Os dados acima expostos, que evidenciam a retração da atividade econômica de nosso país, parecem ser apenas uma demonstração do que se pode esperar para o ano de 2020. Afinal, esses números foram apenas em parte afetados pela covid-19, dado que nos dois primeiros meses do ano os setores mais afetados foram apenas aqueles que tinham relação com outros países (como, por exemplo, os exportadores, por conta da retração no consumo no exterior, e os importadores, dada a depreciação do real frente ao dólar). Foi no mês de março que o impacto do coronavírus começou a se espalhar de maneira mais intensa pelos outros setores da economia brasileira.
As perspectivas para o este ano têm-se mostrado cada vez mais pessimistas. Se olharmos ao longo das últimas semanas, tem-se depreciado as estimativas sobre o comportamento do PIB no ano. No final de janeiro as estimativas coletadas pelo Banco Central junto aos analistas de mercado (apresentadas pelo seu relatório Focus) projetavam um crescimento de 2,3% para o PIB ao longo de 2020. No final de fevereiro, por conta da propagação da covid-19 pelo mundo – com efeitos sobre os parceiros comerciais do Brasil – a estimativa já tinha se reduzido para 1,99%. Já em final de março, as estimativas passaram a ser não mais de crescimento, mas de retração (de queda de 0,90%, nas estimativas de 31 de março) e hoje estão em cerca de 6,3% (conforme o mesmo relatório Focus do Banco Central, com base em dados coletados em 29 de maio), enquanto algumas estimativas mais pessimistas já apontam queda superior a 10%. Então, tudo indica que 2020 será um ano em que esperar crescimento do PIB representa um comportamento pouco realista, sendo mais factível esperar pela amenização dos efeitos negativos da pandemia sobre a economia, não apenas no Brasil, mas no mundo como um todo.
Quando olhamos para as relações do país com o setor externo, a agropecuária tem observado sua participação nas exportações (vendas ao exterior) brasileiras aumentar ao longo do tempo. No ano de 1997, as exportações do setor representavam cerca de 11% do total de exportações do país, ao passo em que as exportações da indústria de transformação representavam 81%. Agora em 2020 (dados acumulados até o mês de abril), as exportações de produtos agropecuários representam 23% do total, enquanto as exportações da indústria de transformação recuaram para 54% do total (valor mínimo da sua série histórica).
Em termos de importações (compras do exterior), a participação da agropecuária, embora sempre pequena, tem diminuído ao longo do tempo, oscilando entre 5% (em 1997) e 2% (em 2019), situando-se em 3% nos quatro primeiros meses do ano de 2020. Por outro lado, ao mesmo tempo em que a indústria de transformação tem diminuído sua participação nas exportações, quando o assunto são as importações, sua participação tem aumentado: era de 87% em 1997, chegou ao seu nível mínimo de 82% em 2004 e 2006 e está, atualmente, em 92%.
Vale lembrar que as exportações representam produção realizada aqui no país, gerando ingresso de dinheiro e contribuindo para o crescimento da nossa economia. Já as importações têm o efeito contrário, gerando envio de dinheiro ao exterior. Desta forma, é importante, para entendermos como cada setor, em termos de relacionamento com o exterior, contribui para o crescimento do PIB, olharmos para a diferença entre as exportações e as importações, conceito que é economicamente intitulado de “exportações líquidas”.
No gráfico acima, percebe-se que a agropecuária tem, ao longo do tempo, aumentado substancialmente sua contribuição ao crescimento da economia brasileira quando o assunto são as relações comerciais com o exterior. No período de 2010 a 2019, as exportações líquidas do setor somaram US﹩ 309 bilhões. No mesmo período, a indústria de transformação apresentou exportações líquidas de US﹩ -338 bilhões (sim, valor negativo mesmo), isto é, importou-se mais do que se exportou, na indústria de transformação, US﹩ 338 bilhões.
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