14 de fevereiro de 2022

Empreendedores e pesquisadores do Brasil mudam o Agro da Bolívia

O setor agropecuário boliviano é de grande relevância econômica e social, e teve uma participação no Produto Interno Bruto de 10,6% em média (2006-2021). Desde 2017, é o setor com maior crescimento (6,6%). Da mesma forma, o setor é fonte de divisas, pois teve uma participação média de 5,8% no total das exportações (2006-2019) e é o setor que mais empregou pessoas com 26,1% da população economicamente ativa. A maior parte da área cultivada na Bolívia é usada para a produção de óleos e culturas industriais, com 44% (1.645.547 hectares), e inclui culturas como soja, girassol, cana-de-açúcar, algodão, amendoim e gergelin. O segundo grupo mais importante é o dos cereais, com 37% (1.397.398 hectares), onde existem culturas como milho, arroz, trigo e quinoa. A soja é a principal cultura, onde temos 1,1 milhões de hectares plantados na safra verão (Nov-Jan) e 320 mil hectares no inverno (Março-Ago). Ou seja, 40% de toda a área plantada da Bolívia é com essa cultura.

O departamento de Santa Cruz tem a maior proporção da área cultivada do país (70,5%), seguido de La Paz (7,5%) e Cochabamba (5,6%). No Plano de Desenvolvimento Econômico Social (PDES), o Governo determinou promover a expansão da fronteira agrícola para atingir 4,7 milhões de hectares em 2025 com terras cultivadas, números esses que são totalmente factíveis como mostrarei a seguir. Desde 1990, a área de cultivo tem aumentado anualmente, passando de 1,2 milhões de hectares em 1991 para 3,8 milhões de hectares na safra 2018-2019. Analisando esses dados e somando -se as áreas de pastagens naturais (11 milhões de Hectares, mais os pastos cultivados, 2,4 milhões de hectares, fica fácil entender o grande potencial agrícola a ser explorado na Bolívia para os próximos anos em termos de disponibilidade de terra. Além das pastagens, que podem ser recuperadas e integradas com a agricultura, existe uma nova fronteira agrícola na chamada região de Chiquetania, uma região de fronteira a leste de Santa Cruz, que é uma dessas novas fronteiras agrícolas com potencial. Segundo alguns, com capacidade de adicionar mais 2 milhões de hectares, onde o custo da terra é em torno de US$ 500/há, mais o custo de abertura, em torno de US$ 1200/há, ficam extremamente atrativos para quem é empreendedor do agronegócio.

Aliado a isso, existe a grande potencialidade de crescer em tecnologia, visto que um dos maiores desafio para a agricultura boliviana é o de aumentar as suas médias de produtividades. Os rendimentos dos principais produtos agrícolas na Bolívia foram inferiores à média da América do Sul. Os 2200 kg/há de média da soja boliviana, 77% inferior  comparados com a soja argentina, 72% inferior a produtividade da soja brasileira e 84% inferior comparado com a soja paraguaia.

Somente 20% de todo o território boliviano foi fertilizado nas últimas safras e mesmo a sua região mais desenvolvida, que é a região de Santa Cruz, somente 66% utilizaram algum tipo de fertilização. Segmentos como o de sementes, por restrição regulatória, de tratamento de sementes, inoculantes, nutrição foliar e biológicos estão ainda em estágios embrionários. O segmento mais desenvolvido é o mercado de Proteção de cultivos, que estima ser em US$ 0,34 milhões de dólares e com menos problemas fitossanitários do que o Brasil. O custo de produção é em torno de US$ 360 dólares por hectare, muito similar ao Brasil, e onde os fertilizantes apresentam custos em torno de US$240/há.

A agricultura Boliviana, principalmente as culturas de exportação, é muito concentrada e onde o foco na eficiência operacional é mantra para esses agricultores. A aceitação de genéricos por parte do agricultor é preponderante e muitos deles fazem importação direta desses produtos. Importação essa feita por Arica, no Chile, o que deixa os produtos oriundos da China e Índia ainda mais competitivos. Vários pontos positivos destacam-se na agricultura boliviana, sendo o principal deles o custo da terra, ainda baixo quando comparado com os demais países sul-americanos, a baixa volatilidade do dólar, o financiamento barato e as regras para abertura de novas áreas facilitam e irão acelerar o crescimento.

