O chefe-geral da Embrapa Cerrados, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Wenceslau Goedert, participou na terça-feira (31) de uma audiência pública na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados, realizada com o objetivo de discutir as políticas de apoio e incentivo ao uso da calagem no Brasil. O evento integrou as comemorações do Dia Nacional do Calcário Agrícola (24 de maio), instituído por meio da Lei 12.389/11. O debate foi sugerido pelo deputado Luís Carlos Heinze (PP/RS).
Goedert tratou do uso do calcário e de seus benefícios. “Não se trata apenas de um corretivo, mas o calcário fornece nutrientes ao solo, como o cálcio e magnésio”, afirmou. Ele explicou que por conta disso é que se utiliza na agricultura preferencialmente o calcário dolomítico ou magnesiano em solos pobres em magnésio. A calagem permite, de acordo com o pesquisador, que se preservem áreas tanto na produção de grãos, quanto para pastagem, já que contribui para evitar a expansão de novas áreas. “Em áreas recém incorporadas ao sistema produtivo, o calcário é utilizado em maiores quantidades para corrigir a acidez do solo. Depois, com o tempo, o solo vai se acidificando novamente e é necessária uma dose de reforço, que em geral é inferior a quantidade aplicada inicialmente”, explicou.
Goedert também tratou das diferenças que ocorrem no solo quando o calcário é aplicado em sistemas de preparo convencional e de plantio direto. Segundo dados apresentados por ele, o tempo de reação do calcário no preparo convencional é de três anos, sendo 50% após um ano, 30% após dois anos, e 20% após três anos. Já se for utilizado o plantio direto o tempo de reação é de seis anos, sendo 20% nos três primeiros anos e 40% do quarto ao sexto ano. “Nesse caso, o calcário demora mais tempo para reagir no solo”, informou. Segundo ele, em sistema de plantio direto, na reaplicação é utilizado cerca de 25% menos calcário que no preparo convencional.
Um destaque feito pelo pesquisador foi com relação à calagem na cultura da soja, em solos argilosos do Cerrado. Segundo ele, quando não se aplica calcário, a produtividade é de 30 sacos por hectare. Se for feita a aplicação de quatro toneladas por hectare (dose recomendada), o rendimento de grãos sobe para 66 sacos. No entanto, se a aplicação for de oito toneladas por hectare (quantidade muito acima da recomendada), a produtividade cai para 50 sacos. De acordo com o pesquisador Djalma Martinhão, presente na audiência pública, isso ocorre porque em excesso o calcário pode induzir a deficiência de micronutrientes e com isso reduzir o rendimento das culturas. Abaixo da dose recomendada haverá perdas de rendimento devido a baixa eficiência de utilização dos fertilizantes adicionados nas lavouras.
Também participaram da audiência pública o presidente da Associação Brasileira das Entidades de Assistência Técnica e Extensão Rural (ASBRAER), Julio de Brito, o diretor-executivo da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado de Santa Catarina (Fecoagro), Ivan Ramos, o presidente e o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Calcário Agrícola (Abracal), Oscar Raabe e Fernando Becker, além de Pedro Henrique Luz, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), e Wilson de Araújo, coordenador-geral de Análise Econômica do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Para os palestrantes, o calcário está sendo subutilizado pelos produtores. Segundo o representante do Mapa, uma das medidas para se modificar essa realidade é reforçar cada vez mais o uso desse insumo entre os agricultores, principalmente aqueles da região do Cerrado. Ele informou que no Plano Safra 2011/12, dois programas passaram a financiar a aquisição, transporte, aplicação e incorporação de calcário no solo: o Moderagro, que financia a compra de corretivos agrícolas, e o Programa de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC). De acordo com Goedert, a calagem para a pesquisa é um insumo de investimento especialmente em áreas novas ou de baixo índice de produção agrícola.
Fonte: Juliana Caldas / Embrapa Cerrados