23 de outubro de 2020

Metodologia IGASE pode ajudar a Agropecuária nacional!

A dinâmica do agronegócio brasileiro vem conquistando méritos por todos os esforços empreendidos, por outro lado, fez também vir à tona a consciência de que muito ainda deve ser realizado. Há quem já vislumbre com mais clareza que, um país com tão grande potencial, merece chegar a um crescimento plenamente aproveitável. Muitos dos saltos evolutivos, que expressam parte da agricultura e pecuária, devem-se ao emprego de tecnologias no campo.

Uma das condições para avançar é a quebra de paradigmas. O que acontece, com frequência, é que há uma resistência natural, inclusive por parte dos produtores rurais, em conseguir se desapegar da parte única para enxergar o todo. O ‘novo’ pode assustar, especialmente porque ainda não foi compreendido, mas aí entra a análise, a prática bem-vinda de uma simulação, o estudo aplicado das predições – que nada mais é que a projeção, algo dito antecipadamente ao acontecimento – e, para arrematar, chegam os resultados, as constatações de que aquele ‘novo’ é viável e positivo, uma ferramenta que pode ser usada em benefício e aprimoramento do seu trabalho numa propriedade, desde a seleção, passando pela produtividade e redução de custos até o lucro final. Pronto, o receio vai por água abaixo e surge em seu lugar a vontade de experimentar essa nova ‘solução’ tecnológica.

Na trajetória da pecuária, por exemplo, focando na arte de criar animais com as metas de aprimoramento genético, progênies cada vez mais rentáveis, os produtores voltaram seus trabalhos e sua atenção à reprodução animal, apoiados, a princípio, nos fenótipos morfológicos. Investimentos foram realizados em prol desse processo que descobriu ‘as maravilhas’ da implementação de tecnologia em favor de seus rebanhos. Muito se ganhou em desenvolvimento, produção e comercialização dessa chamada boa genética a partir do momento em que os criadores, além de utilizarem seu feeling de selecionador (o que sempre será imprescindível), passaram a usufruir de novos recursos tecnológicos em favor de suas criações. Estudos de DNA, inseminação artificial, fertilização in vitro, transferências de embriões, clonagens, tabelas e ranqueamentos de dados inseridos nos computadores começaram a aparecer e a mostrar possíveis resultados. As análises comparativas visavam uma projeção do que era possível ganhar, mudar ou evitar em termos de escolhas genéticas. Com a DEP – Diferença Esperada na Progênie, um método clássico de avaliação genômica, predição e mensuração, mais uma porta se abriu, quando técnicos e pesquisadores da reprodução animal informatizaram os genes (apenas a fração da genética aditiva), sendo que nos grupos contemporâneos (CG), não consideram os efeitos de alimentação e manejos como variáveis diretas, fixando, ou seja, blocando-os nas análises. Um grande passo, sem dúvida, que muito entusiasmou pecuaristas de todas as regiões brasileiras que aderiram aos poucos a essa metodologia e paulatinamente foram obtendo resultados práticos, como melhor qualidade de carcaça, comprimento de lombo, ganho de peso, além de contar com uma avaliação genética, motivo pelo qual tudo começou. Fato é que as DEP’s foram amplamente divulgadas, mas, a princípio, não tão bem explicadas e entendidas.

Análises de IGASE
Um passo a frente nessa trajetória, surgiu o método IGASE, ferramenta tecnológica de análises, simulações, mensurações e predições. No entanto, as significativas diferenças em relação aos métodos clássicos passaram a se fazer tão expressivas e úteis aos produtores rurais, que custava crer que ‘aquilo era verdade’. Sistema muito mais abrangente e complexo, um pouco mais difícil de entender, a IGASE, que quer dizer Interações Genótipos x Diferentes Ambientes em Sistemas Especialistas, não poderia ser compreendida apenas como uma ferramenta de tecnologia, pois na verdade ela vai muito além. Isso porque, além de todos os dados inseridos nos sistemas de IA (Inteligência Artificial) para se fazer as análises e se chegar às predições, a IGASE roda com itens de todo o ambiente em que os animais estão locados, ou seja, pesquisa, analisa, compara e cruza dados de tudo o que há na propriedade, e entende os padrões numéricos das expressões produtivas.

