle da inflação, que se estabilizou em torno de 3,5% nos últimos seis meses. Porém, a pressão para cortes nos juros apenas começou. Em 2024, espera-se um corte total de 150 pontos-base nos juros ao longo do ano, mas os esforços continuarão para trazer a inflação à meta de 2%.
Evolução do Consumer Price Index – CPI (Índice de Preços ao Consumidor, tradução da sigla em inglês) – Fonte: U.S. Bureau of Labor Statistics
Em relação ao contexto geopolítico, destaco que há duas tensões que permanecem em 2024:
- Guerra na Ucrânia: não houve progresso recente para um cessar-fogo. Contudo, a Ucrânia voltou a exportar muito trigo e milho. Essa é uma medida extremamente crucial para estabilizar a oferta e demanda mundial e contribuir na redução da volatilidade dos preços e da inflação.
- Conflito Israel e Hamas: está no radar dos participantes do mercado de commodities, com risco de gerar volatilidade de preços em setores como o de energia. Além disso, há a possibilidade de novos conflitos no Oriente Médio, na Ásia (entre China e Taiwan) e no Leste Europeu. Devemos observar a situação nessas regiões de perto.
O comportamento de volatilidade das principais commodities
Analisar o comportamento de volatilidade das principais commodities, em 2023, é essencial para a tomada de decisões mais bem informadas em 2024. Portanto, a verificamos quais foram os padrões mais notáveis e que podem gerar insights importantes. O mercado de grãos tem um comportamento de volatilidade característico: todos os anos, começa tímido e depois se intensifica. Isso ocorre principalmente quando o momento climático é crucial, entre o período de junho a agosto. No final do ano, há um alívio novamente. Esse padrão se aplica ao milho, complexo soja e trigo. O café, por sua vez, apresentou um ano mais atípico, com picos de volatilidade em maio e dezembro. Já o petróleo segue a agenda geopolítica.
Sazonalidade da volatilidade implícita da soja
Em 2024, a hEDGEpoint aponta uma boa safra de grãos na América do Sul, impulsionada pela recuperação da Argentina no mercado da soja. Uma das razões para isso é o fato de que o El Niño surtiu efeitos positivos no regime de chuvas de importantes áreas produtoras. Desse modo, haverá equilíbrio na oferta do Hemisfério Sul, mesmo diante de um cenário de menor produção no Brasil.
Quais eventos geraram maior volatilidade no mercado de commodities em 2023?
Após meses consecutivos de aumento nas taxas de juros dos Estados Unidos e retirada de dinheiro de empresas e startups, o saldo dos bancos foi comprometido. Por conseguinte, esse foi o período de maior volatilidade das commodities no ano passado. Só para você ter ideia, a empresa controladora do Silicon Valley Bank entrou com pedido de falência. Já o UBS comprou o Credit Suisse para evitar a falência e o colapso do sistema bancário suíço. Nesse contexto, o FED interveio para proteger todos os depositantes, o que interrompeu o efeito cascata na economia. Em 2023, a eclosão do conflito entre Israel e Hamas causou o segundo momento de maior volatilidade no mercado de commodities. A escalada da guerra para diferentes regiões dependerá das motivações de todas as partes envolvidas em relação a um possível cessar-fogo. Desse modo, a macroeconomia permanecerá com a tendência de instabilidade em 2024.
Luiz Carvalho é Senior Trader da hEDGEpoint Global Markets.