1 de setembro de 2022

Jóias de cristais do vinho – Diamantes onde outros viam lixo

Já aconteceu de você abrir uma garrafa de um excelente vinho, de ótima safra, e verificar cristais na rolha? Ou vê-los depositados no fundo da taça? E pensou que poderia haver algo errado com um vinho tão prestigiado? Rejubilai-vos! É o famoso cristal do vinho, conhecido pelo nome químico de bitartarato de potássio. São formados a partir da reação do ácido tartárico com o potássio, que são substâncias que existem nas uvas maduras, que vão para as indústrias de vinhos. Durante a vinificação, o ácido tartárico se junta ao potássio, formando o bitartarato de potássio.

Normalmente, os cristais de bitartarato de potássio estão dissolvidos no vinho. Mas, quando a temperatura diminui, ocorre uma precipitação, formando um aglomerado de cristais. Ao se solidificarem, essas substâncias podem decantar e ir parar no fundo da garrafa, da taça ou, até mesmo, se aglomerarem na rolha, formando uma película de pequenas pedrinhas. Quando o vinho está engarrafado, a quantidade é pequena. Mas, imagine aqueles grandes tonéis nos quais o vinho é armazenado! A quantidade de cristais é relativamente grande, fica incrustada nas paredes internas e precisa ser removida manualmente. Um trabalho demorado, que exige paciência e persistência. Lembro bem dessa tarefa, ao cursar o Colégio de Viticultura e Enologia, há mais de cinquenta anos, quando denominávamos os cristais de “grúpula”.

Normalmente os cristais são transparentes. Mas, em contato com o vinho, assumem as cores do meio em que se encontram. Assim, um vinho branco dá um tom palha ou amarelado, um vinho tinto torna o cristal lilás ou violeta. Já um vinho chamado de tintório, com coloração violácea intensa, torna os cristais violeta escuro e até pretos. A maior parte dos cristais retirados dos tonéis de vinho, nas vinícolas, é descartado, considerado sem utilidade. Uma pequena porção é comercializada para uso em cosméticos ou em medicamentos, após purificação.

Olhar de empresária
Descartado até que apareceu uma empresária de visão: botou o olho clínico na tal “grúpula” e viu diamantes onde outros viam lixo. Uma pedra preciosa. Imaginou que poderia transformar os cristais em jóias, como anéis, pingentes, cordões, brincos, colares, broches e outras peças. Foi assim que nasceu o empreendimento Enojoias, que foi selecionado pela Federasul como o case de sucesso de 2022 de Mulheres Empresárias do Agronegócio (Elas no Agro). A empresária em questão é Patrícia Pedrotti, filha e neta de viticultores. Ela é tão enraizada na terra, que seu ateliê foi construído em meio aos parreirais do distrito de Tuiuty, em Bento Gonçalves, a capital brasileira do vinho.

Formada em design de moda, Patrícia iniciou sua vida profissional trabalhando com vestuário. Mas a vocação estava nas joias. O insight de perceber uma oportunidade no descarte da tal “grúpula” a levou a usar seus aplicativos de desenho computacional para desenvolver peças autorais. Uma impressora 3-D imprime o modelo que é enviado para uma fundição, onde a armação das joias é produzida, usando prata 925 ou folheada a ouro. De volta ao ateliê de Patrícia, as pedras são incrustadas e fixadas na armação, produzindo peças de refinado bom gosto.

As joias com cristais foram a primeira investida de Patrícia. Com a mesma paciência, habilidade e persistência, Patrícia agora divide o tempo com uma linha chamada Vitis, em que usa uma tinta desenvolvida por ela própria, extraída das uvas – as tais antocianinas de que falamos antes – para produzir outra série de jóias. As peças autorais, produzidas artesanalmente, são vendidas por e-commerce ou em lojas de artesanatos localizadas junto a algumas vinícolas da Serra Gaúcha.

O reconhecimento da Federasul faz jus ao espírito empreendedor de uma pessoa que enxergou uma enorme oportunidade em um subproduto descartável do nosso agronegócio. O objetivo é que essa distinção entusiasme outras pessoas a seguirem a mesma senda, encontrando oportunidades de renda, agregando valor a produtos ou subprodutos que saem dos nossos campos e da nossa agroindústria. Os interessados em conhecer mais detalhes deste caso de sucesso empresarial podem fazê-lo através do link enojoias.com

Sobre o CCAS
O Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) é uma organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril de 2011, com domicilio, sede e foro no município de São Paulo-SP, com o objetivo precípuo de discutir temas relacionados à sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de maneira clara, sobre o assunto. O CCAS é uma entidade privada, de natureza associativa, sem fins econômicos, pautando suas ações na imparcialidade, ética e transparência, sempre valorizando o conhecimento científico. Os associados do CCAS são profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área pública quanto privada, que comungam o objetivo comum de pugnar pela sustentabilidade da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam por suas atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos, lastreados em verdades científicas, para comprovar a sustentabilidade das atividades agrícolas.

A agricultura, por sua importância fundamental para o país e para cada cidadão, tem sua reputação e imagem em construção, alternando percepções positivas e negativas. É preciso que professores, pesquisadores e especialistas no tema apresentem e discutam suas teses, estudos e opiniões, para melhor informação da sociedade. Não podemos deixar de lembrar que a evolução da civilização só foi possível devido à agricultura. É importante que todo o conhecimento acumulado nas Universidades e Instituições de Pesquisa, assim como a larga experiência dos agricultores, seja colocado à disposição da população, para que a realidade da agricultura, em especial seu caráter de sustentabilidade, transpareça.

Décio Luiz Gazzoni é membro fundador do Conselho Científico Agro Sustentável.

 

Canal AgroRevenda

 

Papo de Prateleira

 

Newsletter

Receba nossa newsletter semanalmente. Cadastre-se gratuitamente.