Para o Dr. Rodrigo Bertazzo, da empresa BRITorigen, graduado em zootecnia, pesquisador do Centro de Excelência em Inteligência Artificial do Estado de Goiás (CEIA/GO), que há 17 anos vem desenvolvendo a IGASE, sendo o criador desta metodologia, talvez, uma descrição mais fiel dessa tecnologia seja a solução que otimiza todo o processo na fazenda, na alimentação, na reprodução, tanto para a indústria como para o pecuarista. E ele diz: “Os criadores estão começando a fazer outra leitura, além das DEP’s, além de genoma. Os produtores rurais estão captando o significado da tecnologia IGASE, como ela funciona e o quanto ela pode auxiliá-los em várias frentes.”

Exprimindo-se com alguns exemplos, Bertazzo cita o poder de observação e a experiência do homem do campo que, costumeiramente, olha para o céu e sabe quando vai chover, percebe a pressão do pastejo acontecendo, a braquiária que começa a murchar, percebe que se acerta na ração o desempenho dos animais é bom, e se erra o desempenho cai. “Essa conexão que surge entre o criador e o trabalho que estamos desenvolvendo com IGASE nos dá a chance de dizer que toda essa percepção natural pode ser agora uma análise numérica, que tanto se aproxima da sua experiência no campo. Isso porque não se trata mais de uma simples fração genética, uma pequena parte do fenótipo, e sim de um conjunto bastante complexo de informações e fatores do ambiente em relação ao metabolismo do animal e todas as suas inúmeras variantes”.

Explicando de uma outra forma, Rodrigo acrescenta: “Quando trazemos uma nova tecnologia, encontramos paradigmas. E a gente vai diluindo isso. O cliente vai entendendo que não é apenas um número simples, cuja soma dá um resultado. Ele passa a vislumbrar a complexidade e aí a identificação vai sendo feita. O ser humano tem uma capacidade biológica para ver as coisas e quando faz uma análise visual da situação, ela é extremamente subjetiva. Aqui um exemplo direto disso: ‘Uma coisa é você ver 20 vacas no curral, outra coisa é você falar de rebanhos de 2 mil, 10 mil vacas. Avaliar isso para diferentes imputes de ambientes é inviável. Imagina o quanto o cérebro humano gasta energia para isso? Na minha opinião, voltar para esse ‘conforto’ de avaliações visuais seria inadequado para a velocidade da competição que temos hoje no campo, no agronegócio brasileiro. Já separamos fenótipo morfológico, fenótipo metabólico, fenótipo comportamental. O fenótipo morfológico deve realmente ser do produtor rural; o metabólico é o que remunera, são os ganhos de peso, ultrassom de carcaça. Agora imagine avaliar tudo isso para 100 animais no processo visual apenas? Porque a complexidade da medida, a relação com o ambiente e suas variáveis têm que vir como expressão numérica, quantitativa. A sensação de que se tem um controle sobre o que acontece no campo é natural, o produtor tem o feeling dele. Agora, quando vamos para rebanhos grandes, com certeza é a máquina que tem que fazer, lidar com mais interações complexas, e a relação disso com o que você está vendo. Aprendemos na faculdade que a produção animal é baseada num tripé: genética, nutrição e manejo. Na minha opinião, essa seria uma forma muito simplista de entender a produção animal, porque há inúmeras variações, um conjunto de fatores complexos que estão interligados, influenciando uns aos outros e expressando resultados diferentes. Daí a necessidade de haver as predições numéricas. É como um nó de marinheiro, se você puxar, desata tudo, vira uma corda, então você não produz. Tem que deixar aquele nó funcionando, o que significa que você não pode apertar e não pode afrouxar demais. Para saber disso, você tem que entender cada impute de efeito ambiental e a resposta dentro da produção animal. Isso, sem inteligência artificial, seria impossível realizar.”

