17 de março de 2022

Como economizar fertilizantes a partir das interações microbianas no solo

A invasão da Ucrânia pela Rússia tem preocupado os profissionais do agronegócio, que temem principalmente as consequências comerciais provocadas pelo conflito no leste europeu. Isso porque 62% dos adubos e fertilizantes usados no Brasil são importados da Rússia. Por outro lado, já existem formas acessíveis de economizar fertilizantes em uma lavoura, como, por exemplo, aproveitando o potencial natural dos micro-organismos na promoção da fertilidade do solo.

A necessidade de aplicar fertilizantes no solo está relacionada basicamente ao suprimento de eventuais deficiências nutricionais e ao aumento da sua capacidade produtiva. O que muita gente não sabe é que esses resultados também podem ser alcançados a partir de micro-organismos benéficos a esse processo. Um bom exemplo é o nitrogênio. Mesmo compondo grande parte do ar que respiramos, ele é integrado ao solo a partir da aplicação de fertilizantes de uso comum, já que as plantas não assimilam o nitrogênio na forma química da atmosfera.

Neste caso, os próprios micro-organismos (bactérias fixadoras de nitrogênio, por exemplo) podem reduzir a dependência e minimizar os danos causados pelos fertilizantes, compostos por amônia e outras moléculas nocivas, como a ureia. Segundo dados da Embrapa Soja, a fixação biológica de nitrogênio no solo economiza cerca de US$ 14 bilhões de dólares por safra de soja no Brasil.

Essa aplicação de micro-organismos fixadores de nitrogênio, aliás, já é realidade em várias culturas, na soja, por exemplo, com as bactérias do gênero Azospirillum e Bradyrhizobium. Mesmo assim, o potencial microbiano para promover a disponibilização de nutrientes é enorme e ainda há muito campo a ser explorado. Além disso, o uso de micro-organismos também pode ajudar a evitar a deterioração do solo pelo uso prolongado de fertilizantes químicos, que têm sido associados à contaminação ambiental.

Para otimizar o efeito desses dos micro-organismos, é fundamental analisá-los apropriadamente, identificando deficiências e potenciais do solo. Além da análise química e física do solo, é importante o produtor fazer uma avaliação genética, que fornece uma visão mais ampla da biota do solo, e indica os melhores manejos para garantir a fertilidade. Assim, é possível identificar o potencial da microbiota do solo para fixar nitrogênio, solubilizar o fósforo ou promover a disponibilização de micronutrientes. Além disso, também monitora os gêneros de micro-organismos utilizados em insumos biológicos para melhorar a nutrição vegetal.

Adotando a estratégias biológicas, o produtor evita os efeitos colaterais dos fertilizantes químicos, cria oportunidades de negócios (afinal, a sustentabilidade tem peso na decisão do consumidor), dribla possíveis consequências comerciais provocadas por crises de oferta de adubos, além de economizar na aplicação desses insumos.

Marcus Adonai Castro da Silva, microbiologista, professor da Universidade do Vale do Itajaí e cofundador da Biome4All.

 

Canal AgroRevenda

 

Papo de Prateleira

 

Newsletter

Receba nossa newsletter semanalmente. Cadastre-se gratuitamente.