Os grandes problemas da Bolívia hoje, assim como todos os países sul-americanos, incluindo o Brasil, é a instabilidade política, onde a judicialização, invasão de terras, tentativa de interferência do estado, não cumprimento de contratos e a falta de garantias impedem um maior investimento de estrangeiros e de empresas de tecnologia. O contrabando também é um problema sério: Agricultores argentinos, para escaparem dos impostos, vendem seus produtos diretamente no mercado boliviano, gerando baixas margens para empresas de sementes, o que gera falta de investimento em pesquisa e desenvolvimento e  fazem com que o desafio de tecnologia e a produtividade sejam os primeiros gargalos que afetam os agricultores bolivianos. Desafios que o governo  precisa resolver.

Como um dos grandes desafios na agricultura Boliviana é o de aumentar a produtividade, um grupo de brasileiros resolveu criar uma iniciativa chamada Mastermind, programa esse idealizado por um engenheiro agrônomo brasileiro, Rafael  húngaro, proprietário da Agrohungaro e da Digital farms. Rafael percebeu que somente com os seus conhecimentos e a agricultura de precisão ele não resolveria o problema da agricultura boliviana. E que, para aumentar a produtividade, seria necessário um esforço não só seu, mas um esforço coletivo. Pensando nisso, ele convidou o maior distribuidor de insumos da Bolivia, a Agropartners, para construírem esse programa juntos.

A Agropartners também é liderada por outro brasileiro, Siegfried Boos, que está na Bolívia desde 2004 e fundou a empresa que conta hoje com mais de 53 agrônomos no campo, tendo faturado em 2021 quase US$ 70 milhões. A agropartners oferece uma solução completa ao agricultor, além de ter a sua própria marca de produtos para proteção de cultivos, e vai lançar em 2022 a sua marca de produtos Biologicos, a Biodefense.

O Mastermind é um programa único na agricultura Boliviana, onde a Agrohungaro e a Agropartners oferecem ao agricultor uma solução completa em fertilização, proteção de suas culturas e toda uma rede de ensaios que geram resultados de pesquisa e desenvolvimento para esses agricultores. Além de ter um time dedicado de agrônomos que se dedica integralmente às fazendas dos agricultores, contam com a mentoria de 6 dos mais importantes pesquisadores Brasileiros.

Dr Robinson Osipe, especialista em matologia e controle de plantas daninhas de difícil controle. Universidade do Norte do Paraná (Bandeirantes).
Dr Marco Gandolfo e Dr Ulisses Gandolfo, especialistas em tecnologia de aplicação. Universidade do Norte do Paraná (Bandeirantes).
Dr Marcelo Canteri, especialista em proteção das doenças das plantas. Universidade Estadual de Londrina.
Dr Silvestre Belletini, especialista em Manejo de Pragas. Universidade do Norte do Paraná (Bandeirantes).
Dr Luis Guilherme Arruda, especialista em produtos biológicos (Agribela).

Esses especialistas visitam as fazendas nas safras de verão e de inverno, fazem o diagnóstico dos problemas, gerenciam e calibram os maquinários, avaliam o manejo de plantas daninhas, pragas e doenças e propõem protocolos para investigar novas tecnologias, novos produtos e novos serviços.. Um técnico totalmente dedicado ao projeto conduz esses ensaios de pesquisa e desenvolvimento e os resultados são compartilhados entre todos os participantes. Tudo isso com uma plataforma moderna de gestão da fertilização que, hoje, além de ser o segmento mais oneroso para o agricultor, tem grandes possibilidades de melhoria, também conta com um laboratório de solo exclusivo localizado no Brasil e que atende a toda a demanda em um serviço totalmente customizado para os participantes.

O grande objetivo do projeto é o de, além de fazer recomendações pontuais para cada cliente onde esses através de grupos de whatsapp e de días de campo conjunto aprendem em loco e trocam experiências, o projeto Mastermind tem o objetivo de ser um futuro centro de pesquisa e desenvolvimento para novas tecnologias na Bolívia.

Eu sempre acreditei na força do coletivo e tenho certeza de que o esforço desses brasileiros e bolivianos em torno de uma agricultura mais produtiva e mais sustentável darão frutos em um curto espaço de tempo. Tenho certeza que os resultados gerados por essa iniciativa não serão frutíferas somente para os participantes do programa, mas também para todos os agricultores bolivianos.

 

 

Canal AgroRevenda

 

Papo de Prateleira

 

Newsletter

Receba nossa newsletter semanalmente. Cadastre-se gratuitamente.