Tradição e Ciência caminhando juntas
Pedro Gomes, Diretor da Boibank, empresa parceira da BRITorigen de Rodrigo Bertazzo, e que é responsável pela parte comercial da tecnologia IGASE, “as análises não se restringem apenas a saber se o animal está indo bem no ambiente, se está bem locado, isto é, se é um animal que desempenha bem em determinado ambiente. Sem dúvida, esse é um item importante, mas é preciso ir além, predizer toda a progênie desse animal, cada função, injetando e simulando para ver se paga o custo de produção para conseguir pressionar a seleção com isso”. E ele explica: “É preciso saber quantos quilos esse touro vai colocar a mais na progênie num ambiente diferente daquele em que ele está locado. O empreendedor do agronegócio, o que está investindo em genética, vai vender sêmen, vai vender produtos dele para outros ambientes”. Rodrigo complementa a ideia, dizendo: “Tradição é cultura, tecnologia é ciência, e é sábio compreender que as duas andam juntas, engendradas. Fazer um investimento sem ter uma visão mais ampla do que está acontecendo é um perigo muito grande. Enquanto você fica focado num determinado ponto, algo está acontecendo ao seu redor que está sugando seu lucro.” 

Assim, Bertazzo refere-se à metodologia IGASE como uma solução tecnológica que transfere os efeitos complexos das interações de diferentes ambientes produtivos e identifica em quais ambientes ocorrerá a expressão dos fenótipos produtivos e reprodutivos dos animais. Para ele, voltar às tecnologias antigas é algo muito inerente para os nossos tempos. “Porque os paradigmas estão sendo quebrados, os paradigmas das certezas, das verdades absolutas, dos números que são simplesmente por sinais de somatórias. Quando suplantamos isso, começamos a ver que a natureza não é assim. O significado muda quando inserido à prática, à realidade. O produtor rural tem que começar a entender que cada animal é um individual conectado e não um grupo apartado, que recebe imputes de efeitos ambientais diferentes, e nós precisamos saber como esses animais respondem. Eles não respondem sempre da mesma forma porque têm a mesma genética. Temos que resolver questões complexas com soluções complexas, e estamos aqui para ajudar. Essa é a intenção.”

Isso equivale a dizer que nas análises de IGASE não entra somente a fração da genética aditiva no processo de seleção, pois nas análises complexas são gerados ranqueamentos e simulações dos efeitos ambientais, otimizando margens e custos de produção, que irão compor os desempenhos em diferentes fazendas e sistemas de produção animal no Brasil e no mundo. Ela envolve todos os setores da pecuária e da agricultura (produtivo, industrial e de serviços). Isso porque, todo ser vivo, animal ou vegetal, depende dos diferentes níveis ambientais para expressar o genótipo específico.

A metodologia IGASE otimiza margens de produção animal ao compreender ganhos de produção idênticos em diferentes ambientes que refletem no custo de produção. Otimiza custos de produção ao simular diferentes níveis na expressão do fenótipo produtivo e reprodutivo, que pagam os investimentos e insumos da fazenda. Os benefícios são inúmeros e estão diretamente relacionados em antecipar as demandas de cada propriedade, atendendo um a um em suas necessidades específicas. E, é importante frisar, que o objetivo da IGASE é possibilitar a tomada de decisão específica de cada fazenda dentro de sua própria política administrativa e complexidade produtiva na pecuária e agricultura”.

Rodrigo Bertazzo trabalha na BRITorigen e é pesquisador do Centro de Excelência em Inteligência Artificial do Estado de Goiás (CEIA/GO).
Mara Iasi – Agrovenki

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