O ano de 2023 será lembrado como uma das maiores crises para o setor leiteiro. O cenário de entrada histórica de leite externo impôs uma condição de muita dificuldade, desestimulando produtores e deixando muitos negócios das indústrias no vermelho. Inicialmente, o primeiro semestre foi marcado pela baixa demanda e alta oferta em razão dos elevados preços ao consumidor. O período resultou na importação de 1 bilhão de litros de leite. Um aumento de 300% comparado ao mesmo período de 2022, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Para os produtores, um grande abalo. A atividade, mesmo na região Sul (principal produtora nacional), tem grande disparidade de gestão entre as propriedades. Isto implica em maior exposição ao risco daqueles que não têm um gerenciamento adequado e planejamento bem definido. A disparidade entre os preços de venda e os custos de produção gerou, no melhor cenário, resultado com margens espremidas. Apesar dos esforços, alguns produtores de leite abandonaram a atividade. Conforme a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), até junho de 2023 o estado teria perdido cerca de 10 mil produtores por conta da crise, passando de 30.000 em 2022 para apenas 20.000.
Este novo ano se projeta como conservador. Um momento de incertezas com baixa capacidade de investimento pelo produtor. É necessário maior frequência de análise de resultados da atividade. Sindicatos e entidades vêm alertando o Poder Público sobre os riscos da crise e propondo medidas vistas como cruciais para a defesa deste setor primordial para o agronegócio e a economia brasileira. Enquanto isso não se concretiza, resta aos produtores e técnicos melhorarem processos e refinarem a gestão da propriedade como forma de rentabilizar a atividade.
Claiton André Zotti é presidente da comissão científica do Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite (SBSBL).